Dan Eldon tinha apenas 22 anos quando foi apedrejado até a morte, na Somália, em 1993. No documentário "Morrendo para contar a história" a irmã dele conta a breve história de sua vida. Seria apenas mais uma tragédia entre tantas que acontecem no mundo se não fosse por um detalhe, Dan era fotográfo da agência Reuters e estava cobrindo a guerra civil na Somália.
Em tempos de guerra é comum que se fale, se pense, se mostre todo sofrimento humano que um conflito desse tipo causa nas pessoas, no povo que esta vivendo, naqueles que desejam a paz, mas e os jornalistas, fotógrafos, toda a equipe que trabalha na cobertura dessas tragédias, o que resta neles depois que voltam a vida normal? Mais do que a vida de Dan, o que se assiste é o que fica ou talvez o que sobra desses profissionais.
O documentário é de uma tristeza tão grande, não só por Dan que era lindo, jovem, idealista, muito mais do que um caçador de tragédias, alguém que tinha um ideal humanitário, mas pelos depoimentos que permeiam a narrativa.
Durante a exibição além das imagens trágicas da guerra, do massacre, da humilhação de um povo brigando por migalhas, Dan aparece quase sempre sorrindo, ainda não tinha a amargura de outros jornalistas que foram entrevistados. Um deles, Donald McCullin, foi especial, era nítida as seqüelas psicológicas que ficaram impressas nele. Durante anos, Donald cobriu as mais diversas guerras e capturou imagens chocantes. Endureceu, ele mesmo reconheceu o quanto isso o afetou e mesmo agora que abandonou as coberturas de guerra, não consegue fazer uma foto que seja cinza, que não traga em si um ar melancólico.
Dan via a si mesmo prestando um serviço público. Tendo crescido na África, ele se preocupava com os famintos e com a guerra civil que matam as pessoas na Somália.
"O que realmente motivava Dan era o fato de que ele estava fazendo a diferença", disse sua irmã. "Lá ele tinha 21 anos e estava fazendo as duas páginas centrais das edições da Time e da Newsweek... Ele era levado pelo fato de que estava verdadeiramente obrigando as pessoas a agir".
A família de Dan mudou-se para Nairobi quando ele tinha apenas 7 anos, começa aí o fascínio dele pela África. Aos 14 anos, ele fez uma excursão que marcaria sua vida, foi a uma tribo Masai e voltou com diversas fotos, artefatos, pedrinhas, plantas e tudo que lhe chamou a atenção. Com esse material, Dan começaria uma série de Diários. Ele era um artista nato, fazia belas colagens e com elas pelas páginas de seus diários, foram 17 ao todo, deu uma visão toda especial da África, seus costumes, sua gente. Talvez por isso a história de Dan chame a atenção, ele não era mais um, não era alguém interessado em boas fotos apenas, ele realmente se preocupava com o povo.
Após a morte de Dan, sua mãe resolveu publicar o livro: The Journey is the Destination - the journals of Dan Eldon
que traz uma seleção das melhores páginas de seus diários.
Em uma das últimas conversas com sua mãe, ela lhe disse: "Danny, você não acha que sua sorte anda fugindo de você? Não é hora de ir embora?" - o fotógrafo respondeu "Não, eu não posso partir agora, eu estou muito envolvido com o que está acontecendo aqui". Foi tudo o que ele disse. Mas suas imagens continuam a falar por ele. Assim como a de muitos jornalistas e fotógrafos que estão cobrindo uma guerra nesse exato momento. No futuro falarão de um ou outro que se destacará, mas as seqüelas, as marcas que cada um desses profissionais trará consigo, estas ficarão para sempre.
Leia: http://www.daneldon.org/
http://www.speculum.art.br/
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