Ironicamente, ela nasceria num dia 08 de março, o Dia Internacional da Mulher. Era bonita e se chamava Maria. Um tipo bem brasileiro, oposto ao padrão anoréxico loiro tão em moda nos dias que correm, fizeram dela uma lenda. Morena, baixinha, perna grossa, cabelos pretos, pra lá de gostosa, Maria viraria a cabeça do Rei do Cangaço e dele seria Rainha.
O certo é que Lampião
Tinha o coração de aço
Beijava qualquer morena
Mas não queria embaraço
Mas vivia apaixonado
Por não haver encontrado
A rainha do cangaço.
Porém um dia feliz
Ele encontrou sua dita
Bem perto de Paulo Afonso
Numa casinha catita
Estava seu grande amor
Uma melindrosa flor
A “tal” Maria Bonita.
(Versos de Antonio Teodoro dos Santos, publicados no folheto de cordel “Lampião, o Rei do Cangaço”)
Maria Bonita casou-se cedo, aos 15 anos com um sapateiro. Vivia as turras com ele, num casamento infeliz e quando a coisa apertava ela corria para a casa dos pais. Foi numa dessas fugas que encontrou Lampião.
O Rei do Cangaço era conhecido de sua família e sempre passava pela fazenda dos pais de Maria Gomes de Oliveira, a Maria Bonita, primeira mulher a participar efetivamente do grupo de cangaceiros. Naquela época as mulheres serviam apenas para cozinhar, cuidar dos feridos e digamos, agradar aos homens, com Maria a coisa foi diferente. Foi paixão à primeira vista e ela não hesitou em abandonar marido, família e uma vida segura para acompanhar até o fim de seus dias, aquele que era considerado o terror em forma de homem por alguns e por outros uma espécie de Robin Hood do nordeste. Especulações à parte, Maria foi companheira de Lampião por oito anos, tiveram uma única filha, Expedita Ferreira, nascida em 1932, única sobrevivente das quatro gestações de Maria Bonita.
Era tratada como mulher do chefe, respeitada pela sua braveza e coragem. De certa maneira, Maria bonita abriria caminho para outras mulheres que acabariam se juntando ao bando por vontade própria ou gosto do cangaceiro, que se agradando de alguma mulher, pegava e levava com ele.
Conta a literatura de Cordel que ao serem alvejados, Maria estava abraçada ao corpo de Lampião, tombaram juntos e ela, não morrendo de imediato foi degolada viva. Terminaria aí a história de Maria Bonita, nem santa, nem puta, apenas uma mulher que fez suas escolhas e seguiu em frente, o que não deixa de ser admirável quando nos dias de hoje muitas mulheres sequer podem escolher o que desejam, o que vestir, como viver.
Feliz Dia Internacional da Mulher.
Leia: http://www.experta.com.br/nos/elas_ousaram.html
http://www.caradobrasil.com.br/artperf/lendas/eracangaco.htm
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