A história de Elizabeth Barret Browning e Robert Browning se adaptada para os tempos atuais poderia muito bem ser um desses romances via Internet: "Nunca te vi, sempre te amei". Que atire o primeiro mouse quem nunca viveu um assim! Foi mais ou menos dessa maneira, a diferença é que na época, a Londres de 1826, os "emails" eram as missivas ou seja as cartas, com timbre, muitas vezes perfumadas, dessas que falei outro dia, que nos filmes a mocinha abraça como se abraçasse o próprio amado.

Elizabeth tinha 39 anos, o que naqueles tempos era uma senhora. Estava enclausurada e semi-inválida. Vivia numa casa senhorial, numa rua calma da Londres vitoriana. A sua vida, na prática, era a de uma prisioneira em casa do seu pai.
Amargurado pela perda da mulher, da fortuna e do filho mais velho, Edward Barret era um tirano para os nove filhos restantes: três raparigas e seis rapazes, tendo chegado ao extremo de proibir que qualquer um deles casasse.

Elizabeth, uma das filhas, para além destas limitações impostas pelo pai, sofria de uma tuberculose óssea que só lhe possibilitava viver num espaço extremamente exíguo. Em 1845, Elizabeth estava há cinco anos confinada a um quarto escuro e fechado, onde permanecia todo o dia deitada, visitada apenas pela família e por alguns amigos permitidos pelo pai.

A sua companhia habitual eram a criada, Wilson, e Flush, o cão de estimação. Excepcionalmente culta, dedicava os seus dias à literatura grega, latina, francesa e alemã, à correspondência com as amigas e, acima de tudo, à criação poética.

Robert Browning, também ele poeta, leu dois livros de poesia de Elizabeth. Ao ler estes livros ele declarou: "Eu amo estes livros de todo o meu coração." Procurou saber a morada da autora e escreveu-lhe, acrescentando "e amo-a a si também". Nessa altura ainda não se conheciam. Ela respondeu-lhe imediatamente, e assim nasceu um dos mais comoventes e dramáticos romances de todos os tempos.

Inicialmente, ela escrevia-lhe, mas recusava-se a vê-lo. Talvez tivesse receio de que o encantamento que pouco a pouco crescia entre ambos, através das cartas, se desvanecesse quando se encontrassem. Elizabeth era doente e não era bonita. Mas, finalmente, face à persistência de Browning, cedeu e, passados cinco meses, a 20 de Maio de 1845, encontraram-se pela primeira vez.

Ninguém sabe o que se passou nesse primeiro encontro. Mas os receios de Elizabeth provaram ser infundados, pois o amor de Browning saiu fortalecido. E também Elisabeth, pouco a pouco, lhe correspondeu. Mas o namoro tinha de manter-se secreto, pois Elizabeth não conseguia libertar-se do temor que sentia do pai.

Com o desabrochar do seu amor, desabrochou também a saúde de Elizabeth. Aventurou-se primeiro a deslocar-se até ao andar de baixo, depois ao exterior. Finalmente, sentiu-se com forças para passear no jardim.

Passou um ano e quatro meses até que Elizabeth ousasse dar o passo irreversível. O casamento realizou-se à pressa, e quase em segredo. Uma semana mais tarde, enquanto a família jantava, Elizabeth, com o seu cão o Flush nos braços para que não ladrasse, fugiu de casa acompanhada pela sua criada Wilson. Encontrou-se com o seu marido e fixando-se em Florença na Itália, aos 43 anos deu à luz um saudável rapaz. Conta a história que Elizabeth faleceu nos braços de Robert.

O interessante nisso tudo é que Robert se apaixonou pela poeta, nem sequer passava pela sua cabeça que ela fosse mais velha, que ela não fosse uma princesa dos grandes salões de festas da época, muito pelo contrário, Elizabeth, além de não ser uma mulher particularmente atraente, era uma senhora para os padrões da época e como se não bastasse, inválida. Mas possuia aquela espécie de beleza que transcende um primeiro olhar, era inteligente, de uma inteligência estimulante, culta e poeta sensível.
Amor? Inevitável. E os anos que se seguiram foram fecundos de poesia.




Soneto


Se tiveres que me amar,
Ama-me por amor do amor somente.
Não digas: "Amo-a pelo seu olhar, seu sorriso,
Seu modo de falar sincero e brando.

Amo-a porque se sente minha alma,
Em constante comunhão com a sua.
E traz uma sensação agradável ao dia".
Porque isso tudo pode mudar, querido; em si mesmo,

Ao perpassar do tempo ou para ti unicamente.
Nem me ames pelo pranto que a bondade de tuas mãos enxuga.
Pois se em mim secar, por teu conforto, esta vontade de chorar,

Teu amor pode ter fim!
Mas ama-me por amor do amor somente.
Que assim conseguirás amar sem fim, por toda a eternidade.

Elizabeth Barret Browning



Leia mais: http://www.humanitiesweb.org/cgi-bin/human.cgi?s=l&p=c&a=b&ID=50
http://www.cswnet.com/~erin/browning.htm

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