"Se você está encantado com um autor, creio que precisaria ter uma imaginação muito estranha e doentia para não querer compartilhar essa sensação.Alguém mais deveria ler isso." Marianne Moore
Estranha era a poeta Marianne Moore. Essa solteirona convicta, e não vamos aqui discutir suas preferências sexuais, era amante do beisebol e de La Fontaine de quem traduziu suas fábulas. Rotulada pelos críticos como uma poeta para poetas por causa de sua poesia extremamente intelectualizada, Marianne não é tão conhecida como merecia. O certo é que ela foi admirada por legiões da nata da poesia norte-americana, exemplo disso foi Eliot que, ao prefaciar os seus Collected Poems, em 51, não lhe poupou elogios. Ao falecer em 07/02/1972, o outrora designado «vulcão solitário», Ezra Pound, agora silencioso, não esqueceu Moore, e mandou rezar uma missa em sua memória, onde leu os versos do belíssimo poema «What Are Years».
Em entrevista, disse sobre o ato de escrever:
- Gostaria de perguntar sobre os princípios e o método de sua escrita. Qual é a base racional por trás dos versos silábicos? Como difere do verso livre, no qual o comprimento do verso é controlado visualmente, mas não aritmeticamente?
"Nunca me ocorreu que o que escrevia pudesse ser definido. Sou governada pela impressão dada pela frase, assim como a queda de um tecido é governada pela gravidade. Gosto de versos com uma pausa no final e não gosto da ordem invertida das palavras; gosto de simetria."
- Como planeja a forma de suas estrofes? Estou pensando nos poemas, geralmente silábicos, que utilizam uma forma repetida de estrofe. Já fez experiências com formas antes de escrever, rabiscando versos em folha de papel?
"Eu nunca "planejo" uma estrofe. As palavras se agrupam como cromossomos, determinando o procedimento. Posso modificar uma disposição ou atenuá-la, e procurar obter estrofes sucessivas, idênticas à primeira. Originalidade inicial espontânea - ou seja, ímpeto - parece difícil de ser reproduzida conscientemente mais tarde. Como Stravinsky dizia acerca do tom: "Se o transponho por alguma razão, corro o risco de perder o frescor do primeiro contato e terei dificuldade em recapturar sua atratividade". Não, nunca "rabisco versos". Evidencio a rima, para poder percebê-la com uma olhada rápida, sublinhando-a em vermelho, azul ou outra cor - tantas cores quantas forem as rimas. No entanto, se as expressões redundam em uma arquitetura muito incoerente, como num texto impresso, noto que as palavras não soam bem. Posso começar um poema, achá-lo obstrutivo, não encontrar uma saída e abandoná-lo por um ano, ou vários; sou parcimoniosa. Procuro salvar tudo que pareça promissor e anotar em uma caderneta."
Fonte: Os Escritores 2: As históricas entrevistas da Paris Review. S.Paulo: Cia. das Letras. 1989.( Entrevistador: Donald Hall. Novembro de 1960)
É dela uma das melhores definições de Literatura, segundo Hélio Pólvora, no que modestamente concordo: "Um jardim fictício habitado por sapos de verdade".
Estranha era a poeta Marianne Moore. Essa solteirona convicta, e não vamos aqui discutir suas preferências sexuais, era amante do beisebol e de La Fontaine de quem traduziu suas fábulas. Rotulada pelos críticos como uma poeta para poetas por causa de sua poesia extremamente intelectualizada, Marianne não é tão conhecida como merecia. O certo é que ela foi admirada por legiões da nata da poesia norte-americana, exemplo disso foi Eliot que, ao prefaciar os seus Collected Poems, em 51, não lhe poupou elogios. Ao falecer em 07/02/1972, o outrora designado «vulcão solitário», Ezra Pound, agora silencioso, não esqueceu Moore, e mandou rezar uma missa em sua memória, onde leu os versos do belíssimo poema «What Are Years».
Em entrevista, disse sobre o ato de escrever:
- Gostaria de perguntar sobre os princípios e o método de sua escrita. Qual é a base racional por trás dos versos silábicos? Como difere do verso livre, no qual o comprimento do verso é controlado visualmente, mas não aritmeticamente?
"Nunca me ocorreu que o que escrevia pudesse ser definido. Sou governada pela impressão dada pela frase, assim como a queda de um tecido é governada pela gravidade. Gosto de versos com uma pausa no final e não gosto da ordem invertida das palavras; gosto de simetria."
- Como planeja a forma de suas estrofes? Estou pensando nos poemas, geralmente silábicos, que utilizam uma forma repetida de estrofe. Já fez experiências com formas antes de escrever, rabiscando versos em folha de papel?
"Eu nunca "planejo" uma estrofe. As palavras se agrupam como cromossomos, determinando o procedimento. Posso modificar uma disposição ou atenuá-la, e procurar obter estrofes sucessivas, idênticas à primeira. Originalidade inicial espontânea - ou seja, ímpeto - parece difícil de ser reproduzida conscientemente mais tarde. Como Stravinsky dizia acerca do tom: "Se o transponho por alguma razão, corro o risco de perder o frescor do primeiro contato e terei dificuldade em recapturar sua atratividade". Não, nunca "rabisco versos". Evidencio a rima, para poder percebê-la com uma olhada rápida, sublinhando-a em vermelho, azul ou outra cor - tantas cores quantas forem as rimas. No entanto, se as expressões redundam em uma arquitetura muito incoerente, como num texto impresso, noto que as palavras não soam bem. Posso começar um poema, achá-lo obstrutivo, não encontrar uma saída e abandoná-lo por um ano, ou vários; sou parcimoniosa. Procuro salvar tudo que pareça promissor e anotar em uma caderneta."
Fonte: Os Escritores 2: As históricas entrevistas da Paris Review. S.Paulo: Cia. das Letras. 1989.( Entrevistador: Donald Hall. Novembro de 1960)
É dela uma das melhores definições de Literatura, segundo Hélio Pólvora, no que modestamente concordo: "Um jardim fictício habitado por sapos de verdade".
andrea augusto©angelblue83 - biografia de sites e livros com inserções minhas.
Leia: http://www.capivara.com/misterios/como/comoescrevo.htm#moore
http://www.poets.org/poets/poets.cfm?45442B7C000C0F02
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