"O tango, essa diabrura,
os atarefados anos desafia,
feito de pó e tempo o homem dura
menos que a leve melodia
que só é tempo..."

Borges






Anos 70, uma sensação de liberdade no ar, pílula, soutiens queimados e um filme. Na verdade uma ousadia de Bernardo Bertolucci. "O último tango em Paris", ousadia que os tacanhos moralistas chamaram de pornográfico, obsceno e que ainda hoje causa espanto.
Não o espanto pela famosa cena da manteiga, afinal sexo anal é feito a rodo pelas mocinhas burguesas com opções que vão de lubrificantes a própria manteiga, sem maiores problemas. É no seu clima intimista, atmosfera sufocante de um apartamento vazio onde um casal improvável se encontra e, sem dizerem os nomes, conversam, transam, brigam e procuram um sentido para suas vidas. Ele, Marlon Brando, está em crise porque a mulher acaba de cometer suicídio, sem deixar qualquer explicação. Ela, Maria Schneider, está em crise porque não sabe se o futuro que deseja para si é um casamento com um jovem cineasta. Para ele, o mundo acabou; para ela, está começando. Para ele, as coisas perderam o sentido; para ela, os sentidos ainda são muito complicados. Entre estes dois seres tão diferentes, há apenas uma ponte: o sexo.






"Vou falar-lhe de segredos de família, essa sagrada instituição que pretende incutir virtude em selvagens. Repita o que vou dizer: sagrada família, teto de bons cidadãos. Diga! As crianças são torturadas até mentirem. A vontade é esmagada pela repressão. A liberdade é assassinada pelo egoísmo. Família, porra de família!"


Com essa fala e um tablete de manteiga, Bertolucci, abre as portas de todos os quartos, desvenda segredos, joga na cara falsos pudores. Levanta questões e ultrapassa limites.
No filme todas as cenas são necessárias, nada esta fora do lugar, é perfeito e a atuação de um Brando atormentado é digna da posteridade que obteve. O que faz a diferença é o espectador, olhos que enxergam além das cenas, as nuances, entrelinhas, tudo que não é dito, tudo que a nudez parcial escancara, diz e mostra. Aos olhos desse espectador, "O último tango em Paris" é só o começo.

Em tempo, está em cartaz no Telecine Emotion, da Net nos dias: 18/03 às 19:45 e 27/03 às 19:45. Arrisquem-se...

Comentários

Anônimo disse…
Que o filme seja bom tudo bem, mas ele não me fisgou, não me pegou, entende, até compreendo tudo o que você diz,não é o filme da minha lista de preferencia, entende, não nego o valor dele, tem o seu valor na história cinematrográfica, mas...

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