Conheci a história da vida dessa mulher atravês do modo como ela morreu. Lembro que a primeira coisa que li sobre ela, antes de conhecer a pessoa fascinante que foi, era uma matéria que dizia: ...morreu estrangulada pela própria écharpe, que se prendeu numa das rodas do carro em que estava, em Nice. A príncipio ri, né? Quem usaria uma echarpe gigantesca que fosse capaz de enroscar -se nas rodas de um carro provocando-lhe a morte??? Quem? Isadora Duncan, a bailarina que reinventou a dança.

A bailarina e coreógrafa americana Isadora Duncan foi pioneira da dança moderna, criando coreografias inspiradas na arte clássica grega. Além de ter revolucionado a dança, lutou pelo direito das mulheres na virada do século XX. Ela foi a primeira bailarina a dançar descalça e completava os movimentos com echarpes coloridas jogadas sobre os ombros. Também ousou dançar músicas de grandes compositores, então só tocadas em concertos e recitais. Essa fascinante mulher, nascida no dia 27/05/1877 viria para reinventar o balé.

Hoje em dia é natural que uma bailarina dance com vestes transparentes como um ninfa, descalça, que crie seus próprios movimentos inspirada por um sensiblidade aguçada, mas em se tratando da América de 1907, era de uma ousadia ímpar.
Isadora foi a bailarina que odiava o balé. Chegou a escrever mais tarde: "Sou inimiga do balé, o qual considero arte falsa e absurda, que de fato está de fora de todo o âmbito da arte". Detestava sapatilhas e malhas, por isso dançava descalça, sempre com uma túnica esvoaçante sobre sua silhueta esguia. Para Isadora, corpo e natureza eram uma coisa só. Por isso, além de inspirar-se na Grécia antiga, inspirou-se também no mar. Escreveu em seu diário que tentava imitar o ritmo das ondas.




"Aprendi a andar; desde então, deixo-me correr, aprendi a voar, desde então não preciso mais que me empurrem para mudar de e lugar. Agora sou leve, agora eu vôo... agora um deus dança em mim."
Isadora Duncan




Isadora desprezava o casamento, jamais se casou e teve vários amantes. Além da dança, Isadora dedicou-se também ao ensino. Fundou, com sua irmã Elisabeth em Berlim, sua primeira escola onde passou adiante seus princípios. Bastante empolgada com os ideais da revolução soviética, abriu também uma escola em Moscou em 1921.





A vida de Isadora parecia um conto de fadas, era uma mulher livre, fazia o que amava e dançava como queria, teve grandes paixões, dispertou outras tantas, mas como parece a sina das grandes vidas pagou um preço alto por isso.
Teve dois filhos, um com o ator, encenador e cenógrafo inglês, Eduard Gordon Craig e outro com o poeta soviético Serge Essenin. No livro "Minha vida", sua biografia, ela descreve as crianças como pequenos anjinhos de cachos loiros e o acidente que os matou dilacerando sua vida. Acabado o almoço as crianças iriam com a governanta para casa, Isadora ficaria no estúdio para ensaiar, despediu-se de Deirdre e Patrick, seus filhos, diante do carro. Ainda momentos antes de partir, Deirdre encostou seus lábios na janela embaçada pelo frio e recebeu um beijinho de sua mãe. Despediram-se e essa seria a última vez que os veria. Naquele mesmo dia as crianças morreriam afogadas, quando o automóvel em que iam caiu no rio Sena, Paris, França.

Por muito tempo Isadora dizia escutar suas vozes pela casa, suas risadas e passos. Nos dias seguintes, fechou-se em casa. Não recebia visitas. Só saía do estúdio de Neuilly para caminhar ao longo do Sena. Seus irmãos a visitavam e um deles Raymond convenceu-a a ir com ele e a esposa para a Albânia, a fim de ajudar refugiados gregos. Foram para Corfu.

A miséria imperava no campo de refugiados. Isadora viu homens, mulheres e crianças morrerem de fome. Esquecendo seu sofrimento, empregou seu dinheiro levantando tendas e comprando alimentos e medicamentos. Ela e Raymond organizaram um centro de tecelagem onde os refugiados conseguiam ganhar um dracma por dia.

Tempos depois outra tragédia se abateria sobre ela, o poeta soviético com quem vivia na época enforcou-se com a correia de sua mala. No dia anterior, escreveria um poema com o próprio sangue, que terminava assim:

" Não há nada de novo no morrer,
Mas o que há de novo no viver?"



Ela nutria-se da dança para sobreviver e foi assim que deu continuidade a sua vida até o dia 14 de setembro de 1927. Quando entrou no carro e ajeitou o xale que lhe cobria o pescoço. O motorista girou a manivela e instalou-se no lugar do piloto. O veículo deslizou. O xale de Isadora dançava ao vento. Alguns metros adiante, as franjas do xale prenderam-se na roda. A cabeça de Isadora foi lançada para trás e a nuca foi quebrada. Morreu estrangulada.
Terminava assim a vida da bailarina Isadora Duncan, a ninfa que deslizava descalça pelos palcos do mundo.



leia mais: http://www.dunia.com.br/inspiracao/isadora.htm
http://www.revistaetcetera.com.br/06/teatro/duncan1.htm

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