Como definir maturidade emocional? Flavio Gikovate
Como definir maturidade emocional?
Penso que a maturidade emocional se
caracteriza pelo atingimento de um estado evolutivo no qual nos
tornamos mais competentes para lidar com as dificuldades da vida e
por isso mesmo com maior disponibilidade para usufruir de seus
aspectos lúdicos e agradáveis.
Talvez a principal característica da
pessoa madura esteja relacionada com o desenvolvimento de uma boa
tolerância às inevitáveis frustrações e contrariedades a que
todos nós estamos sujeitos. Tolerar bem frustrações não significa
não sofrer com elas e muito menos não tratar de evitá-las. A boa
tolerância às dores da vida implica certa docilidade, capacidade de
absorver os golpes e mais ou menos rapidamente se livrar da tristeza
ou ressentimento que possa ter sido causado por aquilo que nos
contrariou.
Pessoas maduras também se aborrecem
com as frustrações, mas não “descarregam” sua raiva sobre
terceiros que nada têm a ver com o que lhe ocorreu. Freud dizia que
a maturidade se caracterizava pela substituição da raiva pela
tristeza e penso que ele tinha razão. Acrescentei mais um
ingrediente, qual seja, o de que devemos tratar de nos livrar da
tristeza o mais depressa possível.
A maturidade emocional tem muito a ver
com o que, hoje em dia, se chama de inteligência emocional (I.E.):
competência para se relacionar com pessoas em todos os ambientes,
habilidade para evitar conflitos desnecessários e até mesmo tentar
harmonizar interesses e agir sempre em prol da construção de um
clima positivo e agradável nos ambientes que frequenta. Assim, a
pessoa mais amadurecida busca também a evolução moral, condição
que a leva a agir de modo equânime, atribuindo a si e aos outros
direitos e deveres iguais.
Pessoas com boa I.E. também agem com
certa estabilidade de humor, de modo que não são criaturas “de
lua”, aquelas que nunca se pode saber com antecipação em que
estado de humor estarão. É claro que a estabilidade de humor não
significa estar sempre alegre e feliz; o humor das pessoas mais
equilibradas é proporcional ao que está lhes acontecendo, sendo que
os momentos de tristeza são vividos com dignidade e classe.
As pessoas mais tolerantes a
frustrações, moralmente mais bem desenvolvidas e de humor estável
são capazes de despertar a confiança daqueles que com elas
convivem. Assim, tornam-se bons parceiros sentimentais, bons amigos,
sócios, colegas de trabalho…
A maturidade acaba vindo acompanhada de
uma série de boas propriedades e elas são motivo de satisfação
dos que foram capazes de avançar na direção de conquistá-la. É
claro que o processo de evolução é interminável e jamais
deveríamos nos considerar como um “produto acabado”; estar
sempre progredindo tende a determinar um estado de alma positivo, um
justo otimismo em relação ao futuro – sim, porque quem está
crescendo pode esperar mais coisas boas para si lá adiante.
Outra característica da maturidade é
o senso de responsabilidade sobre si mesmo, assim como o
desenvolvimento de uma sólida disciplina: isso significa controle
racional sobre todas as emoções, especialmente a preguiça. Uma
razão forte também exerce controle e administra a inveja, os
ciúmes, os anseios eróticos e românticos, assim como a raiva e a
agressividade. Controlar não significa reprimir e muito menos sempre
deixar de agir de acordo com as emoções; significa apenas que elas
passam pelo crivo da razão e só se tornam ação quando por ela
avalizadas. Esse é mais um motivo para que sejam criaturas
confiáveis, uma vez que exercem adequado domínio sobre si mesmas.
Os mais evoluídos emocionalmente
tentem a ser mais ousados e a buscar com determinação a realização
de seus projetos. Têm menos medo dos eventuais – e inevitáveis –
fracassos, pois se consideram suficientemente fortes para superar a
dor derivada dos revezes. Ao contrário, aprendem com seus tombos,
reconhecem onde erraram e seguem em frente com otimismo e coragem
ainda maior. Costumam ter melhores resultados do que aqueles mais
ponderados e comedidos, condição que não raramente esconde o medo
do sofrimento próprio dos que enfrentam os riscos.
Finalmente, para que possamos viver com
serenidade e alegria, temos que aceitar uma propriedade essencial da
nossa condição: somos governados pelo que chamo de “princípio da
incerteza”; ou seja, não sabemos responder as questões essenciais
que caracterizam nossa existência: qual o sentido da vida, de onde
viemos, para onde vamos, por quanto tempo estaremos aqui etc. É
sobre esse solo de areia movediça que temos que construir nosso
castelo e fazê-lo com otimismo e persistência mesmo sabendo que ele
pode ruir a qualquer momento.
"Amar e ser correspondido não é
idealização e nem postura infantil. Amar sem ser amado é covardia;
e ser amado sem amar, mais covardia ainda." Flávio Gikovate
Comentários