Hoje no dia do aniversário de morte de Otto Lara Resende, vou deixar por aqui, não uma daquelas biografias assépticas, prefiro o Otto das frases que o marcaram, do texto espirituoso e alegre. Grande figura que detestava comemorar aniversários ( somos dois, também não gosto, rss).
O homem que certa noite recebeu o telefonema do grande amigo, Nelson Rodrigues, perguntando-lhe: “Otto, você é o maior talento verbal deste país. Por que não abre uma loja de frases, para que elas retribuam um pouco do que lhe devem?”. Aceita a sugestão, Nelson escreve que, certo dia, foi à “Loja das frases” e ficou surpreso com a quantidade de fregueses. Era o Otto faturando adoidado.
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Frases de Otto Lara Resende:
Positivamente, não posso ser apresentado a Satanás: como André Gide, sofro a tentação de entender as razões do adversário.
Tenho para mim que sei, como todos os brasileiros, os três primeiros minutos de qualquer assunto.
Quem me garante que Jesus Cristo não estaria hoje na estatística da mortalidade infantil?
Todo mundo que cruzou comigo, sem precisar parar, está incorporado ao meu destino.
Intelectual na política é quase sempre errado. É sempre errado. A práxis não deixa espaço para pensar; pensar é muito sutil, enrascado, complexo, multiplica as alternativas.
Sou jornalista, especialista em idéias gerais. Sei alguns minutos de muitos assuntos. E não sei nada.
Sou um sobrevivente sob os escombros de valores mortos.
Devemos a Graham Bell o fato de estarmos em qualquer lugar do mundo e alguém poder nos chatear pelo telefone.
Hoje eu reúno duas condições que em princípio se excluem: sou careca e grisalho. (Ao fazer 60 anos).
Sou leitor atento da página fúnebre. Tem mais gente conhecida nossa do que a coluna social.
A morte é, de tudo na vida, a única coisa absolutamente insubornável.
As frases acima foram extraídas do livro "Otto Lara Resende: a poeira da Glória", de Benício Medeiros, editora RelumeDumará - Rio de Janeiro, 1998, pág. 137.
"Uma criança vê o que um adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que de tão visto ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher. Isso exige às pampas. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos.
É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença".
Com pouco mais de 70 anos, morreu, dia 28 de dezembro de 1992, três dias antes do Ano Novo - e, portanto, há dez anos, que se completam justamente hoje. Entre o dia em que entrou no Hospital e o dia em que morreu, medearam apenas três semanas, surpreendendo todos os amigos.
Para a sua sepultura, Fernando Sabino chegou a sugerir o seguinte, rimado e curto epitáfio: “Aqui, jaz Otto Lara Resende./ Mineiro ilustre, mancebo guapo./ Deixou saudade, isto se entende./ Pudera! Passou 70 anos batendo papo”.
fonte: o globo
leia mais: http://www.releituras.com/olresende_bio.asp
http://www.aleph.com.br/kce/artigo13.htm
"Ele parece não ter noção de seu poder. Para mim que penetro no segredo de meu coração, fica claro que até hoje não escrevi uma só linha que ele não tenha inspirado. Não vejo nada, não ouço nada, sem imediatamente pensar: O que diria ele?
Abandono minha emoção e conheço apenas a sua. Parece-me mesmo que, se ele não estivesse aqui para me definir, minha própria personalidade se desfaria em contornos vagos; não me reúno nem me defino, senão em torno dele. Por qual ilusão pude acreditar até hoje que o formava a minha semelhança? Ao passo que, ao contrário, era eu quem me dobrava a sua, e não me apercebia! Ou melhor: por um estranho cruzamento de influências amorosas, nossos dois seres, reciprocamente, se deformavam.
Involuntariamente, inconscientemente, cada um de dois seres que se amam molda àquele ídolo que contempla no no coração do outro... "
Andre Gide - livro Moedeiros Falsos
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