Quem fala de mim tem paixão
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Devenir, devir
Término de leitura
de um livro de poemas
não pode ser o ponto final.
Também não pode ser
a pacatez burguesa do
ponto seguimento.
Meta desejável:
alcançar o
ponto de ebulição.
Morro e transformo-me.
Leitor, eu te reproponho
a legenda de Goethe:
Morre e devém
Morre e transforma-te.
Waly Salomão
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Verborrágico, por vezes polêmico e até contraditório, Waly marcaria para sempre a cena poética com o excelente livro: "Me segura qu’eu vou dar um troço" lançado em 1971. Os poemas presentes no título de estréia foram escritos durante a temporada na prisão, rabiscados na cela que ocupava no Carandiru.
Acredita que a poesia tenha função transformadora?
É alguma das funções. Eu sempre tenho medo de pomposidade. Acho que a função da poesia não pré-existe ao que você vai fazendo no mundo. O que não se pode aceitar é um mundo constituído e anti-poético e o poeta ficar em um nicho. Tem que abrir brechas, mixigenar. Mesmo que volte para casa como um animal abatido, “um animal ferido”, sem reciprocidade, sem retorno, sem nada. Você tem que continuar batendo nos diversos lugares. Tem que ser corajoso e estar sempre experimentando.
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Amante da Algazarra
Não sou eu quem dá coices ferradurados no ar.
É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto.
É ela !!!
Todo mundo sabe, sou uma lisa flor de pessoa,
Sem espinho de roseira nem áspera lixa de folha de figueira.
Esta amante da balbúrdia cavalga encostada ao meu sóbrio ombro
Vixe!!!
Enquanto caminho a pé, pedestre -- peregrino atônito até a morte.
Sem motivo nenhum de pranto ou angústia rouca ou desalento:
Não sou eu quem dá coices ferradurados no ar.
É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto
E se apossou do estojo de minha figura e dela expeliu o estofo.
Quem corre desabrida
Sem ceder a concha do ouvido
A ninguém que dela discorde
É esta
Selvagem sombra acavalada que faz versos como quem morde.
Waly Salomão
Como surgiu o poeta Waly Salomão?
Sempre tive esse sonho. Quando estava na escola primária, pedi a minha mãe um bolo de aniversário em forma de livro. Desde que me entendo por gente já me entendo traça de livro. Na mudança da infância para a adolescência ia diariamente à biblioteca de Jequié. Minha irmã falou que hoje a biblioteca é muito ruim porque muitos livros foram roubados. Tenho cadernos – claro que ridículos – do tempo de adolescente em que fazia pequenas resenhas de filmes e livros. Eu lia muito, era comum na minha família, minha mãe sempre leu muito — hoje está com problema de vista. Ela diz que é uma espécie de ética, de caldo cultural. Minha mãe conversava sobre “Guerra e paz,” de Tolstói com os filhos mais velhos, uma irmã e um irmão, como se discute novela de TV, com paixão, com intensidade. Quando saiu “Gabriela Cravo e Canela,” lá em casa tinha três volumes. É um livro maravilhoso. Portanto eu era traça de livro, roía livro. Leio até hoje sem parar.
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já não me habita mais nenhuma utopia. animal em extinção,
quero praticar poesia
–a menos culpada de todas as ocupações.
Waly Salomão
E é do filho poeta, Omar, o poema abaixo, feito pela ocasião da morte do pai.
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Brusco movimento
E como num truque de mágica
A vida se esvai.
Indefeso e aflito
O vazio rasga-me as entranhas
e delas faço poesia.
Vocifero em vão
O som não mais se propaga
Em meu peito.
Omar Salomão
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Comentários
Nossa... e pensar que já se passaram 5 anos...
Bom, antes que eu fique saudoso de outras coisas, vou nessa.
Beijo pra ti, querida! :D
Waly é o máximo. Um poeta e tanto! Se puder se aprofundar, acho que vc vai gostar.
bjimmm querido
joao