A morte chega primeiro aos olhos...
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Vendo as últimas fotos de Marilyn Monroe entendi que a morte chega primeiro aos olhos.
Cada imagem ali retrata não uma mulher que morreria tempos depois, mas sim uma mulher que já estava morta.
Aqueles olhos de uma infinita tristeza dão mesmo vontade de chorar, porque eram um pedido de socorro último. Um chamamento, uma solidão infinita repleta de pessoas que a idolatravam.
Morrer antes mesmo de ir embora, é o mais terrível que pode acontecer a alguém. Nos olhos um vazio, um sem sentido que não enxerga futuro algum.
Até o dia que vi suas últimas fotos nunca duvidei que a morte dela pudesse ter sido obra de outros. Bobagem, Marilyn já tinha morrido muito antes daquele dia. Seus olhos eram olhos mortos, assustadoramente vazios, sem expressão que não a de uma solidão tão profunda que a morte em si seria apenas conseqüência.
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"O olho abraça a beleza do mundo inteiro. É janela do corpo, por onde a alma especula e frui a beleza do mundo. O que há de admirável no olho é que através dele – de um espaço tão reduzido – seja possível a absorção das imagens do universo. De sorte que esse órgão – um entre tantos- é a janela da alma, o espelho do mundo." (Leonardo da Vinci)
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Olhos mortos
Algum dia esses olhos que beijavas tanto
Numa carícia sem mistérios
Olharão para o céu e pararão.
Nesse dia nem o teu beijo angelizante
Poderá novamente despertá-los.
A luz que lhes boiava nas pupilas
Tu a verás talvez na face magra
Do Cristo prisioneiro entre as mãos crispadas.
Eles serão brancos - a imagem desse céu alto e suspenso
Que foi a sua última visão.
Eles não te dirão mais nada.
Não te falarão aquela linguagem extraordinária
Que te repousava como uma música longínqua.
Não olharão mais nada que uma distância qualquer, longe
Uma distância que nem tu nem ninguém saberá qual é.
Eles estarão abertos, compreensivos da morte, parados
Nem tu conseguirás mais despertá-los.
E eu te peço - tu que tanto amavas repousá-los
Com a luz clara do teu olhar sem martírios -
Não os prendas à angústia triste do teu pranto.
Silêncio... silêncio... Beija-os ainda e vai...
Deixa-os fitando eternamente o céu.
Rio de Janeiro, 1933 - Vinícius de Moraes.
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