"No Banquete de Platão, a profetisa Diotima de Mantinéia resaltou para Sócrates, com a sincera aprovação deste, que 'o amor não se dirige ao belo, como você pensa; dirige-se a geração e ao nascimento do belo'. Amar é querer 'gerar e procriar', e assim o amante 'busca e se ocupa em encontrar a coisa mais bela na qual possa gerar'. Em outras palavras, não é ansiando por coisas prontas, completas e concluídas que o amor encontra o seu significado, mas no estímulo a participar da gênese das coisas. O amor é afim à transcendência; não é senão outro nome para o impulso criativo e como tal carregado de riscos, pois o fim da criação nunca é certo."
Amor Líquido - Zigmunt Bauman
"Quero que o meu amor te seja leve como se dançasse numa praia uma menina."
Lya Luft, in Canção do Amor Sereno
"(...) então sim pedi com os olhos que voltasse a me pedir e então me pediu e eu queria dizer sim minha flor da montanha e primeiro abracei-o e o trouxe para cima de mim para que pudesse sentir meus seios todos os perfumes sim e o coração que batia igual um louco e sim eu disse sim quero. Sim."
Amor
Talvez seja verdade que não existimos enquanto não houver quem veja que nós existimos, que não falamos enquanto não houver quem ouça o que estamos a dizer, no fundo, não estamos completamente vivos enquanto não formos amados.
Poucas coisas são tão estimulantes e simultaneamente aterrorizadoras como saber que somos o objecto do amor de alguém, já que para quem não está completamente convencido de que merece ser amado, ser alvo de carinho é como receber uma grande honra sem perceber bem porquê.
Assim que se resolve descobrir sinais de atração mútua, tudo o que o ser amado diz ou faz pode ser interpretado como significando praticamente o que se quiser.
Só nos apaixonamos quando não sabemos por quem estamos apaixonar-nos.
Se nos apaixonamos com tanta rapidez, talvez seja porque a vontade de amar precede o objeto do amor.
Apaixonamo-nos na esperança de não encontrarmos no outro aquilo que sabemos existir em nós - covardia, fraqueza, preguiça, desonestidade, acomodação e estupidez.
Alain de Botton -" Ensaios sobre o amor"
Diálogo entre Hélio Pellegrino e Clarice Lispector.
CL: Hélio, diga-me agora, qual a coisa mais importante do mundo?
"De que natureza, era então, este amor?"
Em primeiro lugar, é uma experiência a dois, mas isto não quer dizer que seja uma a mesma coisa pra cada um. Há o que ama e o que é amado, e estes dois eram diferentes como o dia da noite. Muitas vezes o amado é apenas um estímulo para todo o amor acumulado, durante todo o tempo e até àquele momento, pelo amante. De algum modo, cada amante sabe que é assim. Sente no seu íntimo que seu amor é solitário. Depois, conhece uma nova e estranha solidão, que o faz sofrer ainda mais. De qualquer maneira só lhe resta fazer uma coisa. Deve abrir-lhe dentro de si, o melhor que puder, este amor; deve criar um mundo só seu, intenso e único. Diga-se ainda que este amante de que se fala agora, não precisa, necessariamente, de ser jovem nem destinado ao casamento - pode ser homem, mulher, criança, uma qualquer criatura terrena. E quanto ao amado, também pode ser de qualquer espécie ou natureza. O estímulo do amor pode ser provocado pelo ser mais díspar ou exótico. Um homem pode ser avô e decrépito e ainda amar uma rapariga que viu, uma tarde, nas ruas de Cheeehaw, há mais de vinte anos. o pregador pode apaixonar-se pela mulher perdida. O ser amado pode ser pérfido, ter o cabelo oleoso ou maus hábitos. Sim, e o amante pode ver isto também como qualquer outra pessoa, sem que isso afete o seu amor. A pessoa mais insignificante pode ser objeto de um amor selvagem, extravagante e belo como os lírios venenosos do pântano. Um homem normal pode estimular um amor ao mesmo tempo violento e humilhante, como um louco pode provocar na alma de outra pessoa um idílio simples e terno. Portanto, o amor e a qualidade do amor é decidido apenas pelo próprio amante. É por esta razão que muitos preferem amar a ser amados. Quase toda a gente quer ser amante. E a verdade nua e crua é esta: no íntimo, o fato de ser amado é intolerável para muita gente. O amado teme e odeia o amante, e pela melhor das razões. O amante quer sempre mais e intensamente ao seu amado, ainda que isto lhe cause somente dor.
Carson Mc Cullers, em Balada do Café Triste.
“Aquele que conheceu apenas a sua mulher, e a amou,
sabe mais de mulheres do que aquele que conheceu mil."
Leon Tolstoi
"Você já amou? É horrível, não? Você fica tão vulnerável. O amor abre o seu peito e abre o seu coração e isso significa que qualquer um pode entrar em você e bagunçar tudo. Você ergue todas essas defesas. Constrói essa armadura inteira, durante anos, para que nada possa lhe causar mal. Aí uma pessoa idiota, igualzinha a qualquer outro idiota, entra em sua vida. Você dá a essa pessoa um pedaço seu, e ela nem pediu. Um dia, ela faz alguma coisa besta como beijar você ou sorrir, e de repente sua vida não lhe pertence mais. O amor faz reféns. Ele entra em você. Devora tudo que é seu e lhe deixa chorando na escuridão. E então uma simples frase como "talvez devêssemos ser apenas amigos" se transforma em estilhaços de vidro rasgando seu coração. Isso dói. Não só na sua imaginação ou mente. É uma dor na alma, uma dor no corpo, é uma verdadeira dor-que-entra-em-você-e-o-destroça-por-dentro. Nada deveria ser assim, principalmente o amor.
“Odeio o amor" - Neil Gaiman.
O amor possui uma temporalidade mais longa, enquanto que a paixão é imediata.
"A paixão diz respeito a objetos parciais, como um jeito, um cheiro, um par de pernas" diz Katz.
O sujeito apaixonados se expande, e com isso invade o terreno daquele que é objeto de sua paixão.
O sentido de alteridade se vê comprometido com a experiência, já que o "eu" e o "outro" se confundem.
Diz ainda Katz: "nós não temos ciúmes; é ele, este sentimento, que nos tem".
Fragmentos 107
"Sou daquelas almas que as mulheres dizem que amam, e nunca reconhecem quando encontram, daquelas que, se elas as reconhecessem, mesmo assim não as reconheceriam. Sofro a delicadeza dos meus sentimentos com uma atenção desdenhosa. Tenho todas as qualidades, pelas quais são admirados os poeta românticos, mesmo aquela falta dessas qualidades, pela qual se é realmente poeta romântico. Encontro-me descrito (em parte) em vários romances como protagonista de vários enredos; mas o essencial da minha vida, como da minha alma, é não ser nunca protagonista."
Fernando Pessoa
O amor é cego, mas nem tanto...
Já ouvi dizer que o melhor para casar, é uma pessoa igualzinha à gente. Já ouvi também, o contrário. Que o melhor é alguém bem diferente, para agir como um elemento complementar.
Já li uma pesquisa, feita por computador, mostrando como as pessoas se escolhem por semelhança. E já encontrei, pela vida, um sem número de casais, bem casados, ditos cheios de diferenças.
Entretanto, responda depressa: o que é alma gêmea? Se respondeu "uma alma igualzinha à da gente", errou. Acertou se disse "aquilo que todos procuram". Errou na primeira hipótese porque uma alma igualzinha à da gente não existe.
Se compararmos almas, ditas gêmeas, entre si, veremos que não são forçosamente parecidas uma com a outra.
Basta que uma alma nos tangencie naqueles pontos mais sensíveis - os que consideramos constitutivos de nossa personalidade - para dizermos que ela é nossa alma gêmea.
Aqueles que se casam considerando-se idênticos descobrem, com o passar do tempo, a limitação desta identidade. E aqueles que se casam atraídos pelas diferenças, surpreendem-se adiante, por serem tão mais semelhantes do que imaginavam. O mecanismo é óbvio. Na hora da escolha, aquilo que mais nos atrai no outro nos torna cegos para o resto.
Gradativamente, porém, recuperamos a visão, nosso olhar se faz mais abrangente e passamos a ver nosso parceiro em sua totalidade. Passamos a perceber então aqueles pontos que havíamos ignorado porque não nos tocavam diretamente.
Com o tempo também, já estabelecida a convivência, e superado o medo inicial da entrega, estamos em condições de descartar o artifício da alma gêmea. Não só começamos a conhecer de fato o outro, como passamos para um estágio em que, atribuindo-lhe defeitos que antes não víamos, fazemos questão de não nos identificarmos com eles. O que é importante agora são as diferenças.
Quando você acha que entendeu tudo e pára de prestar atenção na canoa, cuidado, que ela pode virar.
Você é uma pessoa com quinze anos, outra com vinte, uma terceira com trinta e assim por diante.
Idem com os outros. Inclusive com aquele que você escolheu para ser seu parceiro porque era tão igual a você. Ou diferente. E que possivelmente , com o passar do tempo, deixou de ser uma coisa ou outra.
O problema é em que direção a gente está mudando, e se esta direção serve ao parceiro.
Não é nada que se possa realmente controlar. Ou que se deva controlar. Dá para se ter um jogo de cintura, negociar um tanto, operar com um pouco de estratégia. O que não se pode é apelar para o gesso, tentar imobilizar, para garantir.
A mudança tem sua graça. É dele que um bom casamento vive e se alimenta. Quando dá certo, costumamos chamá-lo renovação. Mas também pode virar desgraça. É quando o casamento se torna mau, nos envenena.
E voltamos à estaca zero, à pergunta mais óbvia: o que contém menos risco, escolher um parceiro parecido ou diferente de nós?
O risco está em escolher alguém, seja quem for. Mas é um daqueles riscos que vale a pena correr, assim como todos os dias escolhemos o risco de viver. Isto posto, temos uma série de possibilidades a considerar. O ideal seria escolher alguém, não pelo que é em relação a nós, mas pelo que é em relação a si mesmo. Teoricamente fica lindo.
Na prática é dificílimo. Simplifiquemos. O melhor é escolher alguém pelo que representa como pessoa e não como espelho para você. Tendo em vista que, passados os primeiro meses de cegueira, é com a pessoa que vamos ficar, não com o espelho, me parece uma estratégia bastante razoável. Dentro de um conceito mais prático, prefiro um máximo de semelhanças nos pontos básicos e, no resto, o que Deus quiser.
Pontos básicos são aqueles sobre os quais não estamos dispostos a transigir e sem os quais não conseguiríamos sequer nos reconhecer. São aqueles pontos que nos definem.
Mas uma coisa é inquestionável: seja qual for a escolha, não pode ser feita às custas da individualidade de nenhum dos parceiros.
Marina Colassanti
* Esse post é pra você amor.
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