"Nós sempre teremos Paris".
Teremos Paris, a serra, aquela música que teima em tocar, um cheiro ou um entardecer. Ou pior, quando tudo isso já passou e o coração ficou ali, impermeável, sem contato manual, a espera...do que?
Leminski
Meu coração lá de longe
faz sinal que vai voltar
mas meu peito escreve em bronze
não há vaga nem lugar
para que serve um negócio
que não pára de bater
até parece um relógio
que acabou de enlouquecer
pra que serve quem chora
quando estou tão bem assim
o vazio vai lá fora
cai macio dentro de mim?
De tudo que ainda não se teve. Do novo, do inusitado, do encaixe perfeito, ainda que a imperfeição seja cotidiana.
Chopin foi feliz ao escrever sobre essa impossibilidade:
"A única infelicidade consiste nisso, saímos da oficina de um Mestre célebre de algum stradivarius sui generis, que não existe mais para nos consertar. Mãos inábeis não sabem tirar de nós novos sons, então, por falta de um alaudeiro, recalcamos no fundo de nós mesmos o que ninguém nos sabe arrancar".
Chopin.
Passeando pela literatura, pelos poemas, poetas e textos, o tema se torna recorrente.
Amor, desencontro e solidão...
Teremos Paris, a serra, aquela música que teima em tocar, um cheiro ou um entardecer. Ou pior, quando tudo isso já passou e o coração ficou ali, impermeável, sem contato manual, a espera...do que?
Leminski
Meu coração lá de longe
faz sinal que vai voltar
mas meu peito escreve em bronze
não há vaga nem lugar
para que serve um negócio
que não pára de bater
até parece um relógio
que acabou de enlouquecer
pra que serve quem chora
quando estou tão bem assim
o vazio vai lá fora
cai macio dentro de mim?
De tudo que ainda não se teve. Do novo, do inusitado, do encaixe perfeito, ainda que a imperfeição seja cotidiana.
Chopin foi feliz ao escrever sobre essa impossibilidade:
"A única infelicidade consiste nisso, saímos da oficina de um Mestre célebre de algum stradivarius sui generis, que não existe mais para nos consertar. Mãos inábeis não sabem tirar de nós novos sons, então, por falta de um alaudeiro, recalcamos no fundo de nós mesmos o que ninguém nos sabe arrancar".
Chopin.
Passeando pela literatura, pelos poemas, poetas e textos, o tema se torna recorrente.
Amor, desencontro e solidão...
"Como se chama esse sujeito que insiste num erro, ao contrário de todos e contra todos, como se tivesse diante dele a eternidade para se enganar? Chama-se um relapso. Seja de um amor ao outro ou no interior de um mesmo amor, não paro de recair numa doutrina interior que ninguém divide comigo. ... Paradoxo difícil: todo mundo me ouve, mas só me escutam os sujeitos que têm exatamente e presentemente a mesma linguagem que eu. Os enamorados, diz Alcebíades, se parecem com aqueles que foram mordidos por uma cobra: Diz-se que eles não querem falar do que lhes aconteceu com ninguém, a não ser com aqueles que também foram vítimas da mesma coisa, como se fossem os únicos aptos a conceber e desculpar tudo que eles ousaram dizer e fazer durante a crise das suas dores. Pequeno grupo dos Mortos de Fome, dos suicidas de amor aos quais nenhuma grande linguagem (a não ser, fragmentariamente, a do Romance passado) emprestou sua voz."
"Fragmentos de um Discurso Amoroso", de Roland Barthes
Barthes nos mostra que o discurso amoroso é hoje em dia de uma extrema solidão.
"Este discurso é talvez falado por milhares de pessoas, mas não é defendido por ninguém." segundo ele.
A verdade situa-se num ponto de solidão infinita, sem retorno, ou avançamos ou perecemos. Assim, sem saída somos empurrados de encontro ao outro que nem sempre nos espera. E desespera saber que estar pronto não é suficiente, é preciso ser acolhido.
dos diários
é sobre essa solidão singular que a vida se estende em sombras,
sobras sempre espalhadas pelo caminho
é dessa impossibilidade recorrente de ter a frente um futuro branco,
um tempo limite e dormente.
é na incongruência latente da vida que procuro a redenção
num ponto de tangência
e o porvir em algum lugar que não estou, passará com urgência
antes mesmo que a noite vire dia.
andrea augusto©angelblue83
A diferença se destaca na vontade que se manifesta. No livro, "A insustentável leveza do ser" tudo fica claro quando se lê:
"...deitar com uma mulher e dormir com ela, eis duas paixões não somente diferentes mas quase contraditórias. O amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor (esse desejo se aplica a uma série inumerável de mulheres), mas pelo desejo do sono compartilhado (este desejo diz respeito a uma só mulher)."
"E nós, Rick?". E ele responde do alto de sua integridade:
"Nós sempre teremos Paris".
"Nós sempre teremos Paris".
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