O amor no tempo do cólera.



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O amor no tempo do cólera virou filme e será lançado no Natal. Amei saber disso porque sou apaixonada por esse livro. Tenho uma coisa qualquer com amores que atravessam o tempo, com pessoas que ainda que se relacionem com outras por motivos diversos, no fundo sabem que existe A pessoa, aquela que toca o coração como nenhuma outra toca. E atravessam os anos procurando em outras bocas, o que só aquela é capaz de dar e não pode.
O livro é a crônica de uma longa espera, de um desejo que, em vez de perder força, apenas aumenta com o passar do tempo.


No livro publicado em 1985, o escritor colombiano conta a história de um amor paciente, infinito (que durou exatamente 53 anos, sete meses e 11 dias). É a história de Florentino, poeta e proprietário da Companhia Fluvial do Caribe, apaixonado por Fermina Daza (que será interpretada por Giovanna Mezzogiorno), que acaba se casando com outro (Benjamin Bratt).
García Márquez, que afirmou no passado ter escrito o livro inspirado na história de amor vivida por seus pais.


Assim nascem os poetas. Com uma história assim vivida por seus pais, como ser outra coisa senão poeta?
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"Era ainda jovem demais para saber que a memória do coração elimina as más lembranças e enaltece as boas e que graças a esse artifício conseguimos suportar o passado."
Gabriel García Márquez


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O amor não é completitude, mas incompletitude. Não fusão, mas busca. Não perfeição plena, mas pobreza devoradora. É o ponto decisivo, de que devemos partir. Ele cabe numa dupla definição: o amor é desejo, e o desejo é falta. Quer dizer então que amor, desejo e falta são sinônimos? Não exatamente, sem dúvida. Só há desejo se a falta é percebida como tal, vivida como tal (não se deseja o que se ignora que falta). E só há amor se o desejo, em si mesmo indeterminado (é o caso da fome, que não deseja nenhum alimento em particular), se polarizar sobre determinado objeto (como gostar de carne, ou de peixe, ou de doces…). Comer porque se tem fome é uma coisa, gostar do que se come, ou comer do que se gosta, é outra. Desejar uma mulher, qualquer uma, é uma coisa (é um desejo); desejar esta mulher é outra (é um amor, ainda que, isso pode acontecer, puramente sexual e momentâneo). Estar apaixonado é outra coisa, e mais, do que estar em estado de frustração ou de excitação sexual. Estaríamos apaixonados, no entanto, se não desejássemos, de uma maneira ou de outra, aquele ou aquela a quem amamos? Sem dúvida não. Se nem todo desejo é amor, todo amor (pelo menos esse amor, erôs) é desejo: é o desejo determinado de certo objeto, enquanto faz falta particularmente. É a primeira definição que eu anunciava.
André Comte-Sponville
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"Rogou a Deus que lhe concedesse ao menos um instante para que ele não partisse sem saber quanto o amara por cima das dúvidas de ambos e sentiu a premência irresistível de começar a vida com ele outra vez desde o começo para que se dissessem tudo o que tinha ficado sem dizer, e fizessem bem qualquer coisa que tivesse feito mal no passado. Mas teve que render-se à intransigência da morte."
Gabriel Garcia Márquez, em O Amor nos Tempos do Cólera.
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"O amor, escreve Platão, “ama aquilo que lhe falta, e que não possui”. Se nem toda falta é amor (não basta ignorar a verdade para amá-la: além disso é preciso saber-se ignorante e desejar não mais o ser), todo amor, para Platão, é mesmo falta: o amor não é outra coisa senão essa falta (mas consciente e vivida como tal) de seu objeto (mas determinado). Sócrates bate o martelo: “O que não temos, o que não somos, o que nos falta, eis os objetos do desejo e do amor.”
André Comte-Sponville


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“... Porém , naquela tarde, perguntou-se com a sua infinita capacidade de ilusão, se uma indiferença tão encarniçada não seria um subterfúgio para disfarçar um sentimento de amor.
Só a ideia bastou para lhe alvoraçar os sentimentos. Voltou a rondar a Quinta com a mesma ansiedade com que, há tantos anos atrás, o fizera, mas não com a intenção calculada de que ela o visse, mas sim com o único propósito de a ver para saber que continuava no mundo. “
Gabriel Garcia Márquez


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Que venha o filme e que consiga retratar esse amor atemporal. Por aqui, penso que um dia para encontrar a perfeição amorosa só me tornando escritora ou quem sabe esbarrar com alguém que como eu tenha o despudor de um filme como "O último tango em Paris" e a doçura paciente do "Amor no tempo do cólera".
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"Deixe que o tempo passe e veremos o que ele nos traz"
Gabriel Garcia Marquez
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