Sinceramente? Não conheço ninguém mais vivo do que ele.
Ele está vivo nas garotas de Ipanema, no bar, na saudade, no mar, no fim - de - tarde, na melodia, na vozes a cantarolar, no Rio de Janeiro, nesse sol que faz hoje pelo dia dele, ensolarada coincidência depois das chuvas que se anteciparam ao "fim" do verão.
Tom vive em cada história de amor que começa hoje ou termina agora, naquela tristeza mansa dos que se sabem sozinhos, nas musas de todos, na eleita de um.
Tom é a trilha sonora do eterno...
Sob o signo de Aquário...
”
Tom por Antônio Carlos
“Helena é que me deu o apelido de Tom. Ela não conseguia dizer Antônio Carlos, então me chamava de Tom-Tom, Tom-Tom... Virou Tom. Mais tarde, os caras vieram me dizer que Tom era um nome americano como Johnny Alf ou Dick Farney. Tive que carregar essa cruz. Lutei muito para ser Antônio Carlos, mas não consegui. Ninguém vai chamar um cara de Antônio Carlos se pode chamá-lo de Tom.”
“Sou o produto de um lar defeito, da separação do meu pai e da minha mãe, da primeira vez, quando eu tinha um ano. Ficaram essas magníficas pessoas, o meu avô Azôr Brasileiro de Almeida, minha avó Mimi, minha tia Yolanda, minha mãe. Todas me criaram com carinho e me deram muito apoio porque obviamente você fica meio orfão. Depois minha mãe se casou com meu padrasto, Celso Frota Pessoa. Ele também foi carinhoso comigo. Era durão, não tinha negócio de poder matar aula. Mas eu tinha esse carinho em volta de mim, um cuidado especial, o que não impediu que eu me machucasse muito pelo mundo.”
“Tinha uns 14 anos e já não saía mais do piano. A vizinhança reclamava, mas as casas eram grandes, em centro de terreno, e eu ali batucando aquele piano na garagem. O som se espalhava muito porque as paredes eram de cimento. Koellreuter era uma alma boa e muito exigente. Me ensinou muita coisa prática, me ensinou assim por alto esse negócio de 12 tons, de não ser tonal, de não ter uma tonalidade principal e usar os doze sons do piano. Um dia, almocei com Koellreuter, na Plataforma, e mexi com ele: "Como é, você continua nos 12 tons?" Ele disse: "Claro, e você?" Bom, eu estou usando 35 agora, que são os sons da música clássica. As sete notas brancas, os setes bemóis, os sete dobrados de bemóis, os sete sustenidos, e os sete dobrados de sustenidos. Então, dá sete vezes cinco, 35 sons que você pode escrever no pentagrama. Ele só pode escrever doze, é paupérrimo. Dodecafonia já vinha de sons velhos. Antes de eu nascer já tinha dodecafonia, e nessa escola entrou todo mundo: Guerra Peixe, Cláudio Santoro, que era da escola atonalista transitória, e o Alceu Bocchino, da Rádio Nacional. Tem alguma coisa que eu gravei nos Estados Unidos, onde misturo a tonalidade com a atonalidade, como muita gente fez.”
Esse negócio de poesia acho que nasce um pouco com a gente. A gente é poeta ou não. É um pouco uma herança, uma maneira de ver o mundo. Descobre-se Cassiano Ricardo, Alceu Wamosy, Manuel Bandeira, Gonçalves Dias, Bilac, Augusto dos Anjos. Isso foi vindo aos poucos. Tinha o meu tio Marcelo, que frequentou muito o meu pai e aprendeu com ele muita coisa de poesia, aprendeu a ler romances, Arthur Azevedo, Euclides da Cunha. Meu tio ficou com essa bagagem do Jorge Jobim.
Lembro da poesia com que eu perseguia a Helena, que não gostava do Bilac quando era menina. Eram os poemas para crianças do Bilac: "Negro com os olhos em brasa, bom, fiel e brincalhão, era a alegria da casa, o corajoso Plutão..." Eu corria atrás de Helena com essa poesia. Ela chorava porque no fim o cachorro Plutão morre. Eu sabia a poesia de cor. Bilac chegou cedo na minha vida.”
Musas:
"Sempre troquei os nomes das musas e ainda dava a maior confusão. Porque se você chamar a musa por outro nome, aparece um outro marido para pedir satisfação. Naturalmente, a Lígia é um punhado de Lígias, de Lídias também. Os maridos ficam sobressaltados. Inclusive a letra de "Lígia" nega qualquer ligação: "Não gosto de chuva, não gosto de sol, não vou a Ipanema, não gosto de samba, não vou ao cinema". É uma Lígia sem contato físico. É ascética, desligada, platônica completamente. "E quando você me prender nos seus braços serenos", ela está sereníssima naturalmente, "eu vou me render, mas seus olhos morenos me metem mais medo que um raio de sol". Ele está louco de paixão, supondo que, se tivesse, teria se jogado pela janela. Supondo que de repente a musa poderia ceder às múltiplas cantadas, às canções e a tudo o mais.
Essa atitude moderna de querer saber se existiu o robe de chambre vermelho, de veludo, do Wagner, eu acho muito pertinente. Talvez o robe de chambre fosse de tafetá. Talvez fosse de veludo, no inverno. Esse negócio não tem importância. Muitas vezes, eu não boto nome de mulher nenhuma. Dorival Caymmi me contou que lá em Ilhéus, ele tinha feito sucesso com "Marina", e chegou um sujeito armado porque a mulher dele era Marina. O sujeito estava convencido de que a canção tinha sido feita para a mulher dele. E o Dorival: "Absolutamente, nem conheço". Você fica sempre devendo uma série de explicações.”
”Ana Luíza foi uma moça bonita que apareceu no Antonio's, num dia que estava chovendo. Ela correu para aquela varandinha do Antonio's. Era uma moça alta, grande, uma grande moça e uma moça grande. Estavam lá Chico Buarque, Carlinhos de Oliveira, uma quadrilha imensa. Chico começou a falar com aquele riso dele, aquelas palavras incríveis e depois a chuva passou e ela foi embora. E ficou o nome. Depois aconteceu que me casei com Ana e mais tarde nasceu minha filha Luíza. E eu fiz uma canção premonitória, aquela "Luíza", boa canção, canção forte. Já me perguntaram se a canção foi feita para ela. Foi feita na casa da Rua Peri, aqui embaixo, a uns
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