Francisca Júlia, a "Musa Impassível"


"Isto não é verso de mulher! Deve ser uma brincadeira do Raimundo Correa!..."
Exclamou João Ribeiro ao ler numa das revistas mais conceituadas da época os versos de Francisca Júlia.Não se tratava de brincadeira, era uma mulher, uma jovem tão talentosa que no seu próximo livro, o próprio João Ribeiro se encarregaria de prefaciar. Escreveria ele na ocasião:

"Nem aqui, nem no sul nem no norte, onde agora floresce uma escola literária, encontro um nome que se possa opor ao de Francisca Júlia. Todos lhe são positivamente inferiores no estro, na composição e fatura do verso, nenhum possui em tal grau o talento de reproduzir as belezas clássicas com essa fria severidade de forma e de epítetos que Heredia e Leconde deram o exemplo na literatura francesa."

Apesar dos rasgados elogios em torno de sua estréia literária o sucesso não subiu a cabeça da jovem e já consagrada poetisa, então com 24 anos. Ao contrário, cada vez mais incentivada por amigos de peso, dedica-se integralmente à atividade poética, traduzindo para o português versos do poeta alemão Heine. Apesar de parnasiana na forma, Francisca Júlia também teve alguma passagem pelo simbolismo, introduzido no Brasil nessa última década do Século XIX.Vários poetas famosos não deixaram de manifestar, em crônicas emocionadas, vibrantes elogios à mais nova produção literária de Francisca Júlia, entre eles, Vicente de Carvalho e Coelho Neto. Nessa época chegou a ser convidada para a Academia Paulista de Letras, mas decidiu-se por dedicar-se ao marido, grande amor de sua vida.

Na segunda década do século, Francisca Júlia já era uma poetisa há muito consagrada. Aos 46 anos, recebe a maior homenagem que lhe prestaram em vida, quando um grupo de admiradores organizou, em 1917, uma sessão literária e ofereceu seu busto à Academia Brasileira de Letras. Era a consagração da talentosa artífice de versos, da "Musa Impassível", como ficou conhecida.
Em 1920, consagrada, realizada na vida literária e pessoal, Francisca Júlia, vê parte de sua vida ir embora quando seu marido falece.

A perda do companheiro tão querido foi arrasadora para a sensível poetisa, cuja emoção não pode conter, em nada demonstrando ser a autora daqueles versos frios, impassíveis. Confessou aos amigos que sua vida não tinha mais sentido sem a companhia do marido e deixou claro que "jamais poria o véu de viúva" (seria uma indicação de suicídio?). Retirou-se para repousar em seu quarto e ingeriu excessiva dose de narcóticos. No dia seguinte, em 01 de novembro de 1920, ao abraçar o caixão onde jazia o corpo inerte do esposo, num último e emocionado adeus, Francisca Júlia falecia aos 49 anos. Seu corpo foi enterrado no Cemitério do Araçá, em São Paulo, ao meio-dia de 2 de novembro.

Noturno

Pesa o silêncio sobre a terra. Por extenso
Caminho, passo a passo, o cortejo funéreo
Se arrasta em direção ao negro cemitério...
À frente, um vulto agita a caçoula do incenso.

E o cortejo caminha. Os cantos do saltério
Ouvem-se. O morto vai numa rede suspenso;
Uma mulher enxuga as lágrimas ao lenço;
Chora no ar o rumor de misticismo aéreo.

Uma ave canta; o vento acorda. A ampla mortalha
Da noite se ilumina ao resplendor da lua...
Uma estrige soluça; a folhagem farfalha.

Francisca Júlia


Leia: http://vbookstore.uol.com.br/biografias/francisca_julia.shtml

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