Conversando sobre o filme "Antes do pôr-do-sol" com o meu amigo, Wellington, convidei-o para escrever uma resenha sobre o filme. Por isso, hoje deixo-os com a luxuosa contribuição dele. Obrigada, Well.



Antes do pôr-do-sol




.....Em 1995, um filme de um diretor pouco conhecido surpreendeu muita gente e acabou se tornando cult. “Antes do Amanhecer”, de Richard Linklater (que depois filmou “Waking Life” e “Escola de Rock”, entre outros), com Ethan Hawke e Julie Delpy, mostrava, de forma inteligente, um encontro romântico entre um jovem dos EUA e uma francesa, que acabam passando quase um dia em Viena. Muitos diálogos, rumos pouco convencionais, química fina entre os protagonistas. Um final inconcluso (marcaram um encontro em Viena, seis meses depois), tom mais para melancólico, e ainda assim deixou marca entre os que o viram.

.....Nove anos se passaram. Linklater já é um diretor renomado e resolveu fazer a seqüência, “Antes do Pôr-do-sol”, elaborando a história novamente com Kim Krizan (atriz e escritora) e o roteiro com os dois protagonistas. Numa livraria de Paris, depois de um tour por várias cidades européias, Jesse faz a última apresentação para divulgar seu livro, inspirado nos acontecimentos de nove anos antes. Em meio às perguntas dos jornalistas e curiosos, olha para o lado e vê Celine. A partir daí, até a partida do avião de Jesse para Nova Iorque, os dois teriam pouco menos de duas horas para conversarem, já que não mais se viram desde Viena. Como em tempo real, a câmera não mais os abandonará. O fluxo de diálogos é intenso, engraçado, profundo, às vezes arrasador, mas nunca redundante. Os cortes são precisos e delicados, sem o nervosismo transgressor do Dogma 95, por exemplo, e ainda assim passando a sensação pura de fluidez e realidade. (O filme foi tão bem planejado que foi rodado em 15 dias). Roteiro precioso, em que cada movimento e palavra importa para o resultado final, com passagens inesquecíveis (e subliminares), como os dois caminhando pelo parque, muito juntos, e de repente o assunto passa a ser o casamento de Jesse, e surge uma escada, o corrimão os separa instantâneamente...

.....E os oitenta minutos (ao contrário dos 101 de “Antes do Nascer do Sol”) passam literalmente voando, a tensão reinante pela ditadura do horário reduzindo possibilidades, enquanto perguntas por vezes com respostas indefinidas ampliam a sensação de impotência. A interpretação dos protagonistas é uma delícia de autenticidade, e vida, amor, desencontros, dilemas, são expostos de maneira direta, irônica e estimulante.

.....Quanto ao final, embora brilhantemente inconcluso, uma dica: a música que está tocando é “Just in Time”, com Nina Simone. Repare também na última frase do filme...

.....Definitivamente, para ver e rever, para os que amam, para os que não mais amam, ou para os que ainda não perderam a esperança, talvez o melhor filme a tratar do assunto, desde “Uma História Pornográfica”.


Wellington Amorim


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