Truman Capote e o Jornalismo Literário.
A sangue frio
Herb Clutter era um bem sucedido fazendeiro do Kansas. Tinha 48 anos. Religioso, participava intensamente das atividades da Igreja Metodista local. Bonnie, sua esposa, enfrentava dificuldades causadas pela depressão. Aos 45 anos, tinha pouco da jovem cheia de vida que encantou Herbert. Nancy, a filha de 16 anos, era uma garota exemplar. Tirava as melhores notas na escola e tinha uma grande disposição para ajudar os amigos. Era muito querida por todos que a conheciam. Kenyon, de 15 anos, era o único filho homem. Mais introspectivo, não tinha uma vida social como a de sua irmã. Mas era querido, como todos da família Clutter.
Na madrugada de 14 para 15 de novembro de 1959, Perry Smith e Dick Hickcock chegaram à casa dos Clutter. Tinham o objetivo de roubar o cofre. Imaginavam encontrar pelo menos 10 mil dólares. O suficiente para começarem uma vida nova no México. Dick planejou tudo, ajudado pelas informações de um colega de prisão que havia trabalhado para Herb Clutter.
Acordaram o dono da casa, que dormia em um quarto no primeiro andar. Foram com ele para o escritório. Queriam que abrisse o cofre. Mas não havia cofre. Herb era famoso na cidade por não gostar de manusear dinheiro. Pagava as menores contas em cheque. Convencidos de que havia dinheiro na casa de um fazendeiro rico, amarraram todos os membros da família e reviraram tudo em busca dos dólares imaginários. Não encontraram mais do que 50 dólares.
Antes de irem embora, mataram um a um com tiros de espingarda calibre 12. Não queriam testemunhas. Dick queria estuprar Nacy, mas Perry o impediu. Fugiram por algum tempo, dirigindo carros roubados pelos Estados Unidos. Chegaram a passar alguns dias no México. Foram presos no dia 30 de dezembro de 1960. Interrogados por policiais experientes, acabaram confessando os crimes. Após 5 anos de espera no corredor da morte, foram enforcados no dia 14 de abril de 1965.
Jornalismo literário ou romance sem ficção.
Não, eu não contei história para enriquecer o cenário sangrento que vivemos desde que o mundo é mundo. Eu contei essa história para falar de Truman Capote, o pai, com algumas controvérsias do jornalismo literário ou romance de ficção.
A sangue frio, um dos livros mais famosos de Truman Capote conta a história da família Clutter. Até aí nada de novo, quantos romances enchem as prateleiras das melhores e piores livrarias narrando fatos que aconteceram na vida real? Muitos. O diferencial está em ter sido escrito por alguém que foi capaz de fazer uma imagem dos Clutter que deixa o leitor ficar mais próximo deles e, portanto, potencializa o choque da tragédia.
Para tanto, Capote conviveu com Perry e Dick durante os 5 anos que passaram no corredor da morte e também assistiu ao enforcamento deles, como uma das três testemunhas a que ambos tinham direito. Como interlocutor privilegiado, Truman obteve informações sobre a infância de cada um, os motivos que os levaram até a família, a rota de fuga e o momento da prisão. Dando continuidade à suspeita do tipo de relação entre Truman e Perry, alguns chegaram a dizer que o escritor fez uma descrição muito parcial do criminoso, procurando justificar o ato pela história de vida do rapaz. A questão da verdade do relato permeia as análises que se faz de A sangue frio.
O livro é considerado o fundador do jornalismo literário, ou romance sem ficção. No entanto, outras narrativas no mesmo estilo já haviam sido publicadas antes. O que torna o livro um clássico, tanto no seu aspecto técnico quanto estético, é a mistura entre a excelência do texto com a veracidade do conteúdo. Capote não fez nenhuma anotação durante a coleta de depoimentos e informações. Usava uma técnica de memorização e dispensava gravador, papel e caneta, conseguindo com isso, deixar as pessoas mais à vontade e obter informações mais naturais e verdadeiras. No entanto, a “pura verdade” da narrativa de Truman Capote é questionada ainda hoje e nós estamos falando de um fato ocorrido em 1965. No entanto, apesar da polêmica que o livro sempre gerou, a opinião da grande maioria é a de que Capote tinha uma capacidade perceptiva grande e era capaz de colocar em palavras tudo o que se queria dizer, independente de usar os termos exatos. Difícil de entender? Talvez, a verdade é que o livro é realmente bom.
Truman Capote, americano, nascido em 30 de setembro de 1924, chegou a ser bailarino antes de se dedicar a literatura e obter grande sucesso.
Gênio possuidor de QI altíssimo, possuía curiosas limitações em matemática ( não conseguia lidar com as quatro operações) e no aprendizado de línguas. Chegou a morar nove anos na Itália e não conseguiu aprender o idioma. Como todo gênio tinha uma incapacidade de aprender o que não gostava. Atormentado por uma homossexualidade mal satisfeita e dominado pelo álcool morre relativamente cedo, no dia 25 de agosto de 1984.
Leia mais aqui
Comentários