Que é que eu acho do amor?
Não acho. Amo. Achei: Míriam. As pessoas chama de amor ao amor próprio. Chamam de amor ao sexo. Chamam de amor uma porção de coisas que não são amor. Enquanto a humanidade não definir o amor, enquanto não perceber que o amor é algo que independe da posse, do egocentrismo, da planificação, do medo de perder, da necessidade de ser correspondido, o amor não será amor. O que faz o mundo se mover em sentido construtivo é a verdade. Ainda que provisória. Ainda que seja mais que caminho que meta.
"Não há mérito em eu amar Míriam, porque nela encontro todas as mulheres do mundo. Ela me acompanha em tudo. No trabalho - é a minha colaboradora melhor, na reabilitação da voz - na vida, em tudo. Ela é tão despida de egoísmo, que chega às raias do desumano. Nunca vi de Míriam um gesto, uma palavra, uma atitude que não fosse para o bem dos outros. Quis casar com ela na mesma hora em que a conheci. Mas, agora que a conheço mais, gostaria de tornar a casar todos os dias"
Pedro Bloch
"Até mesmo na vida comum observamos que o verdadeiro amor, ou a verdadeira amizade, é uma afinidade mental e não uma mera proximidade física dos corpos."
("A Busca", Paul Brunton, Ed. Pensamento)
(...)
Vem para que eu possa ... contar dos meus muitos ou poucos passados, futuros possíveis ou presentes impossíveis, dos meus muitos ou nenhum eus. Vem para que eu possa recuperar sorrisos, pintar teu olho escuro com kol, salpicar tua cara com purpurina dourada, rezar, gritar, cantar, fazer alguma coisa, desde que você venha, para que meu coração não permaneça esse poço frio sem lua refletida. Porque ... tenho medo e estou sozinho, porque não tenho medo e não estou sozinho, porque não, porque sim, vem e me leva outra vez para aquele país distante onde as coisas eram tão reais e um pouco assustadoras dentro da sua ameaça constante, mas onde existe um verde imaginado, encantado, perdido. Vem, então, e me leva de volta para o lado de lá do oceano de onde viemos os dois.
Caio Fernando Abreu, Ovelhas Negras, Ed. LP&M Pockets
"... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações..."
(texto de Eça de Queiroz - Primo Basílio)
Beijo
Um beijo em lábios é que se demora
e tremem no de abrir-se a dentes línguas
tão penetrantes quanto línguas podem.
Mas beijo é mais. É boca aberta hiante
para de encher-se ao que se mova nela.
E dentes se apertando delicados.
É língua que na boca se agitando
irá de um corpo inteiro descobrir o gosto
e sobretudo o que se oculta em sombras
e nos recantos em cabelos vive.
É beijo tudo o que de lábios seja
quanto de lábios se deseja
Jorge de Sena
... deitar com uma mulher e dormir com ela, eis duas paixões não somente diferentes mas quase contraditórias. O amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor (esse desejo se aplica a uma série inumerável de mulheres), mas pelo desejo do sono compartilhado (este desejo diz respeito a uma só mulher).
Trecho- A insustentável leveza do ser - Milan Kundera
Trecho- A insustentável leveza do ser - Milan Kundera
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