Marilyn e Larry.
Lucas Mendes: Marilyn e Larry
Lawrence Schiller tinha 25 anos quando entrou no
camarim de Marilyn Monroe pela primeira vez. Foi no estúdio da Fox onde ela
filmava Let’s Make Love, com Yves Montand .
Por trás, ela diante do espelho, ele começou a disparar
sua Nikon. A atriz interrompeu o clique, clique, clique porque achava que a luz
não era boa para ele e o ângulo não era bom para ela: Daqui é melhor. Larry
obedeceu - ela sabia o que estava falando.
Depois de mais algumas fotos, ela disse que ele era o
primeiro fotógrafo que não fechava o olho esquerdo quando fotografava. Nunca,
em dez anos, alguém tinha observado este detalhe.
"Eu sou cego deste olho" , explicou Larry.
"Desde criança, quando morava no Brooklyn. Meu prédio tinha uma lixeira
central. Um dia, curioso, enfiei a cabeca e olhei para cima. Naquela hora a
ponta de um guarda-chuva entrou no meu olho. Os médicos conseguiram salvar o
olho, mas não a visão."
A história pavorosa abriu o coração de Marilyn, que
teve uma infância miserável, entrando e saindo de orfanatos e famílias adotivas
enquanto a mãe entrava e saía de manicômios. Larry explicou que, apesar do
acidente, a infância dele não foi infeliz, mas surgiu uma cumplicidade.
O principal cliente de Larry era a revista francesa Paris
Match, mas aquelas fotos de Marilyn tinham sido pedidas pela revista Look.
O sonho dele, como a maioria dos fotógrafos de revistas, era uma capa na
revistaLife. A oportunidade surgiu dois anos depois, quando Marilyn filmavaSomething’s
Got to Give, também para a Fox, com Dean Martin.
Quando viu o roteiro, Larry notou que haveria uma cena
na piscina onde a estrela pareceria nua, com um biquíni cor da pele, tesando
Dean Martin.
As relações de Marilyn com a Fox estavam podres. Anos
antes, ela tinha recebido US$ 15 mil pelo filme “Os Homens Preferem as
Louras", enquanto a morena Jane Russel tinha recebido US$ 200 mil, mas a
inveja dela era Elizabeth Taylor, que estava recebendo US$ 1 milhão por
“Cleópatra” enquanto ela recebia US$ 100 mil por filme e não achava que era
levada a sério em Hollywood.
Castigava a Fox se trancando no camarim por três ou
quatro horas enquanto a equipe esperava lá fora ou simplesmente não aparecia no
set. Em 38 dias de filmagens ela compareceu a 13, e cada dia perdido afetava
104 pessoas.
Quando contrariou as ordens do estúdio e veio a Nova
York cantar parabéns para o presidente Kennedy, a Fox cancelou o filme e abriu
um processo contra ela por quebra de contrato.
Poucos dias antes, ela tinha feito as famosas fotos
nuas dentro, saindo, e fora da piscina. Antes havia dito a Larry que ficaria
nua, mas ele achou que fosse brincadeira.
Quando tirou o roupão e entrou na piscina, estava de
calça e sutiã cor da pele, feito o lero-lero para o Dean Martin. Na hora de
sair da piscina estava completamente nua.
Clique, clique, clique....684 fotos em preto e branco,
108 em cores em duas horas de filmagem.
Marilyn, com poder de veto, eliminou a maioria das
fotos em preto e branco porque mostravam músculos na perna, ângulos ou perfis
desfavoráveis e a bunda: "Dizem que eu tenho bunda de preta e que muito
homem gosta".
Disse e traçou o x do veto na folha de contato. Apesar
dos cortes, Larry ficou aliviado. Tinha fotos suficientes para cinco, talvez
seis páginas naLife e, mais importante, para a capa.
Era o que ele e Marilyn queriam. Nua nas capas da Life, Paris
Match, em revistas do mundo inteiro para invejar Liz Taylor e gerar
publicidade.
"Sem roupa, nenhuma mulher é igual a mim",
disse a Larry e impôs uma condição: "Quem publicar, qualquer revista, terá
de concordar em não publicar nenhuma foto, nenhuma linha sobre Elizabeth Taylor
na mesma edição."
Três dias depois, Larry levou à casa dela os contatos
das fotos em cor, candidatas a capas. Marilyn disse a ele: "Entre no
carro. Vamos pegar Dom".
Larry tremeu. Que Dom é este que entrou na história sem
nenhum aviso? Seria alguma sacanagem da Marilyn? Até então tudo tinha sido
correto.
A atriz parou à frente da famosa lanchonete/farmácia
Schwab’s, onde Lana Turner teria sido descoberta comendo um hambúrguer no
balcão.
Voltou dali a cinco minutos com uma garrafa de Dom
Perignon. Bebia em grandes goladas no gargalo e passava a garrafa para Larry,
que não era fã de champagne, enquando examinava as fotos com olhar de modelo e
uma tesoura de costureira profissional. Zip zip zip ...Cada tesourada era um
aperto no coração do fotógrafo.
Vetou 70 mas sobraram 38. A capa estava garantida.
Larry faturou US$ 30 mil com Marilyn nua na edição de 20 de junho. Até então só
um fotógrafo tinha recebido tanto por um dia de trabalho, David Douglas Duncan
pelas fotos de Picasso.
Graças à nudez de Marilyn, Larry deu entrada numa casa
com piscina não longe da casa da atriz.
Larry tinha escondido dela várias fotos onde aparecia o
bico de um peito e Hugh Hefner, dono de Playboy, estava disposto a pagar
US$ 25 mil por elas. Uma fábula.
Ela estava interessada e ele passou na casa de Marilyn
com os contatos para discutir o assunto mas Bobby Kennedy, irmão do presidente,
estava na beira da piscina esperando por ela.
Larry se sentiu intruso e foi embora. No dia seguinte,
3 de agosto, sexta-feira, passou na casa de Marilyn.
Ela estava trabalhando no jardim com uma aparência
muito derrubada. Deixou o envelope com as fotos e foi embora . Na manhã
seguinte Larry recebeu uma chamada as 7 horas : Marilyn esta morta.
Aparentemente uma over dose. Erro dela na dosagem?
Vivia numa solidão brutal, insônia, depressão, constipação . Com frequência
misturava pílulas, vinho e champagne em grandes quantidades. Suicídio?
Assassinada pela máfia a mando dos Kennedys? Larry acha
oversose acidental a melhor hipótese.
Conheci Larry quando trabalhava na revista Manchete.
Eu dividia um apartamento com o comprador de fotos da revista alemã Stern,
grande cliente dele.
Quando passava por Nova York costumava visitar o alemão
lá em casa.
Larry se tornou um dos fotógrafos mais conhecidos nos
Estados Unidos, autor de best sellers, produtor de TV e de filmes, um sobre
Marilyn.
Colaborou com Norman Mailer em quatro livros, um deles
também sobre Marilyn que escreveu: "Marilyn era o affair do povo com a
América, rainha da classe operária, espelho de prazeres de quem olha para
ela".
Em maio Larry publicou suas memórias sobre o breve
período de sua amizade com a atriz. Em agosto a morte dela vai fazer 50 anos.
Marilyn teria completado 85 anos no dia primeiro de junho.
As famosas fotos de Larry, que tem 75, estão expostas
na galeria Steve Kasher, no bairro Chelsea, em Manhattan.
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