Jerry Lewis, um gênio da comédia.
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Lucas
Mendes: Jerry Lewis, 86, alopradíssimo.
Fui
ao aniversario de 86 anos do Jerry Lewis e durante quase duas horas ri como
nunca tinha rido nos filmes dele. Parecia um passo além do absurdo.
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Fui
como convidado com quase mil fãs pagantes no teatro da YMCA, da rua 92, um
antro de artes e entretenimento.
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Vimos
primeiro uma edição curta do documentário Method of Madness of Jerry Lewis onde
uma procissão de grandes atores e diretores colocam Lewis no pedestal dos
gênios, mas naquela plateia ninguém precisava ser convencido da genialidade do
comediante. Rolava um bom humor geral. Nas poucas cenas dos filmes no
documentário a audiência explodia em aplausos espontâneos.
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Jerry
Lewis, depois de breve introdução do ator Richard Belzer, entrou no palco e
sentou numa destas cadeiras de diretor.
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Um
pouco curvado mas sem outros sinais de decadência, está com uma rapidez mental
e um senso de humor que causam inveja a sessentões como eu.
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Ele
sobreviveu a câncer de próstata, gravíssima fibrose pulmonar, um ataque
cardíaco quase fatal, dores brutais na coluna provocadas por anos de quedas nos
filmes e palcos e controlada, durante décadas, por 13 pílulas diárias de
Percodan que criaram uma dependência. Ele se libertou das pílulas graças a um
marca-passo eletrônico que funciona por controle remoto. Quando dói, ele clica,
e bye bye dor.
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O
ator Richard Belzer que chama Jerry Lewis de "pai" conduziu uma
conversa sobre os altos e baixos da carreira do comediante que começou aos 5
anos com os pais, um casal vaudeviliano.
O
pai, imigrante judeu russo era mestre de cerimônias. A mãe, também imigrante
russa, era a pianista. Na sua primeira entrada num palco Jerry Lewis, ao
agradecer os aplausos, pisou, sem querer, numa lâmpada que explodiu. A plateia
veio abaixo: "Eu vou fazer aquilo de novo", disse aos velhos.
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Desde
então, deu poucos passos em falso na carreira que disparou quando fez dupla com
Dean Martin em 1946. Em um ano eles saíram de US$ 175 para US$ 30 mil por
semana e os shows da dupla provocavam reações de histeria semelhantes às dos
Beatles. Dean Martin tinha os encantos e a voz, Jerry Lewis, as macaquices.
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Eu
entrevistei Jerry Lewis em Times Square, em 1995, para a TV Cultura. Ele tinha
69 anos, um pouco mais do que eu tenho hoje e acabava de estrear na peça Damn
Yankees. Fazia o papel do Diabo. A plateia vinha abaixo quando ele entrava em
cena. Cantava e dancava. Foi o ano da morte de Dean Martin, seu parceiro de dez
anos de shows, televisão, rádio, cabarés e 14 filmes.
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O
rompimento foi em 56. Deixou Lewis arrasado e nenhum dos dois deu explicações.
Uma reconciliação temporária foi orquestrada por Frank Sinatra, amigo comum,
mas só voltaram a ser amigos quando o filho de Dean Martin morreu num acidente
de avião e o ex-parceiro trocou o suco de maçã pelo álcool. O fim foi rápido.
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Ate
então a embriaguês era uma imagem falsa e debochada que Dean Martin cultivava
porque dava bons dividendos. Bebia pouco. O verdadeiro vício dele, diário, era
o golfe. Jerry Lewis se lembra Dean Martin com culpa e profundo afeto. Dean
Martin saiu porque cansou de ser escada, da falta de reconhecimento e porque
não precisava do afeto do público, como Jerry Lewis.
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Ambos
tiveram carreiras bem sucedidas depois da separação mas a do comediante
explodiu, como showman, ator, diretor, roteirista e inventor do video
assist, um precursor do video tape que permitia ver a cena gravada
instantaneamente. A partir daí sempre terminava seus filmes dentro dos prazos e
orçamentos.
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Ele
conta, com grande prazer, a história do filme Bell Boy que, a pedido
da Paramount, filmou em tempo recorde no hotel Fountainebleau, em Miami. A distribuidora
recusou o filme porque era mudo. Jerry Lewis bancou os US$ 950 mil e o filme ja
rendeu US$ 650 milhões.
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Jerry
se lembra com tristeza de um fracasso que só foi visto por uma dúzia de
pessoas. Ou menos e não quer que seja visto. The Day the Clown Cried, de 1972, conta a história de um
palhaço que leva crianças judias para a câmara de gás e, um dia, o palhaço
entra na câmara e morre junto com elas. Jerry Lewis, um judeu, não teve o
talento para colocar humor num campo de concentração como Roberto Benigni, em A
Vida é Bela.
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Ladies
Man, Patsy, Nutty Professor, os filmes são tantos e cada um tem uma
historia engracada ou dramatica. Jerry Lewis esta produzindo e dirigindo uma
versao do Nutty Professor para a Broadway que deve estrear ainda este ano e
assinou um contrato no começo do ano passado para co-produzir The Bell Boy, Cinderfellaw e The
Family Jewels, um filme onde ele fez sete papéis diferentes.
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Jerry
Lewis queria fazer tudo em Hollywood, da direção a carregador de cenários mas
os sindicatos não deixavam a menos que ele fosse membro. Ele pagou e tem
carteirinhas de 14 sindicatos de Hollywood, outro recorde.
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Mas
e o humor da noite? A última hora foi na base do improviso, a especialidade
dele. Mais de cem pessoas se enfileiraram nas duas alas do teatro para fazer
perguntas. Jerry Lewis fez um alerta: "Por favor, não me digam que me
adoram, que me amam desde a infância quando viam meus filmes com seus pais. Eu
já ouvi isto milhares de vezes e, acreditem, eu acredito. Por favor, vamos ao
ponto."
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Na
primeira pergunta, a mulher começou: "Nós adoramos você na minha
casa..."
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Jerry
Lewis rodou os olhos. "Próxima pergunta", disse.
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De
mais de cem perguntas, ele teve pena de meia dúzia de fãs, entre eles um
paraplégico que pediu um abraço. Outro fã, que contou uma boa história e pediu
um perto de mão, teve o desejo satisfeito mas Jerry Lewis aproveitou para
arrancar risadas com uma piada sobre o passado gay. Eu confesso minha falta de
talento para transcrever o humor de Jerry Lewis. Gravei a noite mas sem as
expressões e o ritmo dele, o humor perde a graça. A genialidade dele não esta
no texto, não pode ser separada da pessoa. Jerry Lewis é Jerry Lewis.
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Qual
o segredo desta longevidade saudável e promissora que venceu tantas doenças?
Uma gargalhada por dia vale dez anos de vida, ele garante.
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Antes
daquela noite não me lembro da minha última gargalhada. Uma tragédia.
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Lucas
Mendes - De Nova York para a BBC Brasil
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