Chove chuva
chove sem parar...
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Chove direto no Rio de Janeiro. Nem me lembro do último dia de sol e sinceramente nunca gostei disso. Sou suscetível à chuva, tempo cinza, dias incertos. Acabo assimilando o tempo interiormente, só que dessa vez e em especial hoje, estou me sentindo relativamente bem.
Esse ano algumas coisas, pessoas estão indo embora definitivamente da minha vida e por mais que no momento seja dolorido, às vezes pelo modo, outras pelas máscaras que caem, no final o saldo é positivo. E a chuva parece ser um bom sinal. Ainda que seja um contratempo, lava, leva embora tudo, inclusive as sujeiras do caminho, limpa, renova e é assim que me sinto agora, renovada. Pronta pra recomeçar de verdade, do zero. É um alívio pleno pra mim.
E é também uma boa desculpa para postar poemas. No final tudo passa, inclusive essa chuva e o sol voltará a brilhar.
Esse ano algumas coisas, pessoas estão indo embora definitivamente da minha vida e por mais que no momento seja dolorido, às vezes pelo modo, outras pelas máscaras que caem, no final o saldo é positivo. E a chuva parece ser um bom sinal. Ainda que seja um contratempo, lava, leva embora tudo, inclusive as sujeiras do caminho, limpa, renova e é assim que me sinto agora, renovada. Pronta pra recomeçar de verdade, do zero. É um alívio pleno pra mim.
E é também uma boa desculpa para postar poemas. No final tudo passa, inclusive essa chuva e o sol voltará a brilhar.
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"O amor é o solitário do balcão, a retirar vagaroso o rótulo úmido da garrafa porque não pode despir sua mulher. Fica delirando em braile. Aprende inglês com as moscas. Joga dama com os cascos. Reza dez ave-marias para cada pai-nosso. Descobre que o terço é feminista. A cada vez que pensa em si, pensa dez vezes no corpo dela. Não se limpa um amor no banheiro. Limpa-se com as mangas da camisa na frente de todos. O amor é a boca assoando. O amor não pede a conta na mesa, é a conta. Não há amor se você não for o último cliente. O último a sair é que está realmente amando."
Fabrício Carpinejar
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É... o amor sempre pede recibo. Ainda bem que temos as ave-marias e os padre-nossos...
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Chapéu da chuva
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"Quando chove, há sol dentro do livro. A tempestade envelhecia o dia. Minha personalidade estava indecisa entre o cavanhaque e a barba. Eu me roubei a eternidade. Não preciso de uma pátria, só daquilo que conheço. Nossa casa era manca na colina. Todos percebiam sua descida parada. Uma alvorada que andava. Existia grande número de afogamentos na cerração. A neblina não aceitava ser dominada, mas conduzida. Tem o mesmo fermento do fogo. Ao atingir grau avançado de espessura, as pessoas caminhavam anônimas lado a lado. O vidro assumia o cansaço dos vitrais, causando embaraço ao observador discernir o dentro do fora. Tomada de baixa visibilidade, a cidade retornava a um tempo em que não era cidade. Fui deixando o povoado, minha mulher, meus filhos, enviuvando a terra. Atravessei as paredes da fruta, o longo caule da varanda. O cordame do poço rolou sozinho. que vai escrito no corpo, a amante não corrige. Cruzei a linha da fronteira de balsa, silencioso, levando um parente enterrado na mala, o violino embalsamado."
Fabrício Carpinejar
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A Chuva
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A chuva é a única chama
que caminha contra o vento.
Refaço seu lastro
com a insônia dos sapatos.
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Enlouqueço de ternura,
indeciso entre o furor e o fulgor.
Desperto amarrado em alguma estrela,
servindo de referência
para o alinhamento das esferas.
Fabrício Carpinejar
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Falta de Tempo
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Existe um único antídoto para a falta de tempo. Um único.
Estar apaixonado.
Esquecer de si para inventar o desejo.
O desejo transforma-se no próprio tempo.
Tudo é adiado.
Fabrício Carpinejar
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Final de Vida
Em final de festa, sempre bate uma fome. E não poupamos esforços em procurar um cachorro-quente, caldo de feijão, um prensado, sopa, qualquer coisa para reanimar o corpo e voltar para casa com a obrigação atendida do café da manhã. Não escolhemos, aproveitamos o que vem, agradecemos o que está aberto. Não somos enojados, superamos as restrições alimentareis e sociais, capazes de comer o que nem estamos acostumados.
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É agradável parar um pouco numa barraquinha ou num trailer e se deter diante de sua companhia com os olhos lavados e pacientes da noite. Afora o prazer do silêncio depois de deixar o som incessante de uma balada. Um silêncio total, onde se ouve com nitidez uma cigarra trocando de árvore ou as braçadas das estrelas voltando para a margem.
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O final de nossa vida deveria ter a mesma fome. Não o conformismo. Não a desistência. Não o cansaço das virtudes e a complacência dos defeitos. Não a resignação de que já se fez o melhor e agora é tarde.
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Manter a fome como se a vida fosse terminar a cada dia que passamos. Supor que se morrerá logo mais e ser um condenado à vida. Porque quem está com dias contados aprende a ser um condenado da vida e se liberta da morte. Da idéia da morte como extinção. Já quem pensa que pode viver até os 80 anos, é um condenado da morte e não aproveita nada, porque deixa para depois o que não virá a tempo.
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Se eu morresse hoje, treparia com a minha mulher até perder a coordenação das pernas, largaria a caixa de mensagens e o computador e sairia com os amigos, telefonaria para conhecidos que não vejo há dez ou quinze anos, compraria presentes para os sobrinhos, deixaria minha mãe falar sem interromper, seria mais sutil como as mulheres, menos apressado como os homens, escreveria loucamente as memórias dos dias que não estarei aqui, experimentaria comidas exóticas, freqüentaria a praia de madrugada sem temor de assaltos, pularia ondas para me lembrar das voltas largas e do estalido da corda na escola, visitaria a casa de minha infância, não seguiria pedidos como o de não pisar na grama ou não conversar com o motorista, tornaria-me uma oração insubordinada, dançaria com a música das lojas e dos supermercados, subiria nas árvores com os filhos para jogar frutas nos outros bem escondido, andaria no cemitério para decorar lápides desconhecidas com flores, não sairia mais de guarda-chuva, leria o jornal com canetinha colorida, daria minhas roupas para os amigos que mais amo para vestirem em meu enterro, iria ser coroinha por uma missa, confessaria minha vida a um garçom.
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Se eu morresse hoje, iria curiosamente esquecer de morrer, tão ocupado em me despedir.
Fabrício Carpinejar
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"Vejo seus vizinhos... o trem, o ônibus, uma chuva permanente que vem do chafariz. É uma casa povoada, onde podem ser percebidos os ruídos ancestrais".
Fabrício Carpinejar
Fabrício Carpinejar
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Nada mais bonito do que um casal se admirando
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Pode-se admirar um homem sem amá-lo. Mas não amar um homem sem admirá-lo.
Fabrício Carpinejar
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* Que venham os dias de sol. :)
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Comentários
tenho acompanhado o teu blog inspirado e inspirador.
E, particularmente hoje, ao ler a tua reflexao sobre as partidas das pessoas da tua vida, me identifiquei...
Sim... ha sempre os momentos de partida... algumas vezes tantas acumuladas que pensamos ficar sozinhas na imensidao da rua chuvosa e vazia...sem taxi, sem transporte, sem vizinhos olhando pela janela... apenas casa mortas no escuro de todas as esquinas.
Mas sempre que penso nas partidas, faco o mesmo balanco que fizeste...acaba que o saldo eh sempre positivo.
As pessoas partem... as vezes nao fisicamente mas mudam tanto, se transformam tanto, que ja nao a conseguimos reconhecer. Ou sera que mudamos nos?
Beijo, querida!
Na vida a gente tem que deixar ir para que vir coisas novas, boas, verdadeiras.
Qtas vezes ficamos retendo, achando que ainda dá, que não é bem assim, que pode melhorar, que não foi bem aquilo que se quis dizer ou fazer e no fim, é só um tempo que se estica à toa. Deixar ir, faz parte da vida e não quer dizer necessariamente que que mudará para pior ou melhor, apenas mudará, o resto é conosco.
bjo querida e muita, muita sorte na vida!
bjo querida
angel
Queria um assim pra mim ;)
bjo
angel
Espero que tudo que não queiras mais seja carregado por essa chuva que agora cai diante de teus olhos. E que, ao amanhecer, o sol reflita teus olhos de esperança e felicidade.
Beijos, irmãzinha.