AMOR VIRTUAL
Foto Rui Cardoso
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Acredito em amor virtual. Não adianta se valer do ceticismo da carne e dizer que a distância engana, que as pessoas não se conhecem, que pode haver desfeita e desilusão. Acredito em amor virtual. Pois nada é mais expansivo e verdadeiro do que se conhecer pela linguagem. Nada é mais íntimo e pessoal do que se doar pela linguagem.
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Não serei convencido da frieza do relacionamento na web, da articulação de fachadas e pseudônimos, da ironia e dos subterfúgios denunciados nos chats. O que acontece na internet reproduz a vida com seus defeitos e virtudes, não se pode exagerar na desconfiança. O amor virtual é tão real quanto o sangue. Não preciso enxergar o sangue para verificar se ele corre. O amor virtual trabalha com a expectativa e a ansiedade. Como um teatro que se faz de improviso, com a ardência de ser aceito aos poucos, sem o temor e os avisos em falso do rosto.
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Na correspondência, há a esperança de ser amado e de entreter as dores. A esperança aceita tudo, transforma todo troco em investimento. Um gesto de redobrada atenção, uma resposta alentada, uma frase diferente, um cuidado excessivo, a cordialidade do eco e o amor se instala.
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Não há o julgamento pelas aparências (que se assemelha a uma execução sumária), mas o julgamento em função do que se imagina ser, do que se deseja, do que se acredita. São raros os momentos em que se pode fechar os olhos para adivinhar. Adivinhar é delicioso - é se dedicar com intensidade às impressões mais do que aos fatos. Alguns dirão que é alienação permanecer horas e horas teclando ou diante de uma câmera e do computador. Mas é envolvimento, amizade, compromisso. É pressentir o cheiro, formigar os ouvidos, seduzir devagar. Não conheço paixão que não ofereça mais do que foi pedido.
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Quem reclamava da ausência de preliminares deve comemorar o amor virtual? Nunca se teve tanta preliminar nas relações, rodeios, educação. Fica-se excitado por falar. Devolve-se à fala seu poder encantatório de persuadir. Afora o espaço democrático: um conversa e o outro responde. Findou o temporal de um perguntar para outro fingir que está ouvindo. No amor virtual, a linguagem é o corpo. Dar a linguagem é entregar o que se tem de mais valioso. É esquecer as roupas na corda para escutar a chuva. É recordar de memórias imprevistas como do tempo em que se ajudava à mãe a contornar com o garfo a massa do capeletti. Conversa-se da infância, dos fundos do pátio, do que ainda não se tinha noção, sem ficar ridículo ou catártico. Abre-se a guarda para olhares demorados nos próprios hábitos. A autocrítica se converte em humor; a compreensão, em cumplicidade. É uma distração para concentrar. Uma distração para dentro. Vive-se com mais clareza para contar e se narrar.
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Amor virtual é conhecer primeiro a letra, para depois conhecer a voz. A letra é o quarto da voz.
Fabrício Carpinejar
Fabrício Carpinejar
Comentários
Receio que as implicações ruins, como distância ou mesmo impossibilidade de uma relação mais "regular", no que diz respeito a tempo/presença física foram subestimadas.
De qualquer forma, pra quem consegue matar essa bola no peito e fazer o gol, parabéns! Quem sabe mesmo eu um dia seja capaz?
Beijo pra tiiiiiiiii!
Agora não sei se é melhor ou pior. Não há receita nem remédio. Pode frustrar, pode alegrar, pode ser pra vida toda, pode não dar em nada.
De todo modo, tenho contato hoje somente por computador de gente com quem jamais estive ou de quem nem conheço a voz. Mas com quem gosto bastante de trocar idéias e que sinto que estão perto de mim, às vezes mais perto que pessoas da minha convivência cotidiana.
Você, por exemplo.
Beijos.
Belo blog.
Perguntinha. '-' Como eu faço para botar essa foto grande?? ;_;
Um carinho.
Pensei que tinha recontrado, mas não. Tô ok e tranquila pq sei que VC esta chegando pra mim. ;)
bjo a todos e obrigada!
bejios joao