Afinidade Eletiva


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"E assim descansam os dois amantes um ao lado do outro.
A quietude paira sobre sua morada; anjos serenos, seus afins,
olham-nos do espaço. E que momento feliz aquele
em que, um dia, despertarão juntos"
Epílogo de "Afinidades Eletivas"

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Já maduro, com 60 anos, Goethe retoma o tema da paixão avassaladora com todas as suas implicações e conseqüências escrevendo “As Afinidades Eletivas”. Utilizando-se do princípio químico pelo qual dois elementos agregados se separam para unirem-se a dois outros elementos, Goethe constrói uma alegoria para demonstrar a determinação das forças da natureza no tocante à atração irrefreável que junta as pessoas. O título do livro foi extraído das Ciências Naturais; trata-se de uma expressão attractionibus electivis, usada para designar a atração entre dois elementos químicos diferentes, mas afins. Coincidentemente a personagem feminina principal também se chama Charlotte. Ela e o marido recebem em seu castelo um amigo e uma sobrinha. Na convivência diária as afinidades entre as pessoas vão se tornando mais evidentes e com o passar do tempo uma paixão irresistível irrompe desestruturando a vida do casal. O livro coloca muita coisas em questão: a fidelidade, o casamento e o significado do amor. A par disso, a mulher aparece no romance não como símbolo ou joguete nas mãos dos homens, mas na condição de interlocutora dotada de inteligência e de vontade.
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Sou fã de Goethe justamente pela paixão com que escreveu seus romances, bem como levou sua vida. Goethe começou a escrever Der Wahlverwandtschaften ("Afinidades eletivas"), em 1808 e só terminaria ao final do ano seguinte.
Este romance está centrado na análise moral e psicológica do jogo de atratividade e repulsa entre casais ligados por atrações inevitáveis e trata da explosão da paixão em um mundo cuja ordem é por demais frágil para suportar essa invasão. Fala de afinidades magnéticas animais que atrairiam os seres humanos entre si do mesmo modo que os elementos químicos. Nele Goethe considera o matrimônio uma "síntese de impossibilidades".
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Dificilmente encontrarei uma definição melhor para o casamento do que a de Goethe: síntese de impossibilidades. Talvez indo além na impermanência das relações afetivas de hoje, dá pra dizer que já o namoro é uma "síntese de impossibilidades."
Sair vencedor dessas impossibilidades nem sempre significa ficar junto, muitas vezes se dá o contrário e o lucro é grande para ambos que tratarão de ser felizes sem condicionar isso a um parceiro.
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"Poder descansar um dia ao lado de quem se ama é a esperança mais agradável que uma pessoa pode nutrir, se alguma vez pensar no além da vida, “reunir-se aos seus” é uma expressão tão comovedora!
Há vários monumentos e homenagens que nos fazem sentir próximos dos ausentes e dos mortos, mas nenhum tem a significação de um retrato. Conversar com o retrato de uma pessoa querida, ainda que não seja muito parecido, tem o mesmo encanto que às vezes experimentamos ao discutir com um amigo. Sentimos de um modo agradável que somos dois seres, porém inseparáveis.
Por vezes conversamos com uma pessoa presente como se ela fosse um retrato. Ela não precisa falar, olhar-nos, nem ocupar-se conosco; nós a vemos, relacionamo-nos com ela, e esse relacionamento pode até aumentar, sem que ela nada faça para isso, sem que perceba que não passa de um retrato para nós.
Nunca estamos satisfeitos com o retrato de uma pessoa conhecida. Por essa razão sempre lastimei os retratistas. Raramente exige-se o impossível de uma pessoa, e é justamente isso que fazemos com eles. Queremos que registrem na imagem também a nossa relação com a pessoa, a nossa afeição ou antipatia, devem representá-la não como somente eles a vêem, mas como nós a vemos. Não me admira que esses artistas tenham se tornado, aos poucos, obstinados, indiferentes e teimosos. Isso não teria nenhuma importância se, em função disso, não tivéssemos de nos privar dos retratos de tantas pessoas caras e queridas.
Sem duvida alguma, a coleção do arquiteto, de armas e objetos antigos, que, juntamente com os corpos, estavam cobertos por montes de terra e blocos de pedra, demonstra-nos como são inúteis as precauções das pessoas para conservar a sua personalidade após a morte. Como somos contraditórios. O arquiteto confessa ter acerto, ele mesmo, esses túmulos dos antepassados, e, entretanto, continua a se ocupar de monumentos para a posteridade.
Mas porque levar isso tão a sério? Será que tudo o que fazemos é para a eternidade? Não nos vestimos de manhã para tornarmo-nos a despir-nos à noite? Não saímos de viagem justamente para regressarmos? E por que não desejarmos descansar ao lado dos nossos, mesmo que seja só por um século?
Ao vermos tantas lápides afundadas na terra e gastas pelos pés dos fiéis, e tantas igrejas desmoronadas sobre suas próprias tumbas, a vida após a morte pode parecer-nos, então, uma segunda vida, na qual se ingressa através de uma imagem, de uma inscrição, e na qual se permanece mais tempo que nesta própria vida. Mas essa imagem, essa segunda existência também se extingue, mais cedo ou mais tarde. O tempo não cede em seus direitos sobre os homens, nem sobre os monumentos. (...)”

Trecho daqui.
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O livro de Goethe originou o filme "Afinidades Eletivas" que se passa na Toscana, final do século XVIII.
Numa casa de campo, o jovem casal Edoardo e Carlotta recebe a visita de Ottone e Ottilia. Juntos fazem experiências que demonstram que certos elementos possuem afinidades eletivas, ou seja, uma atração especial um pelo outro. Das experiências, nascem novas relações amorosas entre os casais. Um belo filme com interpretações memoráveis.
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Comentários

Andréia Lino disse…
Dea meu anjo estou em falta com seu blog, affffffffff tento vim aki + a montanha de pesquisa q estou fazendo me impede, acredite e não vou mentir, vim aki apenas deixar esse recado, não li nada e nem vou poder. preciso tirar um tempo para ficar igual a esse moço ai da foto a baixo de pernas pro ar só lendo suas postagens q adoro.

tenho q ir bjoka da dedéia aki

voltarei

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