Lya Luft
“Gosto das coisas – pessoas e palavras – desconcertantes. Seus contornos imprecisos permitem que a gente exerça o direito de refletir e de criar em cima delas.”
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Hoje zapeando pelos canais da TV a cabo, acabei parando numa entrevista de Lya Luft. Ela divulgava o novo livro: " O silêncio dos Amantes."
Uma delícia de entrevista, como sempre. A Lya, que virou um ícone da mulher madura por causa de "Perdas e Ganhos", vive como o que escreveu nesse livro ou seja, ela se aceita.
"Perdas e Ganhos" traduzido para o mundo, conseguiu a proeza de se fazer entender em todas as línguas. Os sentimentos, o tempo, o envelhecimento trazendo ganhos e não só a perda da juventude é compreendido em qualquer idioma. Adorável.
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Mais do que a literatura de Lya, eu adoro a vida dela. Engraçado isso, mas gosto de saber que ela começou a escrever poesia por causa de um grande amor, que parou quando perdeu aquele que seria o seu segundo grande amor, Hélio Pellegrino, que expurgou sua dor de forma belíssima em "O lado fatal."
E agora prestes a fazer 70 anos, ela esta apaixonada de novo. Maravilhoso não só para alguém dessa idade, mas principalmente por dar aval ao que escreve, fala e pensa. Cheia de planos e plena, assim Lya Luft vive.
Gosto de pessoas que conseguem sobreviver e voltar a realmente viver a vida, por isso e pela poesia de Lya, gosto tanto dela.
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Sempre digo e acredito realmente que o amor salva. Qualquer tipo de amor. Seja o do amigo, o dos pais, do homem ou da mulher amada, o amor tem esse poder transformador. Não entendo a vida sem estar apaixonada e quando não estou, os dias são cinzas como os desse do feriadão. Parece que se abate sobre mim todo o inverno do mundo e isso é muito triste.
Uma delícia de entrevista, como sempre. A Lya, que virou um ícone da mulher madura por causa de "Perdas e Ganhos", vive como o que escreveu nesse livro ou seja, ela se aceita.
"Perdas e Ganhos" traduzido para o mundo, conseguiu a proeza de se fazer entender em todas as línguas. Os sentimentos, o tempo, o envelhecimento trazendo ganhos e não só a perda da juventude é compreendido em qualquer idioma. Adorável.
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Mais do que a literatura de Lya, eu adoro a vida dela. Engraçado isso, mas gosto de saber que ela começou a escrever poesia por causa de um grande amor, que parou quando perdeu aquele que seria o seu segundo grande amor, Hélio Pellegrino, que expurgou sua dor de forma belíssima em "O lado fatal."
E agora prestes a fazer 70 anos, ela esta apaixonada de novo. Maravilhoso não só para alguém dessa idade, mas principalmente por dar aval ao que escreve, fala e pensa. Cheia de planos e plena, assim Lya Luft vive.
Gosto de pessoas que conseguem sobreviver e voltar a realmente viver a vida, por isso e pela poesia de Lya, gosto tanto dela.
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Sempre digo e acredito realmente que o amor salva. Qualquer tipo de amor. Seja o do amigo, o dos pais, do homem ou da mulher amada, o amor tem esse poder transformador. Não entendo a vida sem estar apaixonada e quando não estou, os dias são cinzas como os desse do feriadão. Parece que se abate sobre mim todo o inverno do mundo e isso é muito triste.
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Relacionar-se é uma aventura, fonte de alegria e risco de desgosto. Na relação defrontam-se personalidades, dialogam neuroses, esgrimem sonhos e reina o desejo de manipular disfarçado de delicadeza, necessidade ou até carinho. Difícil? Difícil sem dúvida, mas sem essa viagem emocional a existência é um deserto sem miragens.
No relacionamento amoroso, familiar ou amigo acredito que partilhar a vida com alguém que valha a pena é enriquecê-la; permanecer numa relação desgastada é suicídio emocional, é desperdício de vida. Entre fixar e romper, o conflito e o medo do erro.
Lya Luft - trecho de "A alma do outro."
No relacionamento amoroso, familiar ou amigo acredito que partilhar a vida com alguém que valha a pena é enriquecê-la; permanecer numa relação desgastada é suicídio emocional, é desperdício de vida. Entre fixar e romper, o conflito e o medo do erro.
Lya Luft - trecho de "A alma do outro."
Como fontes que de noite brandamente
boca a boca trocam seus segredos d'água,
tocam-se os amantes, no afago
da lúcida paixão secreta dessas águas.
.
Assim, bocas sequiosas, os que estão apartados
deixam que brotem, fundam-se, retornem
os seus recados de amor como num lago.
Lya Luft - O Silêncio dos Amantes
boca a boca trocam seus segredos d'água,
tocam-se os amantes, no afago
da lúcida paixão secreta dessas águas.
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Assim, bocas sequiosas, os que estão apartados
deixam que brotem, fundam-se, retornem
os seus recados de amor como num lago.
Lya Luft - O Silêncio dos Amantes
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Paixão
Está apaixonada, e - incrédula - descobre que é correspondida
Isso que parece hoje tão simplório olhado de fora dava-lhe um senso de plenitude e poder que nunca mais conheceria.
Não precisava de mais nada. Nem Deus pode tirar isso de mim, pensava.
Um inocente beijo diante da porta da casa, e o vestíbulo transforma-se em céu
Por muito tempo ficará transfigurada por essa intimidade.
Por mais experiências que venha a ter como mulher, o momento não se repetirá, e dificilmente se paga.
Nunca mais haverá uma primeira vez, nunca mais a mesma candura de acreditar que tudo aquilo era eterno.
Foram-se os amores que tive ou me tiveram: partiram num cortejo silencioso e iluminado.
O tempo me ensinou a não acreditar demais na morte nem desistir da vida: cultivo alegrias num jardim onde estamos eu, os sonhos idos, os velhos amores e seus segredos.
E a esperança - que retrilha como pedrinhas de cores entre as raízes.
Lya Luft in Secreta mirada
Está apaixonada, e - incrédula - descobre que é correspondida
Isso que parece hoje tão simplório olhado de fora dava-lhe um senso de plenitude e poder que nunca mais conheceria.
Não precisava de mais nada. Nem Deus pode tirar isso de mim, pensava.
Um inocente beijo diante da porta da casa, e o vestíbulo transforma-se em céu
Por muito tempo ficará transfigurada por essa intimidade.
Por mais experiências que venha a ter como mulher, o momento não se repetirá, e dificilmente se paga.
Nunca mais haverá uma primeira vez, nunca mais a mesma candura de acreditar que tudo aquilo era eterno.
Foram-se os amores que tive ou me tiveram: partiram num cortejo silencioso e iluminado.
O tempo me ensinou a não acreditar demais na morte nem desistir da vida: cultivo alegrias num jardim onde estamos eu, os sonhos idos, os velhos amores e seus segredos.
E a esperança - que retrilha como pedrinhas de cores entre as raízes.
Lya Luft in Secreta mirada
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Que mão se enfia entre minhas raízes,
que paixão me esventra o coração?
Abro caminho na liberdade de uma folha,
e escrevo lentamente a palavra secreta.
E ela,preguiçosamente, abre-me os braços
esquiva donzela ou feio palhaço. Uma palavra apenas,
no mistério maior
de uma página intacta ou no emaranhado dos traços:
o nome que não posso pronunciar sem medo,
enquanto invento outros, que resumem
a verdade da vida na mentira que assino.
Lya Luft
que paixão me esventra o coração?
Abro caminho na liberdade de uma folha,
e escrevo lentamente a palavra secreta.
E ela,preguiçosamente, abre-me os braços
esquiva donzela ou feio palhaço. Uma palavra apenas,
no mistério maior
de uma página intacta ou no emaranhado dos traços:
o nome que não posso pronunciar sem medo,
enquanto invento outros, que resumem
a verdade da vida na mentira que assino.
Lya Luft
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O Homem que Criou Asas
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Era um homem, um homem comum, que um comum destino parecia controlar inteiramente.
Um animal bem treinado.
Um dia, sentiu um incômodo nos dois ombros, distensão muscular, má posição no trabalho…
Foi piorando e resolveu olhar-se no espelho, de lado, inteiro e nu depois do banho: não havia dúvida, duas saliências oblíquas apareciam em sua pele abaixo dos ombros.
Teve medo mas decidiu não comentar com ninguém, e como não transava freqüentemente com a mulher, conseguiu esconder tudo quase um mês.Fez como via fazer sua mulher: pegou de cima da pia um espelho redondo no qual ela ajeitava o cabelo, e passou a analisar todo dia aquele fenômeno que em vez de o assustar agora o intrigava.
Curioso mas sem sofrer – pois não doía -, foi observando aquilo crescer. E pensava:Nem adianta ir ao médico, porque se for um tumor (ou dois) tão grande, não tem mais remédio, é melhor morrer inteiro do que cortado.
Certa vez, quando se masturbava no banheiro, na hora do prazer sentiu que elas enfim se lançavam de suas costas, e viu-se enfeitado com elas, desdobradas como as asas de um cisne que apenas tivesse dormido e, acordando, se espojasse sobre as águas.
Ficou ali, nu diante do espelho, estarrecido.
Agora ele não era apenas um homem comum com contas a pagar, emprego a cumprir, família a sustentar, filhos a levar para o parque, horários a cumprir: era um homem com um encantamento.
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Era um homem, um homem comum, que um comum destino parecia controlar inteiramente.
Um animal bem treinado.
Um dia, sentiu um incômodo nos dois ombros, distensão muscular, má posição no trabalho…
Foi piorando e resolveu olhar-se no espelho, de lado, inteiro e nu depois do banho: não havia dúvida, duas saliências oblíquas apareciam em sua pele abaixo dos ombros.
Teve medo mas decidiu não comentar com ninguém, e como não transava freqüentemente com a mulher, conseguiu esconder tudo quase um mês.Fez como via fazer sua mulher: pegou de cima da pia um espelho redondo no qual ela ajeitava o cabelo, e passou a analisar todo dia aquele fenômeno que em vez de o assustar agora o intrigava.
Curioso mas sem sofrer – pois não doía -, foi observando aquilo crescer. E pensava:Nem adianta ir ao médico, porque se for um tumor (ou dois) tão grande, não tem mais remédio, é melhor morrer inteiro do que cortado.
Certa vez, quando se masturbava no banheiro, na hora do prazer sentiu que elas enfim se lançavam de suas costas, e viu-se enfeitado com elas, desdobradas como as asas de um cisne que apenas tivesse dormido e, acordando, se espojasse sobre as águas.
Ficou ali, nu diante do espelho, estarrecido.
Agora ele não era apenas um homem comum com contas a pagar, emprego a cumprir, família a sustentar, filhos a levar para o parque, horários a cumprir: era um homem com um encantamento.
Eram umas asas muito práticas aquelas, porque desde que usasse camisa um pouco larga acomodavam-se maravilhosamente debaixo das roupas. Em certas noites, quando todos dormiam, ela saía para o terraço, tirava a roupa e varava os ares…
Sua mulher notou alguma coisa diferente no corpo do seu marido. Estava ficando curvado, tantas horas na mesa de trabalho. Nada mais que isso. Embora a mãe lhe tivesse dito que “com homem é sempre melhor confiar desconfiando”, daquele seu homem pacato ela jamais imaginaria nada muito singular.
- Você vai acabar corcunda desse jeito, aprume-se - ela dizia no seu tom de desaprovação conjugal.
As coisa se complicaram quando, já habituado à sua nova condição, o homem-anjo olhou em torno e, sendo ainda apenas um homem com asas, sentiu-se muito só. E começou a pensar nisso. E olhou em torno e se apaixonou.
Na primeira noite com sua amante, esqueceu o problema, tirou a roupa toda, e quando ela começava a apalpar-lhes as costas o par de asas se abriu, arqueou-se unindo as pontas bem no alto por cima dele, na hora do supremo prazer.
Mas essa mulher/amante não se assustou, não se afastou.
Apertou-se mais a ele, e dizia: vem comigo, vem comigo, vem comigo.
E abriu suas asas também.
Lya Luft in Historias do Tempo.
Sua mulher notou alguma coisa diferente no corpo do seu marido. Estava ficando curvado, tantas horas na mesa de trabalho. Nada mais que isso. Embora a mãe lhe tivesse dito que “com homem é sempre melhor confiar desconfiando”, daquele seu homem pacato ela jamais imaginaria nada muito singular.
- Você vai acabar corcunda desse jeito, aprume-se - ela dizia no seu tom de desaprovação conjugal.
As coisa se complicaram quando, já habituado à sua nova condição, o homem-anjo olhou em torno e, sendo ainda apenas um homem com asas, sentiu-se muito só. E começou a pensar nisso. E olhou em torno e se apaixonou.
Na primeira noite com sua amante, esqueceu o problema, tirou a roupa toda, e quando ela começava a apalpar-lhes as costas o par de asas se abriu, arqueou-se unindo as pontas bem no alto por cima dele, na hora do supremo prazer.
Mas essa mulher/amante não se assustou, não se afastou.
Apertou-se mais a ele, e dizia: vem comigo, vem comigo, vem comigo.
E abriu suas asas também.
Lya Luft in Historias do Tempo.
Comentários
Coisa linda, Anja, tanto quanto você!
E esse "O Homem que Criou Asas", então...
Beijo pra tiiiiiiii! :-)
bjimm querido
beijos joao
Uma mulher de poucos e grandes amores e que continua pagando pra ver, mesmo aos 70 anos. Muito, né?
bjimm