Essa história é tão incrível que resolvi copiar da Veja Rio e postar aqui pra vocês. Já fui noiva de um jornalista que conheci numa lista de poesias da net, sei bem o que é isso...Nunca te vi, sempre te amei, coisas que só quem já viveu entende.
Leo e Juan
Leo e Juan
"E se ela for homem?" Amigos de Leonardo Martins tentaram de tudo para dissuadir o caricaturista e ilustrador carioca, na época aos 27 anos, da idéia maluca de buscar na China a mulher virtual de sua vida. A engenheira de computação Bao Hong Juan, 25 anos, esperava por ele na casa dos pais, em Kunming, cidade de 1 milhão de habitantes quase na fronteira com a Tailândia e o Vietnã. Estava, ela também, cheia de minhocas na cabeça. "E se ele for mais de uma pessoa?" - especulou uma prima ao descobrir o relacionamento eletrônico que se manteve secreto por longos dez meses.
Leo e Juan "conheceram-se" num dia de tédio global. Era hora de almoço no banco em que ela trabalhava, madrugada quente no Brasil, quando o nome dele deu mole no programa de busca aleatória em que Juan procurava papo na internet. Um ano depois, eles alcançaram a marca de 1.500 páginas de namoro escritas em sessões diárias de até quatro horas de duração no sistema de troca de mensagens instantâneas conhecido como ICQ. Das decepções amorosas ao horror a cigarros, tudo neles se conectava. No quinto dia de correspondência, já tramavam casamento.
A história de Leo e Juan deixa de ser igual a tantas na rede mundial de computadores no dia em que ele acumula o dinheiro necessário para chegar à China pelo caminho mais barato. Entre o Rio e Kunming foram quatro noites dormindo em aviões e aeroportos, mas essa parte da aventura já era esperada. A ação só ganha ritmo de thriller na escala em Hong Kong. Uma tia da noiva, residente na cidade, tratou de dar as boas-vindas da família e, depois de jantar em restaurante, embarcou o visitante em ônibus errado de volta ao aeroporto. "Você não sabe o que é ficar perdido de madrugada numa região de Hong Kong onde ninguém fala inglês."
Visto que nada poderia separar aqueles dois depois de conectados por beijos, abraços e apertos generalizados, os pais de Juan passaram a zelar pela organização dos ritos, liberando os pombinhos para tratar da imigração. Aí começa outro filme. Em busca dos catorze carimbos de que Juan precisava para deixar a China, foram duas viagens a Pequim em menos de trinta dias, enquanto tudo o mais transcorria nos conformes: casamento civil na prefeitura de Kunming e na Embaixada do Brasil, festa para 100 pessoas em restaurante alugado na província. A cerimônia religiosa na casa da noiva merece parágrafo à parte.
Como os Bao Hong são muçulmanos, o católico Leo aceitou de cara converter-se, antes do sacramento do matrimônio pelas leis do Islã. O noivo não se apertou nem quando, a certa altura do rito sagrado, lhe pediram (ele jura não ter sido alertado a respeito) que oferecesse um dote à noiva. Leo enfiou a mão no bolso, achou uma nota de 10 reais e a entregou a Juan, que guarda a cédula como relíquia nupcial. Ele também levou a sério a abstinência religiosa à carne de porco. De vez em quando rola um ramadã.
Parece até coisa de Deus, mas foi obra de amigos influentes no Brasil e na China o jeitinho que deram para Juan chegar a Hong Kong a tempo de pegar o vôo de Leo, que tentava havia dias, sem sucesso, adiar sua volta. Para ela, que do exterior guardava a vaga lembrança de uma ida ao Nepal, a liberdade parecia sonho, fantasia tão real quanto tantas que viu de queixo caído ao desembarcar em Ipanema no dia do desfile da banda que leva o nome do bairro. A primeira pessoa que Juan conheceu no Brasil foi um amigo do sogro vestido de mulher.
Aconteceu há três Carnavais, fevereiro de 2001, e nos meses seguintes deu um trabalho danado contar essa história a amigos. "Como ficou muito cansativo sustentar a verdade", explica Leo, "inventamos uma história mais aceitável a nosso respeito." Ela teria vindo ao Brasil, conhecido Leo, blá-blá-blá... O tempo, esses três anos de delicadeza correspondida, transformou toda aquela maluquice em case de felicidade. Favor não confundir com modalidade de auto-ajuda. "A gente não recomenda nossa história a ninguém", avisa Leo Martins. Juan também sabe que tirou a sorte grande no correio eletrônico do amor. "As pessoas mentem muito na internet."
Quando saiu da casa do pai de Leo, o casal mudou-se para um quarto-e-sala apertadinho em prédio comercial misto no centro nervoso de Copacabana, onde vive até hoje. Ela custou a arranhar o português - o romance foi todo escrito em inglês -, mas já consegue dizer "três", "camarão", sem trocar o "erre" pelo "ele". Aprendeu muito mais rapidamente a cozinhar. Faz pratos chineses com o mesmo paladar apurado das moquecas que a avó baiana do marido lhe ensinou a pilotar. O fogão virou sua segunda paixão, mas engana-se o leitor que imagina um final de novela das 6 para a aventura de Leo & Juan.
Os dois estão tramando de novo, um a favor do outro. Não ambicionam pouca coisa, não. Juan quer ajudar o companheiro a chegar aonde merece. "Imagino ele trabalhando para o New York Times." Na bola de cristal de Leo, a engenheira de computação desempregada desde que chegou ao Brasil vai virar uma bem-sucedida chef de cozinha. Planejam passear pela China no fim do ano e, um dia, morar nos EUA ou na Inglaterra. Estão tão certos disso quanto estavam do casamento desde o dia em que se conheceram.
Tutty Vasques
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