Dia Internacional da Mulher
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No Dia Internacional da Mulher os pps se sucedem, as mensagens inaltecendo a mulher, sua força, beleza, raça enchem as caixas de correio. Acho ótimo, de verdade, mas hoje eu queria uma coisa diferente. Queria escritoras, poetas, fotógrafas, mulheres com seus olhares únicos. Hoje eu queria e quero isso...
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Canção da Plenitude
"Quando eu era mais jovem tudo fluía com muito ímpeto, mas nem sempre com mais beleza. "A afobação prejudica o amor", disse-me alguém um dia, e concordei muitos anos depois. A maturidade me permite olhar com menos ilusões, aceitar com menos sofrimento, entender com mais tranqüilidade, querer com mais doçura. Se alguém me amar na minha madureza, não será pela carne jovem, mas por alguma coisa além. Por isso, dentro de mim, aqui no fundo, amadurecer instaura uma nova liberdade. Se você me buscou é porque não exige de mim o que fui há vinte anos: mas quer o que posso ser agora, vê, com seus olhos também maduros, uma riqueza que prescinde do convencional. Isso é muito mais cálido e especial do que o amor dos quinze anos, quando ser feliz parecia apenas natural. Hoje, é um presente de maior requinte, e sei que posso lhe retribuir na mesma altura. Não tenho mais os olhos de menina, nem corpo de adolescente, e a pele translúcida há muito se manchou. Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura agranada pelos anos e o peso dos fardos bons e ruins. (Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.) O que posso te dar é mais que tudo o que perdi: dou-te os meus ganhos. A maturidade que consegue rir quando em outros tempos choraria, busca te agradar quando antigamente quereria apenas ser amada. Posso dar-te muito mais do que beleza e juventude agora: esses dourados anos me ensinaram a amar melhor, com mais paciência e não menos ardor, a entender-te se precisas, a agradar-te quando vais, a dar-te o regaço de amante e colo de amiga, e sobretudo a força, que vem do aprendizado. Isso te posso dar: um mar antigo e confiável cujas marés, mesmo se fogem, retornam, cujas correntes ocultas não levam destroços mas o sonho interminável das sereias."
Lya Luft
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Escolha
Eu te amo como um colibri resistente
incansável beija-flor que sou
batedora renitente de asas
viciada no mel que me dás depois que atravesso o deserto.
Pingas na minha boca umas gotas poucas
do que nem é uma vacina.
Eu uma mulher, uma ave, uma menina…
Assim chacinas o meu tempo de eremita:
quebras a bengala onde me apoiei, rasgas minhas meias
as que vestiram meus pés
quando caminhei as areias.
Eu te amo como quem esquece tudo
diante de um beijo:
as inúmeras horas desbeijadas
os terríveis desabraços
os dolorosos desencaixes
que meu corpo sofreu longe do seu.
Elejo sempre o encontro
Ele é o ponto do crochê.
Penélope invertida
nada começo de novo
nada desmancho
nada volto.
Teço um novo tecido de amor eterno
a cada olhar seu de afeto
não ligo para nada que doeu.
Só para o que deixou de doer tenho olhos.
Cega do infortúnio
pesco os peixes dos nossos encaixes
pesco as gozadas
as confissões de amor
as palavras fundas de prazer
as esculturas astecas que nos fixam
na história dos dias.
Eu te amo.
De todos os nossos montes
fico com as encostas
De todas as nossas indagações
fico com as respostas
De todas as nossas destilairias
fico com as alegrias
De todos os nossos natais
fico com as bonecas
De todos os nossos cardumes
as moquecas.
Elisa Lucinda

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Liberdade - essa palavra
Que o sonho humano alimenta
Que não há ninguém que explique,
E ninguém que não entenda!
Cecília Meireles
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Madison County, 07 de janeiro de 1987

Queridos Filhos,

Ainda que me sinta bem, creio que é hora de por minhas coisas em ordem. Existe algo muito importante, que vocês devem saber...

Para mim é difícil escrever isto a meus próprios filhos, mas devo fazê-lo. Aqui há algo que é demasiadamente forte, demasiadamente belo, para que morra comigo.Como já descobriram, ele se chamava Robert Kincaid. Era fotógrafo e esteve aqui em 1965, fotografando as pontes. Recordam como a cidade estava emocionada quando as fotos apareceram no National Geographic? Recordam também que por essa época comecei a receber a revista. Agora conhecem o motivo de meu repentino interesse. A propósito eu estava com ele (levando uma das mochilas com as câmaras), quando tomou a foto da ponte principal.

Entendem que amei o pai de vocês de uma maneira tranqüila. Ele foi bom comigo e me deu vocês dois a quem amo muito. Não o esquecem. Mas Robert Kincaid foi muito diferente. A primeira vez que o vi foi quando me pediu orientação para chegar a ponte Roseman. Vocês e seu pai estavam na Feira Estadual de Illinois. Creia-me, eu não andava buscando nenhuma aventura. Isso era a última coisa que ocupava minha mente. Mas ao mirá-lo soube que o desejava, ainda que não tanto como cheguei a desejá-lo depois.

Ele era um pouco tímido, e eu tive que perceber o que estava se passando. A nota guardada junto com sua pulseira é a que eu preguei na ponte Roseman para que ele a visse, na manhã depois de conhecermos. As fotos minhas que ele conservava foram a única prova que ele teve, ao longo dos anos, de que eu existia, de que não era algum sonho que ele havia tido.

Em nossa velha cozinha, Robert e eu passamos horas juntos. Falamos e dançamos a luz de velas. E, sim, fizemos amor ali , no dormitório , no jardim e em qualquer outro lugar que pensem. Era uma relação incrível, poderosa, transcendente, e continuou durante dias, quase sem parar. Sempre tenho empregado a palavra forte ao pensar nele. Porque assim era quando nos conhecemos. Era como uma flecha na sua intensidade.

Filhos, compreendam que trato de expressar algo que não se pode dizer com palavras. Só desejo que algum dia os dois possam viver o que eu experimentei.Se não fosse por seu pai e por vocês, eu teria ido a qualquer lugar com ele. Ele me pediu, me suplicou que o acompanhasse. Mas eu não pude fazê-lo e ele era uma pessoa muito sensível e afetuosa para interferir nas nossas vidas.
O paradoxo é que se não houvesse sido por Robert, não estou segura de ter podido permanecer aqui por todos esses anos. Em quatro dias me deu toda uma vida, um universo, e uniu em uma só as partes separadas de mim. Nunca deixei de pensar nele, nem por um momento. ainda quando não se achava em minha mente consciente, o sentia em alguma parte, estava sempre ali.

Mas isso nunca diminuiu o que sentia por vocês dois e pelo seu pai. Ao pensar só em mim por um momento, não estou segura de ter tomado a decisão correta. Mas tendo em conta a família, creio com bastante certeza que sim.

Não quero que sintam culpa ou lástima por nós. Só quero que saibam o quanto amei "Robert Kincaid". Eu senti dia após dia, durante todos estes anos, o mesmo que ele, ainda que nunca mais voltassemos a nos falarmos, permanecemos unidos tão estreitamente como é possível que se unam duas pessoas. Não consigo encontrar as palavras para expressar-lo da forma adequada. Ele o fez melhor quando me disse que tínhamos deixado de ser dois seres separados, e , em troca, nos tínhamos convertidos em um terceiro, formado pelos dois. Nenhum de nós dois existia independentemente deste ser. E esse ser ficou sem rumo.

Não me envergonho do que Robert e eu vivemos juntos. Eu o amei com desesperação durante todos esses anos, ainda que ,por minhas próprias razões, somente uma só vez tratei de entrar em contato com ele. Foi depois da morte de seu pai. O intento fracassou e temi que houvesse acontecido algo, Assim nunca mais voltei a tentá-lo, por causa desse medo. Simplesmente não podia enfrentar essa realidade. De maneira que agora podem imaginar o que senti quando soube da sua morte.

Como disse, espero que compreendam e não pensem mal de mim. Se me amam, devem amar o que fiz. Robert Kincaid me mostrou como era ser mulher de um modo que poucas mulheres experimentaram. Era atraente e carinhoso, e por certo merece o respeito e talvez o amor de vocês. Espero que possam dar-lhe as duas coisas, a seu próprio modo, através de mim, ele foi bom com vocês.Que sejam felizes, meus filhos.

Mamãe
do filme - As Pontes de Madson

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Encarar a vida pela frente... Sempre... Encarar a vida pela frente, e vê-la como ela é... Por fim, entendê-la e amá-la pelo que ela é... E depois deixá-la seguir... Sempre os anos entre nós, sempre os anos... Sempre o amor... Sempre a razão... Sempre o tempo... Sempre... As horas.
Virginia Woolf

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Vou terminar com a palavra mais bonita do mundo. Assim bem devagarzinho: amor, mas que saudade. A-m-o-r. Beijo-te. Assim como flor. Boca a boca. Mas que ousadia. E agora - agora paz. Paz e vida. Es-tou vi-va. Talvez eu não mereça tanto.
Clarice Lispector
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"Você é aquela com quem todo mundo quer casar? Costuma motivar a rapaziada da construção? Recebe flores de estranhos? Alguém se embriagou por sua causa? Você é o motivo da terapia de alguém? Já levou algum fora? E quantos você já deu? Preocupou-se em dar explicação? Você sabe onde fica a rua da amargura onde moram as hordas dos seus enjeitados, ou simplesmente riscou da agenda? Quantos você é capaz de seduzir ao mesmo tempo? Ou sua mira é só um e, pra você, é presa fácil?


Você tem peitos de Dolly Parker e boca de Angelina Jolie? Ou precisou investir no promissor mercado do silicone? Cruzar as pernas é um lance de dados? Você aprendeu a falar com as sereias? As outras são suas rivais?

O que você espera de um homem? Flores? Tesouros? Poemas? Romance? Que pague as contas e abra a porta do carro? Que lhe peça em casamento? Ou apenas filhos e que depois vá morar na casa da sogra? Seu sonho é a casa cheia, mil mamadeiras e berros? Ou prefere uma empresa multinacional? Quantas fraldas você é capaz de trocar numa hora para agregar valor à sua carreira de mãe?

Ou você é simplesmente uma pessoa meiga, suave e delicada que a todos encanta e seduz com seus gestos respeitosos e suas palavras bem colocadas?

Se você respondeu afirmativamente a todas estas questões saiba que você é a própria, a poderosa, a absoluta fêmea alfa. Mas se vacilou um momento, saiba eu seu destino pode ser bem mais prático como uma fêmea beta, gama, delta..."
Márcia Tiburi

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"Ouse, ouse... ouse tudo!!
Não tenha necessidade de nada!
Não tente adequar sua vida a modelos,
nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém.
Acredite: a vida lhe dará poucos presentes.
Se você quer uma vida, aprenda ... a roubá-la!
Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer.
Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso:
algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!!"

"No mais profundo de si mesmo, o nosso ser
rebela-se em absoluto contra todos os limites.
Os limites físicos são-nos tão insuportáveis quanto
os limites do que nos é psiquicamente possível:
não fazem verdadeiramente parte de nós.
Circunscrevem-nos mais estreitamente do que
desejaríamos."

Lou Andréas-Salomé,in citação de Stéphane Michaud.
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Comentários

Alessandro disse…
Congratulações um pouco atrasadas, minha querida!

Ontem queria ter tido tempo e concentração pra criar um belo post a todas as mulheres que lêem Com Alma e as que não lêem também, mas não foi o caso. Tinha até idéia do que eu queria fazer. Fica pro ano que vem.

Sabe o que eu acho? Faltou um texto seu ali. Não que os demais não sejam capaz de satisfazer - são ótimos, mas imagino que mais palavras suas seriam como uma espécie de coroação definitiva nesta homenagem ao gênero adorado.

Beijão pra ti, Angel! :-)
achei o maximo a foto do cachorro preso com a parte de cima do biquini....muito legal...ah e claro lindas mensagens a este ser tao querido que tem sempre que ser exaltado.
joao
Everaldo Ygor disse…
Olá...
Que bela e instigante homenagem para a Mulher, ao meu ver devem ser "cantadas" todos os dias... Vocês merecem...
Abraços
Everaldo Ygor
Visite:
Mulher em Verso & Prosa
Poema para o Dia Internacional da Mulher...
http://outrasandancas.blogspot.com/

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