"...um olhar profundo e desesperadamente triste, com o qual traduzia um desespero calado, de certo modo irremediável e definitivo, que já se transformava em hábito e forma."
Hermann Hesse





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Foto de Erwin Olaf
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A tragédia denunciada.
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Somos palhaços de uma tragédia denunciada exaustivamente.
Somos palhaços abandonados em pleno picadeiro. Estamos desamparados, entregues.
Ontem foi exatamente assim que me senti. Ali na TV, consumindo em fogo, haviam sonhos, mães, esposas, pais, filhos, filhas, vidas, perdas numa noite de chuva e frio.
Bem ali na TV, alguma coisa não fazia sentido, nem qualquer palavra capaz de descrever o porvir.

Hoje, bem ali na TV, estavam as vítimas e não estavam deitadas lado a lado, mas vagavam pelo local do acidente em busca de notícias, de alguém que pudesse relatar um milagre, de alguém que do outro lado da linha atendesse o celular.
Hoje, amanhã e depois, nunca mais. Continuamos os palhaços de uma tragédia denunciada.

Amanhã? Amanhã haverão tempos diferentes. Para várias famílias o tempo parou num minuto anterior. Na última vez que se viu, ouviu, sentiu aquela pessoa. Aquela que não voltará nunca mais. A mesma que talvez pela pressa cotidiana não abraçamos tanto quanto gostaríamos, não falamos tudo que deveríamos, não ouvimos atentamente o que diziam. O tempo parou, a vida a despeito de tudo continua e o que comove são as vítimas que ficam, seus olhos desamparados que ainda procuram o que não voltarão a ver.
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"Todos os relógios da cidade
Começam a girar e a tocar
Mas não deixe
O tempo te enganar
Pois o tempo
Não há quem conquiste
Em angústias e preocupações
A vida escoa vagamente
E a todos
O tempo há de consumir
Seja agora ou no porvir...
"W.H.Auden, poema citado no filme "Antes do Amanhecer"

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