Alexander: Quem é está atrás da porta?
Voz: É Deus que está aqui, atrás da porta.
Alexander: E não pode avançar um pouco mais?
Voz: Nenhum ser vivo deve ver o rosto de Deus.
Alexander: E o que é que você quer de mim?
Voz: Quero apenas comprovar que eu existo.
Alexander: Fico-lhe muito agradecido. Obrigadinho.
Voz: Pra mim, você não passa de um grão de poeira sem importância nenhuma. Sabia disso?Alexander: Não.
Voz: Aliás, você é muito mau para sua irmã e seus pais, descarado diante dos professores e está sempre com pensamento ruins. Na realidade, não entendo por que é que eu deixo que você continue a viver, Alexander!
Alexander: Não?
Voz: O Sagrado! Alexander! (...) Deus é o mundo e o mundo é Deus. É muito simples.
Alexander: Eu peço muitas desculpas, mas se de fato é como você diz, então, eu também sou Deus!
Voz: Você não é Deus, de jeito nenhum. Você é apenas um pedacinho de merda, cheio de impertinência.
Alexander: Posso afirmar que sou menos impertinente que Deus...”
(Ingmar BERGMAN. Fanny e Alexander. RJ: Editorial Nórdica, 1985)
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30/07/07
Morre um gênio

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Morreu nesta segunda-feira (30), aos 89 anos, o diretor sueco Ingmar Bergman. Considerado um dos mais importantes diretores do século 20, ele é o autor de clássicos como “O sétimo selo”, "Morangos silvestres" e “Cenas de um casamento”.

Sua morte foi "tranqüila e suave", segundo disse Eva Bergman à agência de notícias sueca "TT", que não informou nem a causa nem o momento exato do falecimento. O cineasta estava em sua casa, na ilha sueca de Faaro.

Bergman foi um dos fundadores da Academia Européia de Cinema, em 1988, e durante sua longa carreira, foi indicado ao Oscar nove vezes. Ele venceu a estatueta de melhor filme estrangeiro três vezes. O diretor sueco também foi premiado diversas vezes nos Festivais de Berlim e Cannes.


Trajetória


O diretor sueco começou sua carreira nos anos 1950 e dirigiu mais de 40 filmes, entre eles "Gritos e sussuros" "Fanny e Alexander",“Persona” e "O silêncio" que o elevaram ao status de um dos maiores mestres do cinema moderno.
Nascido no dia 14 de julho de 1918 em Uppsala, ao norte de Estocolmo, Ingmar Bergman foi casado cinco vezes, teve nove filhos e sua vida privada o levou a ser alvo da atenção pública em vários momentos.

Bergman teve casamentos com mulheres belas e talentosas, além de várias relações amorosas com suas atrizes principais, dentre elas, Liv Ullman, com quem teve uma filha, Linn Ullman.
Ullman estrelou dez de seus filmes, entre eles "Cenas de um casamento" (1973), que explora os conflitos sexuais e psicológicos de um casal em crise.

30 anos depois, já separados, Bergman e a atriz voltaram a trabalhar juntos em "Saraband", que mostra a relação dos protagonistas de "Cenas" num outro momento, na terceira idade. "Saraband", de 2003, foi o último filme de Bergman.
Ingmar Bergman exorcizou sua infância traumática por meio de obras-primas do cinema que exploraram a ansiedade sexual, a solidão e a busca por um sentido na vida.

A morte era um dos temas preferidos do diretor e estava presente em muitas de suas obras, como "O sétimo selo", em que um cavaleiro encontra a morte em pessoa e disputa com ela uma partida de xadrez que pode decidir seu destino. No longa, o cavaleiro é interpretado por Max von Sydow, um dos atores favoritos do diretor, com quem trabalhou em 13 filmes.

Em "Morangos silvestres", a morte também está presente. Aqui, um artista na terceira idade faz uma viagem para receber uma homenagem e aproveita o caminho para relembrar momentos e se despedir da vida.

Herança artística


O carinho que Bergman dedicava à morte e ao sexo como temas fizeram do diretor o maior ídolo do cineasta americano Woody Allen. Diversos filmes de Allen, tais como "Noivo nervoso, noiva neurótica", "A última noite de Boris Grushenko" e "Memórias" fazem referências a obras de Ingmar Bergman. Numa homenagem feita a Bergman no 70º aniversário deste, Allen disse: "Ingmar Bergman é provavelmente o maior artista do cinema desde a invenção da câmera cinematográfica".


Infância difícil


O pai de Ingmar Bergman, um pastor luterano que tornou-se capelão do rei da Suécia, costumava humilhar e surrar o filho, uma criança doente. Bergman falou várias vezes do amor profundo que nutria por sua mãe, de seu hábito de refugiar-se em fantasias e de seu gosto pelo macabro. Críticos atribuem os temas de repressão, culpa e castigo, constantes em sua obra, à educação rígida que o diretor teve em sua infância.

Em entrevista rara concedida em 2001, Bergman disse que durante toda sua vida ele foi atormentado e inspirado por demônios pessoais. "Os demônios são inúmeros, aparecem nos momentos mais impróprios e geram pânico e terror", disse ele na época. "Mas já aprendi que, se consigo controlar as forças negativas e atrelá-las a minha carruagem, elas podem trabalhar em meu benefício." Nunca o vínculo autobiográfico ficou mais claro que em "Fanny e Alexander", que Bergman afirmou ser sua obra-prima como cineasta. Produzido em duas versões, de três e de cinco horas, o filme recebeu quatro Oscar em 1984, um deles de melhor filme em língua estrangeira. "Fanny e Alexandre" é um panorama detalhado de uma família de classe alta de Uppsala nos anos que antecederam a 1ª Guerra Mundial. O garoto Alexander, 10 anos, e sua irmã Fanny, 8, são mental e fisicamente abusados por seu padrasto, o bispo local, inspirado no pai de Bergman. O tímido e fraco Alexander usa poderes sobrenaturais para vingar-se de seu padrasto de maneira sinistra.


Reconhecimento internacional


O reconhecimento internacional pleno chegou para ele com "O sétimo selo", de 1956, que recebeu o prêmio do júri do Festival de Cannes em 1957. Nos dez anos seguintes Bergman criou "Morangos silvestres", "O silêncio" (que incluiu uma cena sexual forte que provocou um choque com a censura sueca), "A fonte da donzela" e "Através de um espelho". Os dois últimos receberam o Oscar de melhor filme em língua estrangeira. Em janeiro de 1976 ele foi preso durante um ensaio do Real Teatro Dramático por policiais à paisana, que o levaram para ser interrogado sobre suposta sonegação de impostos. Ele não chegou a ser formalmente acusado, mas a humilhação que sentiu o levou a sofrer um colapso nervoso. Condenando publicamente à burocracia sueca, ele deixou seu país para viver um longo exílio artístico em Munique, na Alemanha.
Em 1984, Bergman retornou ao Real Teatro Dramático com uma versão aclamada de "Rei Lear". No ano seguinte ele pôs fim a seu exílio auto-imposto e passou a produzir uma seqüência de obras clássicas no teatro nacional.
Fonte G1.

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/Confesso que Fanny & Alexander é o meu predileto, embora tenha assistido nova demais pra entender aquele poema visual.

O filme começa como uma festa de família. A época é o Natal, o ano 1907. Uma família de Upsala, a cidade onde Bergman nasceu, reúne-se para comemorar a data. Tudo é suntuoso - as imagens, as roupas, os pratos que compõem o banquete. E tudo é visto pelos olhos de duas crianças, Fanny e Alexander. Há uma morte, e o fantasma insiste em vagar pelos corredores da casa. Após a morte do pai, a mãe de Fanny e Alexander casa-se com um pastor religioso. Ele submete a família à mais dura repressão religiosa, mas o filme não termina sem que as crianças se libertem - por meio da arte.

É um raro e grande filme, uma súmula de todos os temas, obsessões e desvarios que transformaram o sueco Bergman num dos maiores pensadores do cinema. Ele fez Fanny & Alexander como minissérie de TV, depois remontou o filme, reduzindo-o para passar nos cinemas. O resultado não é só uma festa para os olhos e ouvidos. O próprio Bergman, disse certa vez, sobre Mouchette, a “Virgem Possuída”, de Robert Bresson, que era um filme “puro como água”. O dele também é puro como água, o ápice de um artista em pleno domínio do seu meio de expressão.

“Penso nos meus tempos de menino com prazer e curiosidade (...) Minhas horas e meus dias viviam repletos de coisas interessantes, cenários inesperados, instantes mágicos. Ainda hoje posso percorrer a paisagem da minha infância e sentir de novo todo aquele passado de luzes, aromas, pessoas, aposentos, instantes, gestos, inflexões, vozes, objetos (...) O privilégio da infância é podermos transitar livremente entre a magia da vida e os mingaus de aveia, entre um medo desmesurado e uma alegria sem limites (...) Eu sentia dificuldade para distinguir entre o que era imaginado e o que era real...”

Prof. Dr. Sílvio Medeiros.

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O Cavaleiro: -Quem é você?
A Morte: -Eu sou a Morte.
O Cavaleiro: -Veio me procurar?
A Morte: -Tenho caminhado a seu lado há muito tempo.
O Cavaleiro: -Eu sei.
A Morte: -Está pronto?
O Cavaleiro: -Meu corpo tem medo. Eu não.
A Morte: -Bem, não tem de que se envergonhar (...).
O Cavaleiro: -Você joga xadrez, não ? (...) Eu vi nos quadros (...). Você certamente não joga melhor do que eu ( e rapidamente dispõe sobre as peças sobre um tabuleiro de xadrez). Minhas condições são as seguintes: você me deixa vivo enquanto eu resistir a você. Se eu conseguir um xeque- mate, você me poupa. De acordo ?
*Diálogo entre a Morte e o Cavaleiro traduzido de "Le septième sceau" – roteiro do filme realizado em 1956 . Ingmar Bergman , Oeuvres , Paris, Robert Laffont .

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THE END

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