A primeira vez que li esse poema de Brecht, arranquei a folha do livro, coisa impensável para quem trazia para casa todo lixo da Biblioteca em que trabalhava. Bastava dar baixa num livro, que entre rasgar e jogar fora, eu preferia trazer pra casa. Até pouco tempo tinha livro de álgebra em alemão por aqui, rsss

Adoro esse poema porque fala de uma curiosidade que sempre tive, o que há por trás de tudo. As histórias que permeiam vidas, como se chegou ali, como e "Quem construiu a Tebas das sete portas?" Por isso gostei de saber que não era única que tinha curiosidades esdrúxulas. Aí esta na íntegra:



QUEM FAZ A HISTÓRIA

Quem construiu a Tebas das sete portas?
Nos livros constam os nomes dos reis.
Os reis arrastaram os blocos de pedra?
E a Babilônia tantas vezes destruída
Quem ergueu outras tantas?
Em que casas da Lima radiante de ouro
Moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros
Na noite em que ficou pronta a Muralha da China?
A grande Roma está cheia de arcos do triunfo.
Quem os levantou?
Sobre quem triunfaram os Césares?
A decantada Bizâncio só tinha palácios
Para seus habitantes?
Mesmo na legendária Atlântida,
Na noite em que o mar a engoliu,
Os que se afogavam gritaram por seus escravos.
O jovem Alexandre consquistou a Índia.
Ele sozinho?
César bateu os gauleses,
Não tinha pelo menos um cozinheiro consigo?
Felipe de Espanha chorou quando sua armada naufragou.
Ninguém mais chorou?
Fredrico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele?


Uma vitória a cada página.
Quem cozinhava os banquetes da vitória?


Um grande homem a cada dez anos.
Quem pagava as despesas?


Tantos relatos.
Tantas perguntas.


Bertolt Brecht
(1898-1956)



Mas Brecht nascido em 10 de fevereiro de 1898, em Augsburg, Baviera, tem obra rica e extensa. Odiava a escola e seus métodos de ensino reacionários da época, aquela liberdade vigiada unida a uma série de dogmas estúpidos, só serviram para aguçar a sede de mundo do jovem Brecht. Daí a criatividade de sua obra. Ele sempre foi muitíssimo murelhengo, chegava a ter três ou quatro amantes. O homem era fogo, tem poemas, digamos, picantes. Quem se interessar pode ler aqui. Dá para ter uma idéia da animação do rapaz.

A produção teatral de Brecht é abundante. No conjunto das suas obras tenta lançar um olhar lúcido sobre o mundo moderno. Na Ópera de Três Vinténs dirige o seu olhar crítico para a organização social. Na intenção de actualizar o teatro épico, escreve uma série de obras em que recorre às canções e aos cartazes explicativos: Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny, Santa Joana dos Matadores, O Terror e a Miséria no Terceiro Reich, Der Aufhaltsame Aufstieg des Arturo Ui. Em O Senhor Puntila e o Seu Criado Matti e em A Boa Alma de Sé-Chuão recorre às parábolas do teatro oriental. Em Vida de Galileu, obra que não deixa de aperfeiçoar desde a sua primeira redacção, Brecht centra-se no papel e na responsabilidade do intelectual.

Bertolt Brecht era, além de dramaturgo, um importante teórico teatral. Nos seus Estudos sobre Teatro expõe a sua concepção cénica, baseada na necessidade de estabelecer uma distância entre o espectador e os personagens, a fim de que o ponto de vista crítico do autor desperte no espectador uma tomada de consciência. Destaca-se também na poesia, de forte conteúdo social.

Ele morreu em 16 de agosto de 1956 após um enfarto do miocárdio, durante os ensaios de sua peça 'Galileu Galilei". Jaz lado de Hegel, um dos seus ídolos.


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