das solidões



Demenciais


Há enigmas que não decifro. Quando brutalmente entra e nos amamos, alagando-me, é preciso cuidado para não esmagar os anjos esquecidos dentro das empoeiradas caixas vazias. Somos espectros do que sonhamos nas épocas de danação. Nos limiares da dor e do prazer, encobrimos com asas carcomidas nossas mais secretas armadilhas. Amar é ser Deus minimamente. É combater. Eu não teria podido.


Solange Solon Borges









Na biografia de Chopin, consta que pouco antes de morrer, ele teria dito essas palavras. É solidão quase palpável e poucos entendem que solidão é essa. Não é a de uma presença física, de alguém ao lado, é mais, muito mais. É a solidão daqueles que não encontram eco, que são únicos no mundo ou possuem essa sensação de perda constante, de alguém que arranque de nós mesmos o que temos de melhor, que nos puxe para fora dessa solidão. É um caminho sem destino, rumo ao nada.



“A única infelicidade consiste nisso, saímos da oficina de um Mestre célebre de algum stradivarius sui generis, que não existe mais para nos consertar. Mãos inábeis não sabem tirar de nós novos sons, então, por falta de um alaudeiro, recalcamos no fundo de nós mesmos o que ninguém nos sabe arrancar”.

Chopin.












"O que se torna preciso, é no entanto isto: solidão, uma grande solidão interior. Entrar em si mesmo, não encontrar ninguém durante horas – eis o que se deve saber alcançar. Estar sozinho como se estava quando criança, enquanto os adultos iam e vinham, ligados a coisas que pareciam importantes e grandes porque esses adultos tinham um ar tão ocupado e porque nada se entendia de suas ações.
Se depois um dia a gente percebe que suas ocupações são mesquinhas e suas profissões petrificadas, sem ligação alguma com a vida, por que não olhá-los outra vez como uma criança olha para um coisa estranha, do âmago do seu próprio mundo, dos longes de sua própria solidão que é, por si só, trabalho, dignidade e profissão? Por que querer trocar a sábia não-compreensão de uma criança pela defensiva e pelo desprezo, – uma vez que a não-compreensão significa solidão, ao passo que defensiva e desprezo equivalem à participação nas próprias coisas cujo afastamento se deseja?"

Rilke in RILKE, Rainer Maria. Cartas a um Jovem Poeta. 21 ed. São Paulo: Globo, 1994. pg 48
























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