Conta história que estas teriam sido as primeiras palavras de Garibaldi ao ver Anita: "Tu serás minha!" Verdade ou não, foi um amor arrebatador, que transformou a jovem Aninha em Anita Garibaldi.

Hoje lia no Jornal sobre a estréia da minissérie: "A casa das sete mulheres" e resolvi contar a história de Anita. Mais uma vez sem compromisso com toda a extensa cronologia da vida de Anita e Giuseppe. Melhor falar do romance, da grande mulher que foi Anita, sua coragem, sua ousadia em abandonar um casamento pálido e seguir aquele que seria o grande amor de sua vida.


Antes de se tornar Anita, Ana Maria de Jesus Ribeiro, a Aninha casou-se com Manoel Duarte de Aguiar. Um casamento apático, muito longe do seus desejos. Um casamento sem filhos, um marido que vivia para o trabalho, de poucos sorrisos e vivacidade. Ela foi negligenciada e mesmo posta de lado por ele. Para alguém como Anita, que nas veias trazia o sangue incomum das mulheres apaixonadas e guerreiras, era como definhar aos poucos. Essa vida monótona ainda se tornaria pior, com o passar do tempo o marido de Aninha passou a "demonstrar em casa o seu caráter conservador e ciumento. Avesso às mudanças de situação, era reacionário a todas as novidades. Viu-se, pois, Aninha trancada entre paredes, levando vida apagada e monótona, sem ao menos ter com quem expandir suas idéias ou a quem relatar seus sonhos, originados de exaltada imaginação, em procura permanente de horizontes mais dilatados. Em breve, compreendeu não estar realizada ao lado do pacato marido, o qual não lhe confirmou, sequer, fecundidade".

Segundo historiadores, "desde cedo ela revelou caráter independente e resoluto e uma singular firmeza de atitudes. Além disso muito amor-próprio e a coragem e a energia que certamente herdara do pai." Não bastasse isso era um mulher bonita, segundo relatos da época.





"Oval perfeito"

"Anita era indiscutivelmente bela. Os historiadores que a descreveram, como os artistas que a pintaram ou esculpiram, dão-lhe os mesmos traços à fascinante figura, numa absoluta concordância. [...] Era franzina de corpo e teria um metro e sessenta e cinco. O rosto moreno era de um oval perfeito, a testa larga emoldurava-se nos cabelos pretos e lisos, que trazia repartidos ao meio e arrepanhados sobre a nuca. Tinha os olhos negros e ardentes, o movimento gracioso e ágil. (Ruben Ulysséa)



"Teria ao redor de 1,65 metro, cabelos pretos, longos, olhos negros muito grandes e um atributo que se destacava na sua graciosa figura: o busto volumoso. Seu porte, sua natural elegância no andar, impressionavam muito favoravelmente e era dotada de extraordinário dom de simpatia. [...] Quanto à voz, há uma testemunha que ficou através da tradição oral que dará uma idéia de como falava a heroína: era de timbre forte, porém, num tom abaixo do normal nas mulheres, voz um tanto grave, de contralto enfim..." (Licurgo Costa).

Talvez pelo timbre de voz, por vestir-se como homem, de calças compridas, empunhando armas e galopando com extrema habilidade tenha protagonizado a famosa cena em que para provar que era mulher, arranca sua blusa e expõe os seios a quem duvidava disso.

Com todos esses ingredientes era previsível que ela abandonasse tudo ao conhecer Garibaldi, a quem seguiu até a sua morte 10 anos depois. Anita tinha apenas 18 anos quando participou do primeiro combate. Ela e Garibaldi deixaram Laguna no dia 20 de setembro de 1839, numa viagem que seria a de sua lua-de-mel. Com uma frota de três embarcações, seguiram até a altura de Santos (SP), onde investiram contra uma corveta imperial, passando na seqüência a ser perseguidos por uma esquadra. De volta ao Sul, buscaram abrigo nas enseadas que recortam o litoral catarinense, onde encontram duas sumacas carregadas de arroz, que foram capturadas.

Começa aí uma vida de aventuras, lutas, batalhas, mortes, privações incontáveis, onde Anita sempre ao lado de Garibaldi enfrentou tomando como sua a causa dele.
Certa ocasião, na altura da Ilha de Santa Catarina travam combate com os ocupantes do navio imperial Andorinha. Uma forte ventania causa a perda de uma das embarcações rebeldes, a Caçapava, restando o Seival e o Rio Pardo, com os quais penetram na enseada de Imbituba, onde Giuseppe organiza a defesa. O Seival é deixado na praia e seu canhão colocado sobre uma elevação, sob os cuidados do artilheiro Manuel Rodrigues. Na ocasião, Garibaldi tenta convencer Anita a desembarcar, mas ela resiste e não aceita. Quer ficar ao lado dele, não importa o que aconteça. E foi assim até o final de sua vida.



"NÃO, NÃO ELA NÃO ESTÁ MORTA"



Escultura de Luzi di Rimini, em frente à Igreja de São Clemente, em Mandriole (onde o corpo de Anita esteve sepultado algum tempo), mostra imagem de Giuseppe Garibaldi carregando nos braços a mulher.





Ao morrer, Anita tinha apenas 28 anos e uma vida intensa, amor, filhos, vitórias, derrotas. Garibaldi implorava ao médico que a salvasse. Mas resistência de dela havia atingido os limites humanos e seu combalido corpo não havia resistido a tamanhas provações. Ao ser transportada para o interior da casa poucos minutos de vida ainda restavam-lhe. O médico, após examiná-la, resignado, sentenciou que nada mais podia ser feito, que sua vida agonizava, que estava prestes a expirar. Morreu nos braços dele.


Em suas memórias, Garibaldi escreveu: "Ao depor minha mulher no leito, me pareceu descobrir em seu rosto a expressão da morte. Tomei-lhe o pulso... já não batia. Eu tinha diante de mim o cadáver da mãe de meus filhos, que eu tanto amava."

Quando convenceu-se que o manto negro da morte havia sobreposto sua escuridão sobre as irradiantes luzes que sua companheira irradiou durante àqueles dez anos, Garibaldi não mais conteve o pranto, dobrou-se sobre a moribunda e extravasou tudo o que sentiu naquele doloroso momento. Ajoelhou-se ao lado da cama, segurou com as duas mãos a face de Anita e exclamou:

" - Não, não, ela não está morta! Não é senão um novo ataque. Muito teve que sofrer, mas ela vai ficar boa ! Não está morta ! Anita ! É impossível ! Olha para mim Anita ! Fala comigo ! Quanto eu perdi !"

Anita acabara de falecer! Eram 19:45 horas de sábado, dia 4 de agosto de 1849.





Cronologia - momentos que marcaram a vida da heroína.

1821· Nascimento de Ana Maria de Jesus Ribeiro (Anita Garibaldi), em Morrinhos, na época pertencente à Laguna.

1835· Anita casa com o sapateiro Manuel Duarte de Aguiar. Início da Revolução Farroupilha

1839 Manuel Duarte, parte, sozinho, de Laguna.Proclamação da República Catarinense, em Laguna. Anita conhece Giuseppe Garibaldi e parte com ele para Lages

1840 Nasce Menotti Garibaldi, primeiro filho do casal.

1841 Anita e Giuseppe partem para Montevidéu, no Uruguai.

1842 Anita e Giuseppe casam, oficializando a união.

1843 Nasce a filha Rosita Garibaldi

1845 Nasce a filha Teresita Garibaldi.Morre afilha Rosita Garibaldi

1847 Nasce o filho Ricciotti Garibaldi. ·Anita parte com os filhos para Gênova, na Itália.

1848 Giuseppe parte par Itália (lutas pela unificação), levando os restos mortais da filha Rosita. Anita e os legendários são recebidos em Ravena, Itália, por uma procissão à luz de tochas.

1849 Anita, grávida pela quinta vez vai a Nizza, terra natal do marido. Doente, Anita vai a Roma, onde lutam Giuseppe e seus guerreiros. No dia 4 de agosto, às 19h45, morre Anita Garibaldi, aos 28 anos, em Mandriole, na Itália.

1859 Giuseppe recupera os restos mortais de Anita e leva-os a Nice, então pertencente à Itália.

1931 Os ossos de Anita Garibaldi são depositados no cemitério Staglieno, em Gênova.

1932 Os restos mortais foram levados para Roma e depositados no monumento à heroína, erguido na Praça Anita Garibaldi.


Leia mais: http://www.paginadogaucho.com.br/bibli/anita.htm
http://www.an.com.br/anita/index.html





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