Relatos pacíficos de uma experiência extraordinária.
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Aldous Huxley
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"A constância é contrária à natureza, contrária à vida. As únicas pessoas completamente constantes são os mortos".
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Aldous Huxley foi menino solitário um homem precocemente amadurecido, por dores que uma criança não deveria sofrer. Passou oito meses cego, acometido por uma doença na retina.
Em 1914, quando o trauma causado pela doença já está superado, Aldous recebe novo e profundo abalo: seu irmão Trev suicida-se.
Com certeza esses acontecimentos influenciariam sua obra cuja a amargura e o pessimismo irônico eram quase paupáveis.
Aos 25 anos, casado, tem em Maria um misto de secretária e esposa.
Maria datilografa os manuscritos e o incentiva constantemente a prosseguir. Foi ela e sua constante crença no valor literário dos manuscritos que datilogravafa para Huxley, que o faz vencer sua insegurança e extremo perfeccionismo a ponto de fazê-lo continuar escrevendo e publicando seus trabalhos.
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Em "Admirável Mundo Novo", de 1932, Huxley descreve em minúcias uma sociedade que resolveu o problema do excesso de população esmagando racionalmente qualquer individualidade. O livro é muito bem aceito e atualíssimo porque ainda fala sobre a nossa sociedade, consumista voraz de marcas, etiquetas e bens. Profético, Huxley relata como a sociedade deixara de lado o amor, a família, valores subjetivos por objetos e compulsões consumistas.
Huxley em sua produção literária tem uma lucidez vertiginosa. Consegue enxergar um mundo que ainda  está em formação, como tal o vemos hoje, num processo de auto-destruição.
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There isn´t any formula or method.
You learn to love by loving.
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Em sua vida particular, Huxley sofreria novo baque. Sua esposa e eterna incentivadora, falece e Huxley se vê completamente só. No entanto, a vida se incumbe de trazer a amiga Laura Archera de volta a sua vida. De amiga e secretária eventual, Laura se torna a mulher que acompanhará Huxley até o fim dos seus dias.
Huxley continua sendo um homem de intensa atividade intelectual: além de sua enorme produção literária, encontra tempo para ler de tudo, desde os grandes autores da época até a Enciclopédia Britânica, que sabia quase de cor, passando pelas revistas mais extravagantes.
Numa delas, lida em 1952, um artigo chamou particularmente sua atenção. Era o trabalho de um certo Dr.Osmond acerca de alguns cactos e cogumelos que produzem visões semelhantes às do êxtase religioso. Não se restringindo à teoria, Aldous entra em contato com o médico e faz experiências - com a atitude objetiva de um cientista - com mescalina e ácido lisérgico (LSD). No ano seguinte, As Portas da Percepção relatam suas impressões a respeitos dos alucinógenos.
Graças ao vocalista do The Doors, Jim Morrison, o livro se torna um acontecimento.
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"Se as portas da percepção forem abertas, as coisas irão surgir como realmente são: infinitas."
Jim Morrison, The Doors
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Em 1958, acompanhado de Laura, vem ao Brasil para entrevista e conferências.
Nesse mesmo ano, um câncer na garganta começa a se manifestar.
Ele ainda escreve o excelente "Admirável mundo novo" e publica em 1961.
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No ano seguinte publicaria seu último romance: "A ilha", 
onde volta a falar da experiência com drogas, numa mensagem de amor e de confiança na humanidade. O livro trata da tentativa da fusão cultural do Ocidente e do Oriente na busca de uma convivência pacífica entre os homens.
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A doença avança progressivamente e Huxley fica praticamente mudo já não podendo mais ditar seus manuscritos a Laura.
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Em 22 de novembro de 1963, Huxley falece. Mas, nesse dia, o mundo, abalado com o assassinato de John F. Kennedy, não fica sabendo dessa outra perda. Apesar do renome que alcançara, e de contar entre seus amigos com grandes nomes das letras e da política, o escritor não tem um enterro muito concorrido: Laura e Mathew (filho único do escritor e de Maria) enterram-no como ele vivera - com simplicidade e discrição. Depois da cerimônia, comunicam ao mundo que Aldous Leonard Huxley já não existia.
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"Vivemos, agimos e reagimos uns com os outros; mas sempre, e sob quaisquer circunstâncias, existimos a sós. Os mártires penetram na arena de mãos dadas; mas são crucificados sozinhos. Abraçados , os amantes buscam desesperadamente fundir seus êxtases isolados em uma única autotranscendência; debalde. Por sua própria natureza, cada espírito, em sua prisão corpórea, está condenado a sofrer e gozar em solidão. Sensações, sentimentos, concepções, fantasias--tudo isso são coisas privadas e , a não ser por meio de símbolos, e indiretamente, não podem ser transmitidas. Podemos acumular informações sobre experiências, mas nunca as próprias experiências. Da família à nação, cada grupo humano é uma sociedade de universos insulares.
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[...] Contemplarmo-nos do mesmo modo pelo qual os outros nos vêem é uma dádiva das mais confortadoras. E não menos importante é o dom de vermos os outros tal como eles mesmos se encaram. Mas e se esses outros pertencerem a uma espécie diferente e habitarem um universo inteiramente estranho? Assim, como poderá o indivíduo, mentalmente são, sentir o que realmente sente o insano? Ou, na iminência de ser reencarnado na pessoa de um sonhador, um médium ou um gênio musical, como poderíamos algum dia visitar os mundos que para Blake, Swedenborg ou Johann Sebastian Bach eram seus lares?"
As portas da percepção - Aldous Huxley.
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Comentários

Fred Matos disse…
Outro post maravilhoso.
Obrigado, amiga.
Beijos
Laura_Diz disse…
Poxa, eu não sabia nada da vida dele, mas os livros eu li uns 3, ou 2.
Freud tb teve câncer na boca, que triete isto!
Bjs, sumida, laura

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