2006 - Centenário de Mario Quintana

2006
Centenário de Mario Quintana
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"Amar é mudar a alma de casa."
Mário Quintana



"Quero todo o teu espaço e todo o teu tempo quero todas as tuas horas e todos os teus beijos quero toda a tua noite e todo o teu silêncio."
Mário Quintana


"Amigos, não consultem os relógios quando um dia me for de vossas vidas... Porque o tempo é uma invenção da morte: não o conhece a vida - a verdadeira - em que basta um momento de poesia para nos dar a eternidade inteira."
Mario Quintana
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O doce poetinha nos deixou num dia 05 de maio, nos deixou assim como seus versos uma nota de flor na boca, um aroma de outono nas mãos e um sorriso como o dele que mesmo sorrindo parecia conter uma tristeza suave.
Quintana não era ranziza, zangado, nem mesmo tímido, era apenas calado, introspectivo, daqueles que ao olharmos ficamos intrigados, procurando desfrutar de um riquíssimo mundo interior que certamente existia. Tinha um humor único, uma fina ironia a pontuar seus comentários sobre o corriqueiro da vida. Tenho a impressão de que conviver com ele devia ser leve como algodão doce, uma surpresa constante em qualquer coisa de sempre como no velho poste iluminando a rua ou mesmo pela janela onde abril se abria diferente todos os dias.
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Inscrição Para Um Portão de Cemitério
Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce - uma estrela,
Quando se morre - uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
"Ponham-me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim!


Mario Quintana Mario Quintana nasceu em 30/ 07/ 1906 em Alegrete - próxima à fronteira com a Argentina -, cidade banhada pelas margens do rio Ibirapuitan, cenário de muitas de suas poucas brincadeiras de criança. Poucas porque, apesar de ter dito inúmeras vezes que teve uma infância igual a de tantos outros, desde cedo teve uma inclinação natural à leitura.
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Aos 7 anos foi alfabetizado pelos pais e já aos treze dominava a língua francesa - quando adulto, seus autores preferidos eram Rimbaud, Appollinaire e Verlaine. No primário, quando foi apresentado sem rodeios à gramática lusitana, recusou aceitá-la, alegando que não era aquela a língua que falava. Nisso acreditou até seu amadurecimento poético, pois sempre escreveu de forma coloquial todos os seus versos.
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Na verdade, Quintana sempre escreveu de maneira simples o complexo da vida. Os poemas dele são como bordados ricos na complexidade dos pontos, mas formavam desenhos simples, desenhos que todos identificavam de imediato. Graças a ele e suas traduções, os leitores brasileiros puderam ter acesso a Proust, Virgínia Woolf, Balzac e tantos outros, foram mais de cem livros traduzidos. Publicou seu primeiro livro aos 34 anos, porque achava que quanto mais velho o poeta, "maior a tendência de ficar melhor, com estilo mais depurado".
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Nunca ninguém sabe
Nunca ninguém sabe se estou louco para rir ou para chorar.
Por isso o meu verso tem esse quase imperceptível tremor...
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Jardim Interior
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Todos os jardins deviam ser fechados,
com altos muros de um cinza muito pálido,
onde uma fonte
pudesse cantar
sozinha
entre o vermelho dos cravos.
O que mata um jardim não é mesmo
alguma ausência
nem o abandono...
O que mata um jardim é esse olhar vazio
de quem por eles passa indiferente.
Mario Quintana
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O que nos mata, é não ter um poetinha como ele para nos falar de nossos jardins, dos pássaros, do céu, do vento e sua tristeza por não ser colorido, das estrelas que não paramos mais para olhar... quando foi que você antes de entrar apressado no carro ou em casa olhou estrelas no céu? Pois olhe hoje, uma delas é ele.
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Noturno
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Ninguém no cais deserto... Apagaram-se os grilos.
As estrelas estão imóveis e tristes como um mapa sideral.
Mario Quintana



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Frases, Fragmentos, trechos...
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“Um poeta sofre três vezes: primeiro quando ele os sente, depois quando ele os escreve e, por último, quando declamam os seus versos.”
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“...eu te amo a perder de vista...”
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“...Dizem que sou tímido. Nada disso . Sou é caladão , introspectivo. Não sei porque sujeitam os introvertidos a tratamentos . Só por não poderem ser chatos como os outros?”
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“...Não tenho vergonha de dizer que estou triste,
Não dessa tristeza ignominiosa dos que, em vez de se matarem, fazem poemas:
Estou triste por que vocês são burros e feios E não morrem nunca...”
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"Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com uma outra pessoa, você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela. Percebe também que aquele alguém que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente não é o "alguém" da sua vida. Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você. O segredo é não correr atrás das borboletas... é cuidar do jardim para que elas venham até você. No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!"
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"Saudade é algo que ficou de alguém que não ficou."
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"Nenhum ódio é tão forte quanto aquele que advém do amor"
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"A esperança é um urubu pintado de verde"
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”Sou o dono dos tesouros perdidos no fundo do mar.
só o que está perdido é nosso para sempre.
Nós só amamos amigos mortos
E só as amadas mortas amam eternamente...”
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"Sentir-se amado, é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida"
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"O tempo não para! A saudade é que faz as coisas pararem no tempo...''
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"Livros não mudam o mundo,
quem muda o mundo são as pessoas.
Os livros só mudam as pessoas."
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"Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação"
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"Dizeis que tudo é amor e eu vos direi que a fome é tudo; tanto que o verbo comer, na insondável sabedoria do povo, também significa possuir carnalmente."
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“Tão bom morrer de amor ....e continuar vivendo.”
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"(...)
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
(...)"
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"O amor é quando a gente mora um no outro..."
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"Amar: Fechei os olhos para não te ver e a minha boca para não dizer... E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei, e da minha boca fechada nasceram sussurros e palavras mudas que te dediquei....O amor é quando a gente mora um no outro."
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“Um dia descobrimos que beijar uma pessoa para esquecer outra é bobagem... Você não só não esquece a outra pessoa como ainda pensa muito mais nela... Um dia descobrimos que se apaixonar é inevitável..."
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"Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata"
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..." é preciso a saudade para eu te sentir, como sinto em mim, a misteriosa presença da vida.Mas quando surges, és tão outra, e múltipla e imprevista, que nunca te pareces com o teu retrato e eu tenho que fechar meus olhos para ver-te..."
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"Essa vida é uma estranha hospedaria,
De onde se parte quase sempre às tontas,
Pois nunca as malas estão prontas,
E a nossa conta nunca está em dia."
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"O passado não reconhece seu lugar, está sempre presente."
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"Sentir primeiro, pensar depois
Perdoar primeiro, julgar depois
Amar primeiro, educar depois
Esquecer primeiro, aprender depois
Libertar primeiro, ensinar depois
Possuir primeiro, contemplar depois
Agir primeiro, julgar depois
Viver primeiro, morrer depois"
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“Sonhar é acordar-se para dentro.”
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"Nunca diga "te amo" se não te interessa.
Nunca fale sobre sentimentos se estes não existem.
Nunca toque numa vida,
se não pretende romper um coração.
Nunca olhe nos olhos de alguém,
se não quiser vê-lo se
derramar em lágrimas por causa de ti."
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“Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade...
Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz...”
(Revista Isto é, de 14.11.1984)
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"Que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta?"
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e pra finalizar antes que se torne infinito... gosto de pensar assim:
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"A tristeza é um intervalo entre duas felicidades”






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