Este é um fragmento do último poema de Sierguéi Iessiênin, antes de se enforcar num quarto de hotel em Leninegrado, St. Petersburg. Era madrugada do dia 27 de dezembro de 1925.

Sierguéi Iessiênin nasceu no dia 03 de outubro de 1895, na província de Ryazan , Rússia. Foi casado cinco vezes. Sua terceira esposa foi a bailarina Isadora Duncan. A grande diferença de idade entre os dois, ele era bem mais jovem, favoreceu as diferenças entre os dois. Isadora tinha o espírito livre e Iessiênin era um jovem apaixonado e extremamente sensível. A relação não durou muito e após uma excursão aos EUA, brigas públicas, eles se separaram. Iessiênin foi para a Rússia onde daria continuidade ao ofício de poeta. Já não era o mesmo. Seus versos tornaram-se carregados de cinismo. Ainda assim sua popularidade aumentava.
Os dois últimos anos de sua vida forma marcados por excessos de toda natureza. Casado com a neta de Tolstoi, não encontraria na última esposa, a felicidade que sempre perseguiu. Sua poesia adquire nessa época um tom sombrio. O fim estava próximo. Os amigos assistem a degradação do jovem poeta sem poder fazer nada.

Em 1925, ano do seu suicídio, Iessiênin estava destruído pela bebida e a cocaína. A depressão o atormentava, sofria com as alucinações e após algumas semanas internado num hospício, cometeu suicídio. Não lembrava em nada, o jovem loiro, de olhos azuis, famoso pelo modo como declamava poemas.
Não chegou a ter a fama e o reconhecimento de Maiakovski, mas poesia de Yesenin resistiu ao tempo e ainda hoje ganha novos leitores.

Iessiênin deixa um último poema para o amigo. Mayakovsky, obcecado em respondê-lo, replica-o em um célebre texto em que desponta o, várias vezes citado, verso que afirma ser preciso arrancar alegria ao futuro. Entretanto, também Mayakovsky sucumbirá à melancolia e, em 1930, tomará .o mesmo caminho de Iessiênin. Como pano de fundo, os (des)caminhos da Revolução Russa.

1. Último Poema de Iessiênin

Até logo, até logo, companheiro,
Guardo-te no meu peito e te asseguro:
O nosso afastamento passageiro
É sinal de um encontro no futuro.
Adeus, amigo, sem mãos nem palavras.
Não faças um sobrolho pensativo.
Se morrer, nesta vida, não é novo,
Tampouco há novidade em estar vivo.

(Tradução de Augusto de Campos)


**2. A Sierguéi Iessiênin - Mayakovsky


Você partiu,
como se diz,
para o outro mundo.
Vácuo. . .
Você sobe,
entremeado às estrelas.
Nem álcool,
nem moedas.
Sóbrio.
Vôo sem fundo.
Não, lessiênin,
não posso
fazer troça, -
Na boca
uma lasca amarga
não a mofa.
Olho -
sangue nas mãos frouxas,
você sacode
o invólucro
dos ossos.
Sim,
se você tivesse
um patrono no "Posto"(1) -

ganharia
um conteúdo
bem diverso:
todo dia
uma quota
de cem versos,
longos
e lerdos,
como Dorônin(2).
Remédio?
Para mim,
despautério:
mais cedo ainda
você estaria nessa corda.
Melhor
morrer de vodca
que de tédio !
Não revelam
as razões
desse impulso
nem o nó,
nem a navalha aberta.
Pare,
basta !
Você perdeu o senso? -
Deixar
que a cal
mortal
Ihe cubra o rosto?
Você,
com todo esse talento
para o impossível;
hábil
como poucos.
Por quê?
Para quê?
Perplexidade.
- É o vinho!
- a crítica esbraveja.
Tese:
refratário à sociedade.
Corolário:
muito vinho e cerveja.

Sim,
se você trocasse
a boêmia
pela classe;
A classe agiria em você,
e Ihe daria um norte.
E a classe
por acaso
mata a sede com xarope?
Ela sabe beber -
nada tem de abstêmia.
Talvez,
se houvesse tinta
no "Inglaterra"(3);
você
não cortaria
os pulsos.
Os plagiários felizes
pedem: bis!
Já todo
um pelotão
em auto-execução.
Para que
aumentar
o rol de suicidas?
Antes
aumentar
a produção de tinta!
Agora
para sempre
tua boca
está cerrada.
Difícil
e inútil
excogitar enigmas.
O povo,
o inventa-línguas,
perdeu
o canoro
contramestre de noitadas.

E levam
versos velhos
ao velório,
sucata
de extintas exéquias.
Rimas gastas
empalam
os despojos, -
é assim
que se honra
um poeta?
-Não
te ergueram ainda um monumento -
onde
o som do bronze
ou o grave granito? -
E já vão
empilhando
no jazigo
dedicatórias e ex-votos:
excremento.
Teu nome
escorrido no muco,
teus versos,
Sóbinov(4) os babuja,
voz quérula
sob bétulas murchas -
"Nem palavra, amigo,
nem so-o-luço".
Ah,
que eu saberia dar um fim
a esse
Leonid Loengrim!(5)
Saltaria
- escândalo estridente:
- Chega
de tremores de voz!
Assobios
nos ouvidos
dessa gente,
ao diabo
com suas mães e avós!
Para que toda
essa corja explodisse
inflando
os escuros
redingotes,
e Kógan(6)
atropelado
fugisse,
espetando
os transeuntes
nos bigodes.
Por enquanto
há escória
de sobra.
0 tempo é escasso -
mãos à obra.
Primeiro
é preciso
transformar a vida,
para cantá-la -
em seguida.
Os tempos estão duros
para o artista:
Mas,
dizei-me,
anêmicos e anões,
os grandes,
onde,
em que ocasião,
escolheram
uma estrada
batida?
General
da força humana
- Verbo -
marche!
Que o tempo
cuspa balas
para trás,
e o vento
no passado
só desfaça
um maço de cabelos.
Para o júbilo
o planeta
está imaturo.
É preciso
arrancar alegria
ao futuro.
Nesta vida
morrer não é difícil.
O difícil
é a vida e seu ofício.


(Tradução de Haroldo de Campos)

** O poema não esta com formatação original. Ela se encontra aqui.

Notas do Tradutor

(1) Alusão à revista Na Postu (De Sentinela), órgão da RAPP (Associação Russa dos Escritores Proletários), cujos colaboradores se mostravam muito zelosos em atacar os escritores que lhes pareciam transgredir a moral proletária.
(2) Referência ao poeta soviético 1. 1. Dorônin (n. em 1900).,
(3) Hotel em que lessiênin se suicidou.
(4) O famoso cantor L. V. Sóbinov (1872-1934) foi um dos participantes da homenagem à memória de lessiênin, que teve lugar no Teatro de Arte de Moscou, em 18 de janeiro de 1926, quando interpretou uma canção de Tchaikóvski.
(5) O papel de Loengrim, da ópera deste nome, de Wagner, constituiu um dos grandes êxitos da carreira artística de Leonid Sóbinov.
(6) O crítico P. S. Kógan (1872-1932), representante da crítica mais dogmática, com quem Myiakovsky manteve freqüentes polêmicas.


Leia: http://www.geocities.com/trotskyvive/TV04/TV04.htm
http://www.opoema.libnet.com.br/maiakovski/maiakovski_poema.htm

Comentários

Noilson disse…
Adorei o blog! Se possível, envie a pesquisa do maiakóvski. Curso Letras, preciso para fazer um trabalho. Desde já Grato. Parabéns!
Eu até poderia te passar por email, mas vc não deixou nenhum.
Se voltar a escrever, me mande seu email que eu te envio, só peço que mantenha a autoria, tá bom?

abrs
Andrea
Silvia Murad disse…
Parabéns pelo blog, Andrea!

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