Charles Baudelaire

Charles Baudelaire



Nascido a 9 de abril de 1821 em Paris, Charles Baudelaire ficaria órfão de pai muito cedo. A mãe voltaria a casar-se com um militar, o comandante Aupick. A ausência do pai e o ressentimento contra a mãe causariam em Baudelaire um sentimento de carência afetiva que o perseguiria durante toda a sua vida. A relação difícil com o padrasto, para não dizer impossível afastaria o poeta de casa em sucessivas viagens.
Baudelaire viveu uma vida boêmia, travou conhecimentos e fez amizade com as grandes cabeças pensantes da época. Levou uma vida depravada e foi acabando rapidamente com o patrimônio da família. Nada que uma declaração de incapacidade não resolvesse, foi assim que os familiares resolveram o problema: no tribunal. Baudelaire foi considerado incapaz e colocado sob a tutela de um curador.

Uma tentativa frustrada de suicídio o reaproximaria da família por pouco tempo. Logo o poeta se envolveria com várias mulheres, de atrizes a prostitutas. Paralelamente foi construindo sua obra.
Em 1857 publica uma série de 18 poesias. Mas 1857 é o ano mais importante da produção literária de Baudelaire, no dia 25 de junho são publicadas Lês Fleurs du Mal que é logo violentamente atacado por Lê Figaro, o livro é recolhido poucos dias depois sob acusação de obscenidade e é condenado a um multa de 300 francos (reduzidos depois para 50) e o editor a uma multa de 100 francos e, mais grave, seis poemas devem ser suprimidos da publicação, condição sem a qual a obra não poderá voltar a circular.


A Solidão

Diz-me um jornalista filantropo que a solidão é má
Para o homem; e, em abono de sua tese, cita, como todos
Os incrédulos, palavras dos Padres da Igreja.
Eu sei que o Demônio é dado a freqüentar os sítios
Áridos, e que o espírito do homicídio e da lubricidade se
Inflama prodigiosamente nos ermos.Mas talvez esta solidão
Só fôsse um perigo para a alma ociosa e divagadora que a
Povoa de suas paixões e de suas quimeras.
Certo é que um tagarela, cujo supremo prazer consiste
Em falar do alto de uma cátedra ou de uma tribuna, se
Arriscaria muito a tornar-se louco furioso na ilha de
Robinson.Não exijo do meu jornalista as corajosas virtudes
De Crusoe, mas peço-lhe que não incrimine os amantes da
Solidão e do mistério.
Há em nossas raças palradoras indivíduos que aceitariam
Com menor repugnância o suplício máximo, se lhes fôsse
Permitido fazer do alto do cadafalso uma copiosa arenga,
Sem temer que os tambores de Santerre lhes cortassem
Intempestivamente a palavra.
Não os lastimo, porque adivinho que as suas efusões
Oratórias lhes proporcionam volúpias iguais àquelas que
Outros encontram no silêncio e no recolhimento; porém os
Desprezo.
Desejo, antes de tudo, que o maldito jornalista me deixe
Divertir-me a meu gôsto.
-Então o senhor não sente nunca - perguntou-me,
Com um tom nasal muito apostólico - a necessidade de
Compartir os seus prazeres?
Vejam lá o sutil invejoso! Êle sabe que eu desdenho os
Seus, e vem insinuar-se nos meus, o horrível desmancha-
Prazeres!
"A grande desgraça de não poder estar só!..."- diz
Algures La Bruyère, como para envergonhar os que
Procuram esquecer-se na multidão, temendo, sem dúvida, não se
Poderem suportar a si mesmos.
"Quase tôdas as nossas desgraças nos advêm de não
Têrmos sabido ficar em nosso quarto" - diz outro sábio,
Creio que Pascal, lembrando assim, na célula do recolhimento,
Todos os insensatos que buscam a felicidade no
Movimento e numa prostituição a que eu poderia chamar
Fraternitária, se quisesse falar a bela língua do meu século.

Charles Baudelaire
Tradução de Aurélio Buarque de Holanda

Em vida, Baudelaire causou mais espanto que admiração, mas a maior decepção viria de seus compatriotas ao ver repudiada a sua candidatura a Academia. Diante das reações negativas retira a candidatura e vai para Bélgica. Doente e só, reaproxima-se da mãe, agora viúva e é nos braços dela que morre no dia 31 de agosto de 1867, após longa agonia, com apenas 46 anos.


Leia: http://www.noxinvitro.com/carus/sonus/?author=7

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