Num anônimo quarto da cidade de Turim, no dia 27 de agosto de 1950, ele está sozinho. Passa suas últimas horas telefonando para conhecidos, ninguém vai vê-lo. Viveu só e assim morreu. Com uma forte dose de sonífero, suicida-se.


Cesare Pavese


Cesare Pavese nasce, em 1908, em Santo Stefano Belbo, nas Langhe, colinas que circundam Turim e que serão o pano de fundo de toda a sua obra literária. Estuda em Turim e termina o curso universitário com uma tese sobre a poesia de Walt Whitman.
Trabalha como tradutor, ofício que exerce com paixão. Seu contato com a literatura através das traduções contribuem para seu desenvolvimento poético. O sentimento trágico da vida, o contraste entre a infância e a vida adulta, a função do destino, o fascínio pelo Mito, são características de Pavese.


Virá a morte e terá os teus olhos

Virá a morte e terá os teus olhos
esta morte que nos acompanha
da manhã à noite, insone,
surda, como um velho remorso
ou um vício absurdo. Os teus olhos
serão uma palavra vã,
um grito emudecido, um silêncio.
Assim os vejo todas as manhãs
quando sobre ti te inclinas
ao espelho. Ó cara esperança,
nesse dia saberemos também nós,
que és a vida e és o nada.

Para todos a morte tem um olhar.
Virá a morte e terá os teus olhos.
Será como deixar um vício,
como ver no espelho
re-emergir um rosto morto,
como ouvir lábios cerrados.
Desceremos ao vórtice mudo.

(tradução de Jorge de Sena)



A vida de Pavese situa-se entre duas grandes guerras. Realidade brutal em que se vê confrontado. A solidão, a incompreensão e sobretudo o sentimento de estar deslocado no mundo entre perdas, desilusões e uma tristeza diante de momento histórico, do qual recusa-se a participar precipitam sua fuga e refúgio nas montanhas.

O sentimento da inutilidade da vida, a angústia do quotidiano, todo "o mal de viver" está profundamente presente na obra pavesiana.
Tudo se descobre através das recordações. O Passado determina o Presente e o Futuro. A única realidade que conta é aquela que precede a realidade, isto é a realidade mitológica, o Mito. Esta realidade é aquela da Infância, que é o ponto de partida de toda a posterior realidade humana. Todas as relações humanas se caracterizam pela falta de comunicação e pela constante infelicidade.

Segundo o poeta, os deuses riem porque conhecem o destino; já os homens, riem exatamente por desconhecê-lo. No confronto entre deuses e homens da pessimista interpretação pavesiana, talvez apenas a morte identifique a espécie humana.

"Esse cansaço e essa paz, depois dos clamores do destino, talvez sejam a única coisa que é de fato nossa."

Cesare Pavese.



Leia: http://insensatezz.no.sapo.pt/palavras/cpavese.htm
http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT535366-1661,00.html

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