"Mesmo para os descrentes há a pergunta duvidosa: e depois da morte? Mesmo para os descrentes há o instante de desespero: que Deus me ajude. Neste mesmo instante estou pedindo que Deus me ajude. Estou precisando. Precisando mais do que a força humana. E estou precisando da minha própria força. Sou forte mas também sou destrutiva. Autodestrutiva. E quem é autodestrutivo também destrói os outros. Estou ferindo muita gente. E Deus tem que vir a mim, já que eu não tenho ido a Ele. Venha, Deus, venha. Mesmo que eu não mereça, venha. Ou talvez os que menos merecem precisem mais. Só uma coisa a favor de mim eu posso dizer: nunca feri de propósito. E também me dói quando percebo que feri. Mas tantos defeitos tenho. Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que não sei usar amor: às vezes parecem farpas. Se tanto amor dentro de mim recebi e continuo inquieta e infeliz, é porque preciso que Deus venha. Venha antes que seja tarde demais."

Clarice Lispector










dos diários

tão cúmplice, sem máscaras, a revelia todo tempo do mundo reside no relógio;

nas madrugadas onde você anda e sonha
onde sonho e ando cansada de não saber o que você faz às 6:00 da manhã?
ou numa tarde assim onde o azul escorre pingando cor no cinza da vida,
qual rosto tem o rosto de ninguém?

onde você vai quando fecha os olhos e os meus adquirem ambigüidade de
poço profundo lâmina luminosa sem alcance do sol?
e percebo que ainda não te conheço, mas espero paciente confundindo o eterno
restrito sob a minha pele, onde inscrito trago a certeza da sua existência.

Existirá você?


andréa augusto©angelblue83

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