Hoje uma matéria no caderno Ela, do Globo me chamou atenção. Para quem não leu é sobre o livro: “Modos de macho e modinhas de fêmea” do jornalista Xico Sá. A matéria é engraçada, o livro, pelo que parece, idem e o tema recorrente, o relacionamento amoroso.

Achei interessante o que ele respondeu ao ser perguntado: o que as mulheres querem? "tudo que elas querem é um lenhador sensível", eu acrescentaria aí algumas coisinhas, tipo: que soubesse a tal madeleine que Proust comia todo dia de manhã, são bolinhos franceses e não uma madeleine qualquer, que tivesse o raciocínio rápido e respostas idem, um humor inteligente, meio irônico e não chulo, que soubesse que às vezes queremos só colo, absolutamente só isso e pode ser figurativo, como simplesmente um abraço e não que nos derrubassem do colo para o chão e... bom rolasse aquele o trivial variado de sempre, ne? Ok, ok, estou sendo exigente, talvez, mas também garanto que sei/sabemos ver o outro lado. Por exemplo, eu jamais surtei e cai em posição fetal quando ouvia: "hoje tem jogo com a turma", pelo contrário, adorava. Para mim isso significava que eu ia poder colocar aquela maravilhosa máscara de morango, ficar com o cabelo cor-de-rosa choque sem ter vergonha de parecer a versão revisitada da Lady Zu. Mas tenho amigas que a palavra futebol é o mesmo que um surto iminente.
Nas minhas meditações pré-carnavalescas fico pensando: que vantagem maria leva se armar um barraco por causa do futebol?? O cara pode até ficar, mas vai ficar com uma tromba gigantesca. Não vale a pena.
Ai vem a argumentação do tipo: ele pode estar com outra. Bobagem. Todo mundo que trabalha ou ja trabalhou fora, viu e sabe que a grande hora é a do almoço, quando discretamente algumas pessoas somem separadas e vão juntas para os motéis do Centro da cidade. Rola aquela fofoca e você aprende que traição é traição a qualquer hora e não só a noite. Em geral, o futebol é só futebol mesmo.

O livro parece bem engraçado, no final deixarei uns trechos que estavam no site, mas sobre isso tudo acho sinceramente que pode-se discutir, falar, teorizar sobre, mas a verdade é que cada caso é um caso. Não há manual que explique a química humana, como acontece ou acaba. Acho que ao invês de falar, escrever manuais, as pessoas precisam apenas viver, só isso, é assim que se aprende. Discutir a relação é coisa mais chata que existe, relação simbiótica é lindo quando se tem 12 anos e ser capaz de deixar o outro livre para que ele escolha estar com você, é perfeito. Por ora, deixo o soutien meia-taça pendurado, rsss, já passei da idade e do peso para ler manuais, fórmulas, soluções mágicas para esse eterno des(encontro) marcado.


andrea augustoangelblue83


ps: opinião absolutamente pessoal mesmo, acredito que para algumas pessoas existe vida após o casamento, que algumas almas gêmeas realmente se encontram, que alguns acham ótima a relação simbiótica e outras são como eu, gostam da liberdade, mas não acham sinônimo de galinhagem, associam liberdade ao prazer de estar junto e não na obrigação de ver porque é sábado, odeiam discutir a relação, acham que palavras o vento leva, mas as atitudes ficam e dão aval a elas. Acham absolutamente possível se divertir sozinha, mesmo estando apaixonada e consideram que a relação ideal é: eu tenho a minha vida, ele tem a dele e juntos temos uma vida em comum...não é à toa que já cheguei a conclusão de que sou materialização de Flicts, aquele que não tinha par no mundo, rss, na boa, não pretendo me matar por isso.



quadrinho: maitena: http://www.rocco.com.br/index_maitena.htm



Leia trechos do livro


E-mail, o carrasco do amor

O e-mail é a sepultura do amor, que despenca, a cada "enviar", simplificado e com abreviaturas — vc isso, vc aquilo, carinhas, falta de acentuação básica e dispensa ridícula do "minha querida", entre outras saudações tã necessárias para um mancebo de verdade.

Quanto durava um amor por cartas?

No mínimo uma correspondência amorosa suportava um inverno inteiro. Independentemente da distância e da eficiência do lombo dos burros postais dos cafundós do São Francisco ou da perdição dos cães tchecovianos e seus trenós mensageiros em busca da mais erma República gelada da saudosa ex-URSS.

Nos tempos que correm, enxotados e varridos pela angústia tecnológica, conhece-se uma gazela na madrugada da sala de sexo ou chat-cabeça, troca-se confidência no final do expediente da manhã - entre um memorando e outra na repartição -, o coração dispara na sessão da tarde, a safadeza desponta ao anoitecer, o sexo explode depois do jantar, o "teadoro do verbo teadorar" rola solto no primeiro canto do galo, a conexão cai, o amor desaba, ela pula para outra sala...

Algumas notícias, raras quais pés de cobras, dão conta de casamentos e felizes personagens de matérias de suplementos informárticos ou revistas de psicologia recreativa. No geral o que ocorre é o massacre de possibilidades amorosas. Avexa-se a história e tudo não passa da primeira noite de um homem e seus recalques, e suas mentiras, e seu fogo-fátuo.

O amor carece de cartas e paciência, Mr. Postman. A ansiedade masculina nasceu para viver no compasso slow-motion da espiada para o chega-não-chega do carteiro. Na velocidade do send, a ansiedade é assassina e mistificadora. A felicidade, como o amor dos tempos de Tchecov, sempre será manuscrita.

Lembram do velho prefixo de final de namoro de antigamente?

"Devolva minhas cartas."

"E minhas fotografias também."




A asma amorosa


Não há mais dúvidas: quanto mais beira o verossímil, com gritos lancinantes na noite, como assimilamos do cinema, mais fingido é o tal do orgasmo. Nunca é condizente com a nossa performance e suor. Os melhores e mais recompensadores orgasmos guardam o bom preceito da educação dos gemidos.

Por mais megalomaníaco que seja Vossa Senhoria, recomendo que não acredite naquelas algazarras, feiras amorosas, sacolões do sexo, capazes de fazer os vizinhos problemas dos mais graves. Deixará o casal que mora do outro lado da parede em pé de guerra, uma vez que a mulher, atenta à lição do gozo comparado, vai exigir muito mais, muito mais, mais e mais, e mais um pouquinho ainda, do seu colega de prédio ou de rua. E o pior é que os gritos lancinantes só costumam ocorrer quando o gozo não passa de teatro, puro teatro, como canta a deusa La Lupe.

O gozo desesperado costuma ter origens variadas (falar nisso, por que ninguém mais cita W. Reich, meu ídolo da lira dos vinte anos?!). O gozo desesperado, falava eu, costuma ser resultado de algum curso mais digerido de teatro amador, formação em escola jesuíta, leitura errada dos Actors Stúdio, dietas à base de alcachofra, audiências tardias das onomatopéias do Led Zepppelin ou falta de homem propriamente dita.

As melhores gazelas educam cedo os gemidos. Em vez de gritos que parecem mais apropriados para momentos de sequestro-relâmpago, a boa moça sussura e balbucia safadezas no cangote do amado.

As melhores não desesperam. Já imaginou Ava Gardner em desespero? Nem com Frank Sinatra, a quem enlouqueceu todos os sentidos. E não me venha dizer que isso seja frigidez, frescura ou algo da linha.

Uma coisa é a gritaria, quase um SOS, incêndio do Joelma ou sinistro urbano do gênero. Outra é a gemedeira gostosa, fungada sentida, fogo nas entranhas, calor na bacurinha, quase um decassílabo a cada descida, lirismo sem fôlego, asma do amor.


Trechos do Livro: “Modos de macho e modinhas de fêmea” do jornalista Xico Sá.

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